Quais são os benefícios da licença-paternidade estendida?
Com a Constituição prevendo um período de cinco dias de licença-paternidade, política estendida ainda é debatida no Brasil e prevê benefícios, como redução de turnover e retenção de talentos
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Giovana Oréfice
14 de outubro de 2024 - 6h00
Em fevereiro de 2022, Christiano Vellutini, diretor de criação da AKQA, saiu de licença-paternidade após o nascimento de sua primeira filha. A agência instaurou em 2021 uma política que contempla o período de seis meses para pais.
Conforme pesquisa realizada por Meio & Mensagem com oito agências, entre independentes e buscando uma representatividade entre as principais holdings que operam no País, apenas duas – entre elas a AKQA – contam com o benefício estendido em 180 dias.
Atualmente, a Constituição brasileira prevê apenas cinco dias para a licença-paternidade, a contar do primeiro dia útil após o nascimento do filho.
Das demais agências, duas seguem a licença de cinco dias, uma delas com possibilidade de 15 dias adicionais; outras duas têm licença de vinte dias, e mais outras duas com política de um mês.
“Cinco dias de licença paternidade para o pai é uma mensagem que a sociedade passa de que os pais não tem nada a ver com a situação”, declara Vellutini. “É um tempo necessário, e pensando na divisão de papeis, é uma das coisas mais importantes que existem. Pude vivenciar minha filha e fez total diferença no meu relacionamento com ela”, acrescenta.
No Brasil, uma licença estendida de 20 dias para pais que tenham ou adotem um filho é concedida às empresas que participam do programa Empresa Cidadã, e a concessão é feita apenas para aquelas que se enquadrem em condições específicas, como de regime tributário do lucro real. Para as mães, o período é equivalente a 180 dias.
De acordo com Mariane Guerra, vice-presidente de Recursos Humanos da ADP para a América Latina, essa é uma discussão que já vem ocorrendo há algum tempo. Em julho passado, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa aprovou um projeto que aumenta a duração da licença-paternidade gradualmente até 75 dias.
A profissional explica que, do ponto de vista familiar, os benefícios da licença estendida podem ser vistos tanto no curto, quanto no longo prazo. “Espera-se que esse tempo dedicado aos primeiros meses de vida do bebê fortaleça o relacionamento entre pais e filhos e melhore a dinâmica familiar, alivie a carga de trabalho das mães, melhore o relacionamento entre os parceiros, entre outros”, complementa.
A pesquisa Radar da Parentalidade, realizada pela consultoria Filhos no Currículo junto à Talenses Group e ao Movimento 360, indica que apenas 11% dos pais concordam com os cinco dias de licença que constam na Constituição. Ao mesmo tempo, 34% afirmam querer além de 21 dias, enquanto 26% gostariam de 120 dias ou mais. Ao todo, foram ouvidos em julho de 2024 profissionais que já tinham ou estavam à espera de filhos.
A Publicis Brasil foi uma das que adotou a licença-paternidade de 30 dias, mas nem sempre foi assim. O benefício estendido começou em algumas agências do grupo em 2021 e, um ano depois, se estendeu para as demais.
Para Camila Takamoto, diretora de recursos humanos do Publicis Groupe, esse é um diferencial levado em consideração na tomada de decisão por parte dos colaboradores, sendo um artifício para a atração e retenção de talentos. A mesma pesquisa da consultoria Filhos no Currículo indica que, para 70% dos homens, a política é decisiva para permanência ou busca de uma nova vaga.
Nas agências do Publicis Groupe no País, o benefício é comunicado na chegada de novos funcionários, durante a integração e onboarding, além de ser reforçado nas newsletters da agência. “Isso reforça a paternidade ativa, desconstruindo vieses e incentivando uma conscientização sobre a responsabilidade compartilhada nos cuidados com a criança no primeiro mês de vida”, afirma Camila.
Há, ainda, uma questão relacionada à cultura organizacional. O diretor de criação da AKQA declara que a licença de 6 meses concedida a ele faz parte de uma cultura que visa cuidar das pessoas e ter um olhar holístico em mudar a atual estrutura do mercado publicitário.
Ele cita também a importância de contar com lideranças mais humanas neste contexto. ”A licença parental é algo que a agência deve dar conta, seja de ficar sem a pessoa durante o período ou arcar com a parte financeira. Se a liderança realmente não acredita que isso tem seu valor, dificilmente a política acontece, pois são muitas forças contrárias”, comenta Vellutini.
Apenas conceder uma licença estendida não é o único indicador para medir o clima organizacional relacionado à temática. Vellutini exemplifica tanto a atenção à organização da companhia antes da saída, quanto o respeito ao período durante a licença.
Caso a licença-paternidade seja ampliada para 75 dias, adicionando-se eventualmente mais 30 dias de férias, a ausência por mais de 100 dias passará a ser uma realidade dos trabalhadores do gênero masculino também, ilustra a VP de recursos humanos da ADP.
“Isso definitivamente trará uma mudança cultural importante para organizações que têm uma abordagem menos igualitária”, alega. Além de ajudar a promover a igualdade de gênero, combater os estereótipos e contribuir para a redução do gap de remuneração entre gêneros, Mariana detalha os benefícios trazidos à empresa, como melhora no bem-estar dos colaboradores, redução do absenteísmo, aumento na produtividade e no engajamento, reduzindo, assim, o turnover.
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