Para sempre Wu-Tang: Nike relança modelo raro inspirado em rappers dos anos 90
Wu-Tang Clan foi tão influente na música quanto na moda e virou uma marca desejada graças à criatividade e planejamento de seu líder, RZA – que segue assinando produtos que vão de uísque a batom vegano
O líder do Wu-Tang Clan, RZA (segundo, da esq. para a dir.) e o trio do New York Knicks, Josh Hart, Jalen Brunson e Mikal Bridge, na campanha de lançamento (Crédito: Divulgação)
A Nike anunciou, na semana passada, o relançamento do Nike x Wu-Tang Clan Dunk, uma edição limitada colocada à venda pela primeira vez em 1999. O modelo estampa o W que caracteriza o logo da banda aplicado na língua e na parte lateral traseira do calçado, assim como as cores preta e amarela, seguindo o conceito original “Killa Beez”, intrínseco à própria história do grupo de rappers — tão influente na cena musical quanto na moda street dos anos 1990.
I love you, New York
O tênis presta tributo a dois grandes ícones culturais da década de 1990: a linha Dunk, que ganhou as quadras de basquete antes de virar um blockbuster nas ruas de Nova York, e ao líder do Wu-Tang Clan, o músico e empresário RZA, que idealizou o futuro do coletivo de rappers do porão da casa de sua família, em Staten Island, na periferia da Big Apple.
A conexão com a cidade que turbinou a ascensão do tênis e do grupo foi enaltecida na campanha para promover o lançamento, ao reunir RZA e um trio de jogadores do New York Knicks (Josh Hart, Jalen Brunson, e Mikal Bridge), que na temporada passada chegou à semifinal da Conferência Leste da NBA.
Mestres do kung-fu e do marketing
Longe der ser um pioneiro nas parcerias entre rappers e grifes esportivas (o Run-DMC, por exemplo, lançou a música My Adidas, em 1986), o Wu-Tang Clan tornou-se um mestre na promoção de sua própria marca.
Além de liderar a busca por uma sonoridade única, RZA pilotou também o caldeirão de referências que fomentariam o branding do grupo – uma mistura de filmes antigos de kung-fu com o estilo de vida das estrelas do hip-hop, que então movia os sonhos de luxo para quem nascia às margens da riqueza ostensiva dos arranha-céus do centro de Manhattan. Algo como “Bruce Lee encontra o Public Enemy”.
Das boombox para as vitrines
A história de como RZA planejou certo, muitas vezes por linhas tortas, o futuro além-música do Wu-Tang Clan pode ser conferida na série Wu-Tang Clan: An American Saga, disponível no Brasil para os assinantes do Disney+.
Ponto fundamental nessa jornada foi o lançamento, em 1995, da marca de roupas exclusivas da banda, a Wu-Wear. Tudo começou quando versões não autorizadas de camisetas com o símbolo da banda começaram a pipocar entre o público dos shows. Oliver “Power” Grant, que cuidava do lado business do Wu-Tang Clan, aproveitou a oportunidade e passou a produzir peças oficiais.
A então batizada Wu-Wear viralizou não somente entre o público do hip-hop: tornou-se um hit fashion entre celebridades que queriam ser associadas à aura cult do Wu-Tang. Passou, então, a conquistar espaço nas concorridas vitrines de grandes redes como Macy’s e Bloomingdale’s, até ganhar suas lojas próprias. Em vez de serem garotos-propaganda ou embaixadores para outras grifes, os rappers agora eram donos de suas próprias marcas.
Nova edição do Nike x Wu-Tang Clan Dunk, relançado 25 anos depois do modelo original (Crédito: Divulgação)
A Wu-Wear foi descontinuada em 2008 e relançada em 2017, numa parceria com a área de merchandising da produtora de shows e eventos Live Nation. Mas a influência do estilo Wu-Tang na moda street nunca saiu de cena, como provam as camisetas com o logo da banda usadas pelas mais diferentes gerações, os capuzes enterrados nas cabeças de adolescentes mundo afora e o relançamento do Nike x Wu-Tang Clan Dunk – cuja versão original carrega a reputação, entre os colecionadores de sneakers, de ser uma das edições limitadas mais limitadas da história das edições limitadas.
Dollar, dollar bill, yo!
Graças à relevância cultural, digna de inveja para qualquer CMO, estabelecida pela banda, a marca Wu-Tang Clan endossou produtos dos mais diversos segmentos.
Com Nova York ao fundo, a modelo Teyana Taylor promove batom da Milk Make Up, desenvolvido em parceria com a esposa de RZA, Talani Diggs (Crédito: Divulgação)
A lista deve ganhar novos itens em breve: em julho deste ano, RZA assinou um contrato com a Iconic Artists e a Rock the Bells (que pertence a LL Cool J, ele próprio um rapper legendário), para expandir as oportunidades em torno da marca Wu-Tang.
Se depender da visão empresarial de RZA, assim como traçado em seu ambicioso masterplan de conquista global ainda nos tempos da quebrada de Staten Island (e eternizado na forma de uma profecia como título do segundo álbum do coletivo de rappers, Wu-Tang Forever), a marca e o legado de um dos mais importantes grupos da história do hip-hop têm boas chances de viver mesmo para sempre.