DeepSeek: como é e o que faz a empresa que abalou o cenário de IA
Startup chinesa fundada em 2023 ganhou os holofotes globais ao propor modelo de alta performance de linguagem de IA com custo bem mais baixo
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Bárbara Sacchitiello
29 de janeiro de 2025 - 11h58
DeepSeek. O nome da empresa chinesa especializada em inteligência artificial (IA) era pouco conhecido há alguns dias. Nessa segunda-feira, 27, no entanto, a companhia ganhou as manchetes internacionais ao abalar as estruturas do cenário global de tecnologia.
A ascensão da DeepSeek, na verdade, começou há cerca de um mês, quando a companhia publicou um artigo informando que havia desenvolvido seu modelo mais recente de treinamento de inteligência artificial, o DeepSeek-V3, em um investimento abaixo de US$ 6 milhões.
O aplicativo da companhia, que foi apresentado com funções similares as do ChatGPT, foi lançado neste mês e alcançou, nos Estados Unidos, o posto de app mais baixado da App Store. O sucesso reverberou, repetindo a liderança na loja de aplicativos da Apple em outros países, incluindo o Brasil.
As avaliações dos usuários e, principalmente, de executivos do Vale do Silício acerca da funcionalidade e modelos de IA da plataforma da DeepSeek levam a indústria global de tecnologia a encarar uma surpresa: aparentemente, a startup chinesa teria alcançado um nível tecnológico e de entrega de inteligência artificial tão ou mais elevado do que gigantes do segmento, porém, com um custo muito menor.
Enquanto a Meta, por exemplo, anunciou no último fim de semana um plano de investimentos de US$ 65 bilhões em projetos de IA somente neste ano e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou ao mundo o plano da Stargate, união de empresas de tecnologia que devem injetar, ao todo, meio trilhão de dólares no desenvolvimento de inteligência artificial, a DeepSeek, de repente, apresentou ao mercado e ao mundo possibilidades de uso da tecnologia de forma mais barata e escalável.
Criada em 2023, a DeepSeek é uma empresa que surgiu a partir do fundo de investimentos High-Flyer, de propriedade do empresário chinês Liang Wenfeng.
O Financial Times traçou um perfil do novo expoente da IA, explicando que Wenfeng voltou suas atenções e investimentos para a tecnologia em 2021, quando começou a comprar milhares de processadores de jogos da Nvidia para treinar seus próprios modelos de inteligência artificial.
O empresário deu continuidade ao seu projeto e fundou a startup, com a proposta de fomentar o uso e a acessibilidade da tecnologia.
E foi a partir dos testes com os chips da Nvidia que Liang Wenfeng teria conseguido desenvolver um modelo próprio de IA, com resultados considerados por especialistas do Vale do Silício como melhores, em termos de desempenho, do que a versão mais recente do ChatGPT, da gigante OpenAI.
Em entrevista à TV estatal CCTV, da China, o fundador da DeepSeek disse que não pretendia que seu sistema se destacasse pelo custo inferior, em comparação aos demais. “Não esperávamos que o preço fosse uma questão tão sensível. Estávamos simplesmente seguindo nosso próprio ritmo, calculando custos e definindo preços de acordo”, declarou.
Na mesma entrevista, Wenfeng disse que o princípio da startup não é vender com prejuízo nem buscar lucros excessivos. “Capturar usuários não era nosso objetivo principal. Reduzimos os preços porque, primeiro, ao explorar estruturas de modelos de próxima geração, nossos custos diminuíram; segundo, acreditamos que os serviços de IA e API devem ser acessíveis e baratos para todos.”
Diferentemente do ChatGPT, o modelo do o DeepSeek-V3 é aberto. Ou seja, desenvolvedores externos podem baixar o aplicativo e fazer testes e alterações em seu código-fonte, criando novas formas de utilização.
A avassaladora notícia da possibilidade de um chatbot de IA mais barato e com qualidade nivelada a do ChatGPT causou impactos não apenas no universo dos debates em torno da tecnologia.
Na segunda-feira, 27, a Nvidia encerrou o dia com perda de US$ 600 bilhões em valor de mercado em meio às notícias do recorde de downloads do aplicativo da DeepSeek.
Especializada no desenvolvimento de processadores e chips, a Nvidia ganhou os holofotes mundiais no ano passado, quando passou a incrementar seus processadores com soluções de inteligência artificial. A empresa funciona como uma espécie de caixa de ferramentas de IA, permitindo o desenvolvimento de soluções e aplicações a partir da necessidade de cada empresa.
Essa capacidade de produção fez com que a Nvidia disputasse diretamente o posto de empresa mais valiosa do mundo, junto de Apple e Microsoft, com valor de mercado superando os US$ 3 trilhões.
Agora, a companhia, bem como outras gigantes como Microsoft, OpenAI e Apple, assistem à ascensão da nova competidora do segmento. De acordo com cálculos feitos pelo Financial Times em parceria com a Bloomberg, as empresas de tecnologia teriam perdido, juntas, cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado até essa terça-feira, 28.
A popularização da DeepSeek já começa, inclusive, a mexer com as estratégias das demais líderes de IA. Sam Altman, CEO da OpenAi, fez elogios ao novo modelo de inteligência artificial chinês. Em seu perfil no X (antigo Twitter), escreveu que o “DeepSeek R1 é um modelo impressionante, principalmente em relação ao que eles conseguem entregar pelo preço”.
Apesar de elogiar a concorrência e dizer que é bom ter competidores no setor, Altman deu a entender que está pronto para contra-atacar. “Obviamente, entregaremos modelos muito melhores, e também é legítimo e revigorante termos um novo concorrente! Faremos alguns lançamentos”, prometeu.
Porém, um tempo depois, a postura da OpenAI em relação à concorrente começou a mudar. De acordo com reportagem do Financial Times desta quarta-feira, 29, a OpenAi afirma ter encontrado evidências de que a DeepSeek usou seus modelos para treinar os programas de código aberto.
Segundo a reportagem, a criadora do ChatGPT afirma que viu na DeepSeek as mesmas técnicas de destilação utilizada em seus treinamentos de modelos de IA. O objetivo seria obter melhor desempenho nas atividades utilizando saídas de modelos menores. A reportagem do Financial Times procurou a DeepSeek para obter um posicionamento em relação à alegação da OpenAI, mas a companhia não respondeu.
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