Giovana Oréfice
5 de outubro de 2023 - 12h35
Dados do Movimento Circular e da GM&C indicam que a reciclagem de lixo eletrônico tem potencial de geração de 40 mil empregos diretos no País. A possibilidade se traduz, ainda, em monetização: a iniciativa pode gerar até, no mínimo, R$ 800 milhões anuais. Apesar do cenário propício, a aplicação prática da economia circular no Brasil ainda se encontra em estágio inicial e demanda uma série de iniciativas e desafios a serem enfrentados.
Carol Dibe, head de ESG da Endemol Shine Brasil, e Helvio Kanamaru, diretor de ESG e Corporate Citizenship da Samsung América Latina (Crédito: Imagem Paulista/Eduardo Lopes)
A pesquisa foi trazida à tona por Carol Dibe, head de ESG da Endemol Shine Brasil e fundadora da Singular ESG. Ela elenca o uso inteligente dos materiais como chave para fomentar a economia circular, que é capaz de gerar menos extrações de novos recursos e menor custo menor de aquisição, a partir de modelos como o da economia compartilhada e de modelos de extensão da vida útil de novos serviços.
“Tem algumas frentes possíveis econômicas, mas o grande desafio é que a economia e o consumo foram pensados e nasceram para que a gente utilize e descarte. Não pensamos nos serviços adicionais agregados”, contestou a executiva.
Como exemplo, a head da Endemol Shine Brasil trouxe à tona marcas que que tem plataformas e frentes próprias para adicionar valor a outras atividades além da produção e venda e manter a circulação de maneira diferente da original. Neste sentido, a tecnologia entra como fundamental na geração e viabilização de novos modelos de negócios, conforme apontou Helvio Kanamaru, diretor de ESG e Corporate Citizenship da Samsung América Latina.
Hoje, a Samsung conta com centros de desenvolvimento tanto no Brasil quanto fora dele, na Coreia do Sul, por exemplo, que olham para a inovação como forma de fomentar soluções de economia circular para a marca e visibilizando a prática ao mercado de eletroeletrônicos como um todo. Refletindo em produtos ao consumidor, a empresa conta com o Repara Contigo. No programa, a Samsung fornece ferramentas e treinamento para que os próprios consumidores reparem facilmente danos aos seus produtos que não estão cobertos pela garantia.
“Dessa forma, começa-se a criar um pouco essa cadeia e também engajamento com os consumidores. Precisa de muita comunicação, mas também ofertar e prover os serviços necessários para que cada um possa fazer a sua parte”, alertou o diretor. O exemplo mostra como o fomento da economia circular depende da criação de soluções inteligentes e diminuição de atritos na relação do pós consumo, ponto defendido pelos dois painelistas.
A mídia, um setor completamente diferente do tecnológico, também tem a incumbência de contribuir para práticas mais sustentáveis. “No mundo da produção audiovisual, existe uma série de oportunidades não só do ponto de vista de mudança de comportamento de cultura em como essas produções são feitas, mas uma oportunidade também de geração de novos negócios”, disse. Ela explica que a Endemol Shine Brasil tem uma perspectiva de entender modelos de operação e produção para uma transição de modelos eficientes do ponto de vista não só consumo de recursos, mas de economia e valor agregado ao ciclo de vida dos materiais.
A tríade da economia circular
O Panorama dos Resíduos Sólidos, produzido pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais mostra que, no Norte do país, apenas 36,6% do lixo reciclável produzido teve destinação correta. Já no Nordeste, o índice foi de 37,2%, enquanto no Sudeste chegou a 74,3%. Carol atribuiu tal disparidade não apenas ao comportamento do consumidor, mas também a falta de políticas públicas e serviços básicos. Segundo ela, é preciso contribuir para a construção de um ecossistema para a disponibilização de serviços de reciclagem.
Neste sentido, as empresas atuam como forças motrizes para incentivar o hábito entre a sociedade civil. Esta, por sua vez, não tem força e emergência para demandar ao poder público. O diretor da Samsung América Latina endossa ainda que a construção da economia circular depende de embasamento e políticas públicas que apoiem e suportem sua viabilização em todo o território nacional. Somado a isso, deve haver incentivo à pesquisa e tecnologia, que complementam a jornada.
Além de abrir o diálogo com os governos, empresas devem se estruturar internamente para refletir uma comunicação efetiva. Neste ano, a União Europeia lançou diretrizes para evitar que empresas pratiquem greenwashing. Dessa forma, o ESG encara o desafio de criar uma cultura que repense processo de maneira eficiente – não só focada em intenção, mas em compromissos práticos relfetidos em comunicação assertiva, clara, organizada e, sobretudo, transparente.