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Como blocos Lego têm reconstruído dinâmicas corporativas

A metodologia Lego Serious Play complementa métodos ágeis e vem sendo adotada por empresas brasileiras como O Boticário e Brasken


3 de janeiro de 2019 - 7h00

No Brasil, há cerca de 55 facilitadores certificados para aplicar a metodologia Serious Play Foto: Divulgação

Em meados dos anos 1990, a Lego passava por uma crise de negócios motivada pela difusão de videogames e brinquedos eletrônicos. Durante aquele período, a empresa começou a focar fortemente em produtos voltados para educação. Um dos projetos resultantes desse novo olhar sobre os produtos foi a metodologia Lego Serious Play (LSP).

O modelo inicial foi desenvolvido em 2001 por Johan Ross e Bart Victor, professores da IMD Business School em Lausanne, na Suíça, e Robert Rasmussen, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Lego Education. Baseado em uma série de estudos de psicologia e aprendizado, o projeto tinha a proposta de aplicar os conhecimentos obtidos com crianças no processo de desenvolvimento de adultos.

A metodologia seria usada inicialmente apenas entre os funcionários da Lego, mas acabou sendo abraçada pelo mundo corporativo, como uma alternativa para incrementar processos de recrutamento, resolução de problemas e planejamento estratégico. Utilizada por empresas como Nasa, Coca-Cola, Disney e Google, a metodologia foi trazida oficialmente ao Brasil em 2013 pela empresa de metodologias corporativas Play in Company. Mirian Fávaro, sócia-diretora da empresa, afirma que o LSP se beneficiou da popularização da gamificação nos processos corporativos.

Treinamento da Play in Company, primeira empresa a trazer a metodologia Serious Play ao Brasil. Foto: Divulgação

Uma pesquisa de 2018 da consultoria americana de RH Talent LMS, com 400 profissionais, apontou, por exemplo, que mais de 80%  dos profissionais sentem-se mais engajados e produtivos ao utilizar metodologias que envolvam algum nível de gamificação. Outro estudo, de 2017, realizado pela consultoria Kahoot!, mostrou que a gamificação em treinamentos corporativos ajuda a melhorar a retenção de conhecimento por parte dos colaboradores de uma empresa.

“Por se tratar de uma ferramenta aberta e lúdica, o Lego Serious Play permite a empresas quebrar uma série de barreiras culturais, educacionais, sociais e hierárquicas. É um tipo de interação completamente diferente do usual, que estimula a escuta ativa, o alinhamento de visões e o compartilhamento de insights entre os times”, conta Mirian. A Play in Company já levou a ferramenta para empresas como a Claro e Grupo Boticário. No Brasil, há cerca de 55 facilitadores certificados para aplicar a metodologia.

As aplicações do LSP vão desde treinamentos de times e processos de recrutamento até a facilitação do planejamento de projetos. Isto porque o modelo permite trabalhar feedbacks, definição de papéis corporativos e estratégias complexas em um ambiente controlado.

“As peças e cenários são metáforas para a identidade organizacional de cada indivíduo dentro da empresa. Elas ajudam a narrar a vivência e representam um pensamento através de um objeto tridimensional”, afirma Sérgio Guerra, CEO da SG Aprendizagem Corporativa, outra empresa que aplica a metodologia no Brasil. A empresa já realizou pelo menos 300 workshops com a metodologia, já tendo atendido a clientes como EPTV, Bradesco, Brasken e Sony.

Através das peças de Lego, empresas conseguem tangibilizar conceitos abstratos e materializar sistemas corporativos. “É possível trabalhar a relação entre diferentes áreas, processos e segmentos de mercado. A metodologia também é muito boa para estimular o desenvolvimento de soft skills de forma geral, como liderança e pensamento criativo”, acrescenta Mirian.

Treinamento da Play in Company para a empresa de abrasivos Saint Gobain. Foto: Divulgação

Metodologias ágeis combinadas
Na era das metodologias ágeis, como scrum e lean, a sócia-diretora da Play in Company afirma que o LSP tem servido como um método complementar de fomento à inovação. “Estas metodologias se conversam o tempo todo”, diz ela.

Se executivos antes viam metodologias lúdicas com um certo ceticismo, a popularização de metodologias dinâmicas para construção de UX e projetos de inovação tem feito com que empresas olhem o Lego Serious Play com mais consideração.

“Sempre há alguns lugares onde as pessoas acham que é só uma brincadeira, mas as empresas têm percebido o valor do processo. Algumas organizações, principalmente multinacionais, naturalmente buscam ferramentas ágeis e gamificação, mas pequenas e médias empresas também estão entrando nessa onda”, explica Mirian.

Para Sérgio Guerra, da SG Aprendizagem Corporativa, a metodologia pode servir como um pontapé inicial para empresas que estão começando a pensar em estratégias de inovação. “Vivemos uma época que demanda mais dos desenhos, das construções coletivas, da imaginação, e muitas empresas não sabem por onde começar. O que percebo cada vez mais é o desejo de que uma cultura de inovação seja efetivamente implementada”, finaliza Sérgio.

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