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Natura e Boticário repudiam manifesto sobre meio ambiente

Mensagem de associações empresariais em apoio às orientações do atual ministro do meio ambiente foi assinada unilateralmente pela Abihpec, que voltou atrás na decisão


29 de maio de 2020 - 13h29

Há décadas, Natura defende o valor da “floresta em pé” (Crédito: Reprodução)

Na última 3ª-feira, 26, os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo publicaram um manifesto de uma página, assinado por diversas entidades, incluindo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Com o título “No meio ambiente, a burocracia também devasta”, a peça inicialmente dizia que as entidades reafirmavam seu compromisso com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, mas seguia com o seguinte texto: “Condenamos também a agenda burocrática que utiliza a bandeira ambiental como instrumento para o travamento ideológico e irrazoável de atividades econômicas cumpridoras das leis e essenciais ao desenvolvimento do país. Tal agenda afasta investimentos e subtrai empregos, gerando pobreza, em vez de respeito ao meio ambiente. As ações do Ministério do Meio Ambiente na defesa da legislação e dos interesses ambientais com sensibilidade ao desenvolvimento do país de forma sustentável e legítima contam com o nosso total apoio”.

O “informe publicitário” foi publicado poucos dias após virem à tona as declarações do ministro da pasta, Ricardo Salles, durante a reunião ministerial de 22 de abril, de que era preciso aproveitar a concentração da imprensa no tema Covid-19 para “ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”.

O manifesto provocou reações de entidades ligadas ao meio ambiente e, na internet, de consumidores de produtos de higiene e beleza atentos à representatividade da Abihpec. As duas maiores companhias brasileiras de produtos de higiene e beleza – Natura e Grupo Boticário – que têm trabalhado, inclusive em sua comunicação, uma agenda de sustentabilidade e proteção ao meio ambiente, disseram não ter sido consultadas sobre a publicação e se manifestaram.

A primeira com esta mensagem: “Avon e Natura, integrantes do Conselho da Abihpec, não aprovaram e não foram consultadas sobre o anúncio assinado pela entidade. Manifestamos à Abihpec o nosso repúdio a essa declaração de apoio, considerando a urgência no respeito à legislação e no reforço dos instrumentos de fiscalização ambiental diante dos índices tão alarmantes de desmatamento no Brasil.”

Grupo Boticário: “Não apoiamos a posição das associações que assinaram o manifesto sobre o meio ambiente” (Crédito: Reprodução)

Já o Grupo Boticário, cuja Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, completa três décadas em 2020, afirmou:

“O Grupo Boticário não apoia qualquer ação que desestimule a preservação do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável ou que desrespeite o marco legal do país. Acreditamos que contribuir com o futuro é parte importante dos compromissos que o setor privado deve assumir. O meio ambiente equilibrado é base para a economia e a construção de uma sociedade saudável. 

Não apoiamos a posição das associações que assinaram o manifesto sobre o meio ambiente. Reiteramos nossa posição em relação à necessidade e à importância da preservação do meio ambiente mantendo há mais de 30 anos a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que assume protagonismo e liderança no desenvolvimento de iniciativas que asseguram a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Neste sentido, aproveitamos para informar que solicitamos a retirada da assinatura da ABIHPEC deste manifesto”.

Depois dessas manifestações, a própria Abihpec, nesta quinta-feira, 28, divulgou em seu site uma nota de retratação, admitindo que “O apoio inicial à peça se deu de maneira unilateral pela Presidência Executiva da Abihpec, sem que o tema tenha sido submetido à apreciação do respectivo Conselho Deliberativo da entidade e, dessa forma, não houve concordância das empresas associadas ou mesmo, a oportunidade para que se manifestassem a respeito”. A entidade pediu desculpas a suas associadas e sociedade em geral “pelo mal-entendido e desgastes daí decorrentes”.

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