Funcionários buscam apoio e liderança não acompanha, aponta estudo
Estudo Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho avalia a percepção de líderes e liderados sobre seu bem-estar no trabalho
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Atualizada em 15/02/2023, às 15h53
A saúde mental no trabalho é uma questão atual, que vem sendo cada vez mais priorizada pelas empresas, uma vez que promover um ambiente saudável de trabalho traz benefícios tanto para os colaboradores quanto para a organização.
De olho nesse tema, a The School of Life, companhia focada no ensino da inteligência emocional, desenvolveu em parceria com a Robert Half, o estudo Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho.
O levantamento foi realizado de 2 a 26 de agosto com 800 profissionais, sendo 620 líderes e 180 liderados. Todos tinham mais de 25 anos.
Entre os principais achados está uma discrepância entre a percepção dos líderes e os demais membros das equipes.
Dos colaboradores entrevistados, 36% acreditam que uma das habilidades que mais tem faltado aos seus chefes nos últimos 12 meses é apoio. Ou seja, disponibilidade, escuta ativa e valorização do outro.
Na contramão, apenas 6% dos líderes citaram apoio entre as três habilidades que gostariam de desenvolver em si mesmos.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) define a saúde mental como um estado de bem-estar. Quando colocada no contexto do trabalho, se relaciona com a cultura oferecida pela organização.
Uma vez que boa parte do dia é dedicada ao trabalho, contar com um ambiente organizacional saudável nas empresas é fundamental para promover o bem-estar do colaborador.
Diante disso, a saúde mental no trabalho pode ser definida como o estado emocional em que o profissional se encontra e os impactos de fatores organizacionais.
Um ambiente acelerado, com sobrecarga de tarefas e sem motivação, por exemplo, pode gerar consequências para o colaborador, como o burnout, um dos principais transtornos mentais citados pelos profissionais nos últimos anos.
Conhecido também como Síndrome do Esgotamento Profissional, o burnout é causado pelo estresse e pelo cansaço físico e mental em decorrência das condições de trabalho.
O burnout é um exemplo das consequências trazidas pela falta de bem-estar no ambiente de trabalho, que reforça a importância de promover a saúde mental nas empresas.
A qualidade do ambiente organizacional pode impactar diretamente no estado psicológico dos colaboradores, bem como no seu desempenho profissional.
Transtornos mentais e síndromes como o burnout podem levar a queda na produtividade, ao absenteísmo – que é o alto índice de ausência dos trabalhadores – e até mesmo a demissões.
Segundo a pesquisa da The School of Life, 52% dos colaboradores afirmaram ter deixado de produzir ou engajar com o trabalho nos últimos 12 meses por estarem emocionalmente abalados
.
Além dos impactos negativos na saúde mental e física do profissional, isso prejudica também o funcionamento das atividades internas e a imagem da empresa no mercado.
Questionados, 57% dos liderados e 67% dos líderes afirmaram trabalhar, atualmente, com uma pessoa emocionalmente desafiadora, com perfil manipulador, humor instável ou algum nível de agressividade.
Em outras experiências, 45% dos líderes e 44% já pediram demissão por conta do mau relacionamento com um chefe ou colega de trabalho.
Entre os fatores mais importantes no ambiente de trabalho, o campeão foi o salário (76% liderados e 61% líderes. Mas, na segunda posição, aparece um ambiente que apoia e acolhe seus colaboradores (66% liderados e 70% líderes).
A pesquisa realizada pela The School of Life com a Robert Half apontou outras habilidades que os colaboradores indicaram faltar nos líderes nos últimos meses e que devem ser observadas pelas organizações.
Depois de apoio, aparecem valores como comunicação (26%), capacidade de decidir (17%), empatia (14%), objetividade – avaliação de algo ou alguém sem viés preconceituoso (14%), e liderança (13%).
Para as lideranças, as principais habilidades que gostariam de desenvolver em si incluem:
– espírito empreendedor: 23%;
– empatia: 23%;
– calma: 21%;
– espírito inovador: 20%;
– autoconhecimento: 19%;
– diplomacia: 18%.
Nos últimos dois anos, 6% dos líderes e 3% dos liderados relataram terem sido diagnosticados com burnout, síndrome causada por condições de trabalho desgastantes.
Para os especialistas da The School of Life, esse número ainda pode estar mascarado pela falta de diagnóstico.
Entre os que não sofreram com a síndrome, 19% dos liderados e 18% dos gestores conhecem um colega de trabalho que teve burnout.
Para entender como as empresas estão lidando com a saúde mental no trabalho, a pesquisa também buscou saber as ações para combater questões como o burnout.
Segundo os profissionais, as principais medidas adotadas pelas empresas para conter esse cenário foram o estímulo ao cumprimento do expediente com respeito a pausas e desconexão, oferta de consultas com psicólogos e psiquiatras, quando necessário, e ações de conscientização.
Apesar disso, na pesquisa, 34% dos liderados e 36% dos líderes afirmaram que nas companhias em que trabalham não existem iniciativas relacionadas à prevenção do burnout.
De acordo com dados da Robert Half, entre julho de 2021 e julho de 2022, 19% dos funcionários fora de cargos de liderança mudaram de emprego ou pediram demissão a fim de melhorar sua qualidade de vida e bem-estar emocional.
A pandemia e a saúde mental impulsionaram mudanças nos modelos de trabalho e no comportamento corporativo, e esse movimento também trouxe novos desafios para as organizações.
Outros dados levantados pela pesquisa sobre inteligência emocional e saúde mental no trabalho revelam os principais desafios da rotina profissional que podem afetar o psicológico.
Mais uma vez, as percepções de líderes e colaboradores foi diferente.
Para 46% das lideranças, o maior desafio no dia a dia em relação aos liderados é a comunicação. Em seguida, aparecem questões como o autogerenciamento (43%) e a motivação (41%).
Já para os colaboradores, a maior dificuldade em relação às tarefas corporativas é a motivação, resposta escolhida por 31% dos entrevistados.
Na sequência, os profissionais elencaram a conexão com os colegas e/ou empresa (18%), seguida pelo autogerenciamento (14%). Apenas 7% apontaram a comunicação como um desafio corporativo.
Para entender o que prejudica a saúde mental do trabalhador, é importante identificar que existem fatores externos e internos à organização envolvidos na equação.
Em alguns casos, problemas pessoais podem afetar o bem-estar do profissional, mas muitas vezes o ambiente de trabalho, as relações e a cultura organizacional podem gerar estresse, ansiedade e outros impactos mentais.
Independente da causa, a empresa deve estar atenta às fontes causadoras desses transtornos e buscar soluções para promover condições de trabalho saudáveis.
Confira os principais fatores que afetam a saúde mental no trabalho, considerando questões internas da empresa.
A comunicação foi apontada como um dos principais desafios corporativos na pesquisa da The School of Life e é um fator com impacto direto na saúde mental no trabalho.
Por isso, as falhas de comunicação entre gestores e colaboradores ou entre profissionais e seus colegas de trabalho são fatores que podem afetar o bem-estar no ambiente organizacional.
Líderes que exercem uma comunicação agressiva, sem escuta ativa e feedbacks construtivos, por exemplo, podem gerar gatilhos para o colaborador, desencadeando problemas como estresse e ansiedade.
A busca por um ambiente de trabalho que apoia e acolhe, revelada pelo estudo, é um indicativo da importância de uma comunicação não violenta e humanizada.
Os efeitos prejudiciais para a saúde mental também podem surgir quando a jornada de trabalho é inflexível e o colaborador não consegue equilibrar a vida profissional com a pessoal.
A falta de autonomia na programação das tarefas diárias de trabalho muitas vezes torna difícil para os colaboradores atenderem a outras necessidades de sua vida, como cuidado com os filhos, autocuidado e questões pessoais.
Não ter o suficiente desses elementos na rotina pode fazer com que o profissional se sinta sobrecarregado, ansioso e estressado, o que tem impacto na produtividade e na motivação.
Relacionado ao item anterior, a sobrecarga de trabalho é uma das principais consequências do excesso de horas trabalhadas, além de ser uma das causas para o burnout.
Isso porque a sobrecarga leva ao esgotamento físico, mental e emocional, sintomas que desencadeiam a síndrome em casos mais graves.
Além dos efeitos negativos sobre o estado de saúde mental, isso pode fazer com que as demandas pessoais recebam menos atenção, o que significa que relacionamentos, momentos de lazer e tempo de recuperação podem ficar em segundo plano.
A falta de reconhecimento profissional também pode influenciar no bem-estar dos colaboradores, desenvolvendo problemas de autoconfiança, autoestima e ansiedade, por exemplo.
Dentre os motivos que levam um profissional a se sentir desvalorizado, os principais são:
– cobranças excessivas;
– ausência de feedbacks positivos;
– inexistência de uma abertura para o diálogo;
– salário muito abaixo do mercado ou estagnado;
– falta de investimento no desenvolvimento profissional.
Essas atitudes podem criar um ambiente de trabalho hostil, bem como desmotivar o colaborador, reduzindo sua produtividade e engajamento com a empresa.
Outras ações, como estabelecer metas inalcançáveis, também podem ser motivos de frustração para a equipe, gerando desmotivação.
A saúde mental no trabalho depende da qualidade de vida dos colaboradores, portanto sem uma política de segurança e bem-estar, os profissionais podem sentir impactos negativos.
A falta de políticas de segurança, especialmente para profissões expostas a condições perigosas ou insalubres, pode ter um impacto físico e, consequentemente, mental.
Isso porque, ao serem expostos a situações de risco, os trabalhadores podem não sentir segurança para realizar suas atividades diárias.
A insegurança no emprego pode ser causada por uma variedade de fatores, como salário flutuante ou a falta de estabilidade devido a demissões, licenças ou outras mudanças repentinas no mercado.
Durante a pandemia, por exemplo, o cenário do mercado de trabalho ficou incerto e levantou inseguranças tanto para as empresas quanto para os profissionais.
Muitas organizações reduziram a jornada de trabalho, demitiram funcionários e algumas até precisaram fechar. Essa situação de incertezas gera medo, uma vez que o emprego é a fonte de renda para as famílias.
Como consequência, foi possível observar um contexto prejudicial da saúde mental no trabalho, com quadros de estresse, ansiedade e depressão, de acordo com dados da OMS.
Segundo a organização, os casos de ansiedade e depressão aumentaram em 25% a nível global.
Sem uma oportunidade de expressar opinião, compartilhar novas ideias ou ter controle sobre seu trabalho, um funcionário pode começar a se sentir desvalorizado.
Com o crescimento dos modelos de trabalho home office e híbrido, os métodos para promover autonomia e integração entre os colaboradores também aumentaram.
Essas são algumas ações que podem contribuir para a construção de um ambiente de trabalho positivo e incentivar o engajamento da equipe.
Sem o controle próximo dos gestores, o autogerenciamento passou a ser uma prática comum, mas ainda é vista como um desafio, como mostrou a pesquisa da The School of Life.
A saúde mental deve ser priorizada no local de trabalho, não apenas para o bem-estar dos colaboradores, mas também para o sucesso da organização.
As empresas podem colher uma série de benefícios ao criar um ambiente que encoraje e apoie a saúde mental. Dentre esses benefícios, podemos citar:
– equipe mais engajada;
– criatividade aprimorada;
– aumento de produtividade;
– níveis reduzidos de estresse;
– ambiente de trabalho seguro e saudável;
– redução dos índices de absenteísmo e turnover;
– melhora no desempenho e na conquista de resultados.
Além disso, ao promover a saúde mental no trabalho, a empresa também fortalece seu employer branding, construindo uma imagem sólida e confiável no mercado.
Para os colaboradores, um ambiente de trabalho mais saudável melhora a interação com os colegas e tende a promover uma cultura mais colaborativa.
Como consequência dessa cultura mais saudável e equilibrada, o estigma associado às conversas sobre saúde mental também é reduzido, o que pode ajudar a prevenir diversas questões psicológicas, como o esgotamento e o estresse.
Investir em bons cuidados com a saúde mental no trabalho é um passo importante para proporcionar um ambiente organizacional seguro e saudável para todos.
Para isso, algumas ações que podem ser implementadas pelas organizações são voltadas para a comunicação, a segurança e ao incentivo do autocuidado.
Confira quais medidas podem ser adotadas pelas empresas a seguir.
A comunicação é ponto chave para identificar dificuldades, necessidades e promover o acolhimento. Para isso, é essencial trabalhar a empatia e as trocas saudáveis, mais humanizadas e não violentas.
Outro ponto importante na gestão de pessoas é construir uma cultura aberta aos feedbacks e aos erros, evitando assim frustrações por parte dos colaboradores.
Trabalhar a escuta ativa também é uma maneira de promover uma gestão mais empática e humanizada.
A cultura organizacional é o conjunto de hábitos e valores compartilhados pela empresa, refletidos no dia a dia dos colaboradores. Portanto, deve estar alinhada ao comprometimento com o bem-estar dos profissionais.
Reavaliar a cultura e ajustar ao momento atual da organização, com foco na promoção da saúde mental no trabalho, é a primeira etapa para fortalecê-la.
A empresa deve ser clara sobre esses princípios e alinhá-los com toda a equipe.
Estimular o diálogo entre gestores e equipes pode ser a porta para identificar casos de esgotamento, estresse, ansiedade e outros transtornos mentais.
Abrir espaço para a troca é uma forma de desenvolver um ambiente mais colaborativo e evitar inseguranças por parte dos colaboradores, como medo de se posicionar, compartilhar dificuldades ou indicar sugestões de melhoria para a cultura organizacional.
A instabilidade na vida profissional pode gerar efeitos psicológicos no colaborador, destacando a necessidade de maior segurança financeira e recursos de saúde mental no trabalho.
Por isso, é importante que as empresas revisem e atualizem as normas de segurança e de saúde sempre que necessário, adaptando os pontos de acordo com as demandas dos profissionais para promover um espaço cada vez mais saudável.
Após a pandemia, muitas agências adotaram a flexibilização como uma regra para tornar a rotina de trabalho mais leve e promover uma cultura organizacional saudável.
Neste contexto, a jornada de trabalho flexível e o modelo híbrido ganharam destaque. Essa é uma forma de proporcionar tempo para que o colaborador possa desenvolver atividades fora do ambiente de trabalho.
Implementar medidas voltadas para a saúde mental dos colaboradores é fundamental, e os benefícios são uma maneira de incentivar esse cuidado.
Oferecer tempo para que o colaborador possa cuidar da saúde mental, por exemplo, pode ser um benefício interessante.
Dentro da organização, é possível desenvolver atividades como alongamento, meditação e aulas de yoga para relaxar são algumas alternativas.
Além disso, outras opções são a oferta de plano de saúde e acesso a programas de assistência psicológica dentro ou fora da empresa, assim como campanhas internas sobre a saúde mental no trabalho.
As empresas que reconhecem e se concentram na saúde mental de seus colaboradores provavelmente verão uma melhora no moral, na criatividade, na produtividade e nas relações entre colegas.
Uma cultura de aceitação e apoio à saúde mental no trabalho não apenas beneficia as pessoas dentro da organização, mas também pode ter um impacto significativo no sucesso da marca.
Por isso, a criação de um ambiente de trabalho saudável tem se tornado cada vez mais uma prioridade para as empresas.
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