Como desenvolver uma agenda ESG?
Dificuldade de lidar com processos multidisciplinares e busca por resultados imediatos fazem parte dos erros mais comuns entre as empresas que querem estruturar a atuação
Dificuldade de lidar com processos multidisciplinares e busca por resultados imediatos fazem parte dos erros mais comuns entre as empresas que querem estruturar a atuação
Taís Farias
14 de dezembro de 2023 - 7h06
No mês passado, a consultoria organizacional Korn Ferry divulgou um levantamento realizado com 652 empresas da América do Sul, sendo 265 do Brasil. No estudo, 67% das brasileiras afirmaram já ter aderido a práticas ESG. A contradição, no entanto, ficou com o dados de 54% ainda não tem metas estabelecidas.
O estudo ajuda a materializar uma realidade entre as companhias quando o assunto é ESG. Apesar de terem crescido as discussões e a conscientização do público sobre a necessidade de uma cultura que contemple ações de governança, sustentabilidade e sociais, muitas empresas ainda não sabem colocar essas mudanças em prática. Afinal, como desenvolver uma agenda ESG?
Para Marcus Nakagawa, publicitário, empreendedor social e professor da ESPM, qualquer iniciativa precisa começar com uma conscientização real da liderança. “O primeiro ponto é a empresa, por meio dos seus líderes, querer adotar uma agenda transversal ESG”, afirma. Ele destaca que é preciso entender essa iniciativa não como ações pontuais, mas de fato uma mudança de cultura contínua.
A partir disso, é possível designar um time ou comitê que uma vários departamentos e será o responsável por analisar o estágio atual da companhia. “Uma maneira simples de se iniciar é fazendo uma análise de qual seria o seu propósito e quais ODS poderiam ser adotadas”, explica Fabricio Stocker, pesquisador, consultor e professor da FGV Ebape.
ODS são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) como parte da Agenda 2030. Segundo os professores, outros indicadores podem ajudar a guiar essa busca como GRI e Ethos.
Os indicadores serão a base para que a empresa comece a vasculhar e diagnosticar as iniciativas que já estão em curso. Assim como mensurar seus impactos positivos e negativos no meio ambiente e na comunidade. “Com esse diagnostico bem desenhado, é preciso colocar a estratégia ESG dentro do seu negócio”, aponta Nakagawa. Ou seja, entender que pontos de desenvolvimento sustentável mais e melhor se relacionam com o core da companhia.
Porém, se engana quem pensa que esse é um processo individual. O estabelecimento de uma agenda ESG envolve a consulta aos stakeholders (fornecedores, comunidade, ONGs, etc), para criar uma matriz de materialidade.
“Quais os temas que meus stakeholers consideram como relevantes? Qual a expectativa da sociedade frente ao meu negócio?”, cita Stocker como questões essenciais nesse processo.
Com essa análise alinhada, é o momento de criar processos, procedimentos e projetos que atendam as necessidades identificadas. Um ponto central é o estabelecimento de metas e indicadores em cada uma das categorias para haja uma avaliação constante. “Uma visão mais estratégica e instrumental de como colocar isso em pé. Um plano de ação com metas e indicadores”, descreve o professor da FGV Ebape.
Um desafio comum entre as empresas durante a implementação de uma agenda ESG seria a dificuldade de liderar processos que envolvem diferentes departamentos e atores, assim como uma busca por resultados imediatos. “A liderança precisa estar muito afinada defendendo esses temas”, defende Nakagawa.
Outro deslize comum estaria no âmbito da comunicação e os numerosos casos de ESG washing, termo usado para descrever a prática de adotar ações em sustentabilidade, social e governança superficiais apenas para melhorar sua imagem pública.
Nesse sentido, o professor da ESPM explica que a comunicação pode, sim, ser feita em qualquer estágio de desenvolvimento desde que com clareza. “A comunicação precisa ser muito verdadeira. Em um relatório GRI, as empresas precisam apresentar os pontos positivos e negativos”, afirma citando os padrões de divulgação e relatórios já estabelecidos para esse fim.
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