O que a Nova Zelândia tem?
Diretor de arte mais premiado do mundo, brasileiro André Sallowicz fala sobre a experiência de trabalhar no país
Diretor de arte mais premiado do mundo, brasileiro André Sallowicz fala sobre a experiência de trabalhar no país
Bárbara Sacchitiello
18 de janeiro de 2017 - 8h45
No ranking Big Won, que lista os países e agências mais premiados no ano anterior – que foi divulgado na semana passada – um elemento diferente chamou a atenção. Depois de Estados Unidos e Reino Unido, dois dos maiores mercados criativos do planeta, o pódio das nações mais premiadas do mercado publicitário foi completado com a presença da Nova Zelândia.
Berço de dois dos cases mais premiados nos festivais internacionais de publicidade em 2016 – McWhopper (criada pela Y&R de Auckland para o Burger King) e Brewtrolleum (trabalho da Colenso BBDO para a Heineken), o país da Oceania passou a chamar a atenção da criatividade global pela criação de trabalhos ousados, com potencial de repercussão que vai além de seu território geográfico.
Todos os Grand Prix do Cannes Lions 2016
Além de figurar na terceira posição entre os países mais bem sucedidos em premiações internacionais, a Nova Zelândia também lidera o ranking das agências mais premiadas em 2016. Colenso BBDO e Y&R Auckland ocupam, respectivamente, a primeira e a segunda posição na lista das agências mais criativas do mundo. A brasileira AlmapBBDO, que levou o título de agência do ano da edição do ano passado do Cannes Lions, ocupa o quinto lugar.
Morador da Nova Zelândia há um ano, o publicitário brasileiro André Sallowicz é um dos representantes da atual safra criativa do país. Membro da equipe da Colenso BBDO, André participou de trabalhos que o levaram para o topo do ranking do Big Won, como o diretor de arte mais premiado do mundo em 2016.
O reconhecimento, no entanto, não veio apenas dos trabalhos desenvolvidos na Oceania. Quando ainda estava no Brasil, ocupando o posto de diretor de arte da AlmapBBDO, André assinou trabalhos que seriam, no ano seguinte, reconhecidos pelo júri do Cannes Lions, D&AD, Clio e outros importantes festivais. A força do case “Brewtroleum”, no entanto, alçou o nome do brasileiro a outro patamar. Apenas em Cannes, a campanha conquistou onze troféus, incluindo o Grand Prix de Outdoor e um Leão de Titanium. A ação também foi contemplada com um Grand Prix no New York Festival e conquistou o White Pencil e outros quatro troféus do D&AD. Relembre o case:
Em entrevista ao Meio & Mensagem, André conta sobre as particularidades do mercado publicitário da Nova Zelândia e fala sobre a responsabilidade de manter a excelência criativa da agência e do país em alta após um ano de prêmios e reconhecimento.
Mudança de país
“Depois de trabalhar por quase seis anos na AlmapBBDO, participei de um programa chamado Exchange, da própria rede BBDO, que propicia um intercâmbio entre profissionais de várias agências do grupo. Então, passei um mês na Colenso BBDO, em Auckland. Nessa época, acabei me envolvendo na criação do Brewtroleum, que estava sendo concebido pela equipe da agência. Passado esse mês, retornei ao Brasil, mas, devido ao sucesso que o case já começava a fazer por lá, fui convidado a me integrar a equipe da Nova Zelândia definitivamente. Então, depois de me organizar, mudei definitivamente para lá no início de 2016.”
Mercado neozelandês
“Embora seja um país pequeno em termos de população – são cerca de cinco milhões de habitantes – a Nova Zelândia possui um mercado publicitário muito bem consolidado. Todas as grandes redes globais de agências possuem escritórios aqui. Acredito que, pelo fato de boa parte dos clientes da Nova Zelândia não ter um orçamento muito grande para investimentos, eles se permitem ousar e experimentar mais. Os anunciante se dispõem a fazer uma criação diferente e, por isso, as agências têm espaço para construir outros tipos de trabalho. Mas não é de hoje que isso acontece. Há pelo menos cinco anos, as agências neozelandesas vem se destacando em termos de criatividade.”
Diferenças em relação ao Brasil
“Há dois fatores na Nova Zelândia que considero bem diferentes do mercado brasileiro e que, a meu ver, colaboram para a criatividade do trabalho final. O primeiro deles é a proximidade com os líderes dos anunciantes. A estrutura das empresas aqui tem uma hierarquia diferente, permitindo que fiquemos em contato diretamente com os líderes e pessoas que, de fato, tomam as decisões pela marca. Outro diferencial do mercado do país é a existência de estruturas de mídia fora da agência. Isso deixa a agência mais solta para criar trabalhos de diversos tipos, desde campanhas, ações, até mesmo novos produtos. Ao mesmo tempo, a agência de mídia também ganha liberdade para ser mais criativa, estruturando diferentes formatos para a veiculação daquela ideia”.
Pelo fato de boa parte dos clientes da Nova Zelândia não ter um orçamento muito grande para investimentos, eles se permitem ousar e experimentar mais. Os anunciante se dispõem a fazer uma criação diferente e, por isso, as agências têm espaço para construir outros tipos de trabalho.
País multicultural
“O mercado da Nova Zelândia recebe muitas pessoas de diversos países. Além dos próprios neozelandeses que trabalham nas agências, há muitos indianos, ingleses, australianos, argentinas. Essa diferença de culturas propicia o conhecimento de novos pensamentos e ideias, colaborando com os trabalhos de criação.”
O sucesso de Brewtroleum
“Acho que o sucesso do Brewtroleum está ligado ao fundamento principal da propaganda, que é o de ajudar uma marca a vender mais. Não é um case de caridade. Quando mostramos que a matéria-prima da produção de cerveja pode virar um combustível não-poluente e pedimos para que as pessoas tomem mais cerveja para salvar o mundo, estamos, na verdade, incentivando o consumo da marca. Esse é o princípio fundamental.”
Diretor de arte mais premiado do mundo
“Essa boa colocação se deve não apenas às premiações obtidas com os trabalhos da Colenso, mas também por ter participado de cases premiados da AlmapBBDO, como “Infinitas Possibilidades”, para Getty Images. Não é todo ano que temos a oportunidade de trabalhar com briefings tão bacanas e de poder realizar campanhas diferentes. Vivemos uma época maravilhosa para criar, com a tecnologia ao nosso lado permitindo a construção de coisas inusitadas. O papel do criativo, hoje, não é apenas criar campanhas, mas sim trazer soluções para o negócio de cliente. Isso pode tanto pela criação de um produto inovador, como de um comercial bacana ou até mesmo de um anúncio de revista.”
Carreira internacional
“Mais importante do que ter uma experiência fora do Brasil é encontrar um lugar bacana para se trabalhar. No Brasil há muitas agências boas, que permitem um aprendizado muito grande e que estão no nível das melhores do mundo. Morar fora é incrível, a experiência é ótima e vale muito a pena, mas somente se a oportunidade for bacana. Algumas pessoas vão trabalhar fora do Brasil e acabam se frustrando com o estilo das agências que encontram. Então, o mais importante de tudo é encontrar um lugar que permita a construção de boas experiências”.
O que esperar da Nova Zelândia?
“Podemos esperar mais um ano bom da Nova Zelândia em termos de cases. Estamos trabalhando em vários projetos que tem como princípio trazer inovação através de novos produtos e campanhas. Na Colenso, já estamos produzindo para anunciantes diferentes, além daqueles que já fazem parte de nosso portfólio, como Heineken, Pedigree e Samsung. ”
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