Pegadas de carbono: como a tecnologia pode apagar impactos climáticos
Renan Kruger, da Moss, aborda a importância de climatechs eo emprego de blockchain na neutralização da emissão de CO2
Pegadas de carbono: como a tecnologia pode apagar impactos climáticos
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Giovana Oréfice
28 de setembro de 2022 - 6h03
Um dos vilões do efeito estufa, o CO2 é um dos principais pontos de combate de corporações. Como faz parte da agenda de governança ambiental, social e corporativa (ESG), empresas têm apostado em parcerias para recorrer a ferramentas e recursos que auxiliem na neutralização da emissão de gases tóxicos na atmosfera e, assim, diminuir a pegada de carbono deixada por suas atividades. É nesse momento que climatechs, startups que têm a tecnologia como core para combater impactos climáticos e derivados, entram em ação.
Uma delas é a Moss, climatech brasileira especializada em soluções ambientais em tecnologia blockchain. A startup foi criada em 2020 e, em julho deste ano, anunciou o aporte Série A de US$ 10 milhões. Ao Meio & Mensagem, Renan Kruger, CTO da Moss, aponta os caminhos para a aplicação de diversos tipos de recursos tecnologicos e a importância de negócios do tipo para democratizar o acesso a ferramentas de reversão de mudanças climáticas:
Meio & Mensagem – Como você descreveria uma climatech e qual é o campo de atuação da Moss?
Renan Kruger – Têm surgido movimentos que, lá fora, chamamos de economia regenerativa, que é encontrar meios de fazer o crescimento econômico, social e ambiental ao mesmo tempo. Basicamente, usar a sustentabilidade para fazer as soluções no futuro. Como estamos posicionados no Brasil, que tem potenciais gigantescos dado a Amazônia, por exemplo, que representa de 40% a 50% das florestas e 40% do carbono. A Moss se propõe a criar soluções com tecnologia e transparência. No caso, uma das principais soluções que usamos é blockchain, para gerar incentivos para essa economia. Criamos e democratizamos o acesso ao crédito de carbono para pessoas e empresas que queiram compensar suas emissões através de token. Damos incentivo ao ciclo econômico que vai encorajar que a floresta esteja mantida na Amazônia através do envio de recursos para esses projetos.
M&M – A Moss adota a tecnologia de blockchain. De alguma maneira, isso pode vir a se tornar tendência no Brasil, sobretudo no que diz respeito à diminuição das emissões de carbono?
Kruger – Vejo um movimento global acontecendo, não só no Brasil. Existem várias empresas usando blockchain. A maioria dos ativos com os quais nos relacionamos são convenções sociais ou governamentais. O Real, por exemplo, é uma convenção social e governamental que diz que podemos pagar as contas no final do mês, pagar os aluguéis, comprar comida. O crédito de carbono não tem um órgão central. Existem dois mercados: o regulado e o voluntário. O voluntário em que a Moss se encontra é autorregulado. Para o ativo, que é uma convenção social (como o crédito de carbono), a blockchain dá tangibilidade para um produto que é totalmente intangível, é commodity, ação em determinado período do tempo que mitigou, evitou ou removeu uma tonelada de gases de efeito estufa da atmosfera. Com isso, traz também segurança e transparência, porque, uma vez certificado, significa que não pode ser duplicado e que tem transparência nas transações. Tudo isso fica disponível e interoperável de maneira global.
M&M – Como a tecnologia e os dados auxiliam as iniciativas referentes a questões climáticas?
Kruger – Dentro deste espaço de economia regenerativa, vejo duas grandes coisas. Primeiro, o blockchain pela segurança e transparência. A outra é a questão de MRV (monitoring, reporting and verification), que é como me certifico que um projeto está tendo impacto realmente positivo ao longo de trinta anos. Nisso, entram os satélites, as capturas de dados através de Google Earth, todos os trabalhos de mapbiomas e Force Fisk, por exemplo, que prevê a perda de florestas no futuro. Há uma gama de tecnologias geoespaciais que são usadas para avaliar as áreas dos projetos e dar segurança a isso. A junção de MRV mais blockchain dá segurança em relação ao crédito que está sendo gerado.
M&M – De que maneira as ações podem ser direcionadas não só a empresas, mas também a pessoas físicas?
Kruger – As pessoas físicas têm papel importante e os millennialls vem com cabeça completamente diferente das outras gerações, muito mais preocupados com isso. Acreditamos que vamos prover APIs para o mercado e as pessoas poderão comprar um hamburger e, por mais R$ 1, compensar a emissão do lanche em específico. Terão a possibilidade de fazer pequenos envios ao longo do seu dia para projetos de conservação que ajudem nessa questão da economia regenerativa. O mesmo pode ser feito ao comprar um voo da Gol, por exemplo, ou café. Acredito muito na consciência ambiental na hora do consumo, que é mais fácil do que esperar um ano e assim calcular toda a minha pegada anual para compensá-la. Isso será feito através de tecnologia com APIs integradas em bancos, em cartões e em áreas de frete e de transporte, como a Gol faz.
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