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Clássico da cena musical dos anos 90, revista Spin volta ao impresso

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Clássico da cena musical dos anos 90, revista Spin volta ao impresso

Primeira grande publicação a estampar uma capa com o Nirvana agora é trimestral e aposta na força da marca para alavancar investimentos em startups de musictech e a audiência em seu canal para streaming e TVs conectadas


25 de outubro de 2024 - 6h00

Capa da revista Spin nos anos 90 com o Nirvana

Capa e reportagem da revista Spin, publicadas em 1992, sobre a banda Nirvana (Crédito: Divulgação)

Uma das revistas mais influentes da história do rock e da música pop está de volta ao impresso. Doze anos após a publicação de sua última edição, a Spin lançou em setembro uma nova versão, com periodicidade trimestral e o fundador do título, Bob Guccione Jr., na posição de editor-chefe.

Ao longo deste hiato, a revista manteve exclusivamente uma plataforma online e foi comprada em 2020 pela Next Management Partners, junto ao grupo Hollywood Reporter-Billboard Media Group – a mais recente de uma série de aquisições das quais a revista foi alvo desde que, em 1997, a Miller Publishing pagou US$ 43,5 milhões pelo controle total da editora, que levava o nome do título criado por Guccione.

Os valores desta última negociação não foram revelados, mas certamente foram substancialmente inferiores aos números registrados nos anos 1990, quando a Spin era parte intrínseca da cena musical pós-MTV e as revistas eram uma espécie de oráculo para prever o destino de bandas e artistas recém-lançados, assim como o sucesso (ou fracasso) dos novos álbuns das grandes estrelas do rock.

Foi uma década dourada para as publicações impressas sobre música: a influência dos títulos especializados movia um negócio lucrativo em termos de comercialização e admirável do ponto de vista de desejo e engajamento, com um verdadeiro culto de suas marcas pela audiência.

Sob diferentes conceitos, para diversos públicos e em variados formatos, fizeram parte desta cena tanto as tradicionais Rolling Stone, Guitar Player (ambas criadas em 1967), Billboard (lançada em 1894 como uma publicação especializada no mercado publicitário e que na década de 1950 se consolidou como um player da indústria da música), e as britânicas New Musical Express (lançada em 1952) e Melody Maker (de 1926), quanto revistas criadas na época, como  a vanguardista Ray Gunn (de 1992), a polêmica Q (de 1986) e a nostálgica Mojo (criada em 1993), além da própria Spin. No Brasil, a grande expoente dessa onda foi a Bizz, que cravou algumas capas icônicas para a história do rock nacional, desde a sua criação em 1985 (incluindo uma fase em que foi renomeada como ShowBizz).

capa da revista Rolling Stone com Madonna

Madonna na capa da revista Rolling Stone, edição de junho de 1991

As sobreviventes e as tentativas de retorno

Destes dez títulos, somente a Rolling Stone, a Billboard, a Guitar Player e a Mojo seguiram ativas com suas versões impressas, ininterruptamente, mas com alterações em sua frequência. Este time terá uma baixa em breve: a Guitar Player anunciou recentemente que deixará de imprimir a revista ao final deste ano. Melody Maker, Ray Gun e Bizz fecharam as portas.

Por fim, há o grupo dos títulos que ensaiaram uma volta após anunciarem o fim, do qual agora a Spin é o novo integrante. As experiências foram mistas e deflagradas no Reino Unido. A New Musical Express, que deixou de ir para as bancas em 2018, foi relançada em 2023 e agora é bimestral. Já a Q, que no ano 2020 encerrou sua edição impressa, foi ressuscitada como um título 100% digital em 2023 – uma aventura malsucedida, que durou apenas cinco meses.

David Bowie e Kate Moss em ensaio para a revista Q

David Bowie e Kate Moss, em ensaio para a revista Q, de outubro de 2023, feito pela fotógrafa Ellen von Unwerth (Crédito: Divulgação)

A concorrência com os influenciadores

Com ambições maiores do que as referências britânicas citadas no trecho acima, o CEO da Spin, Jimmy Hutson sabe que a disputa pela audiência extrapola seus pares mais tradicionais – e que a competição por atenção com as redes sociais e os influenciadores representam a maior parte do desafio neste retorno ao papel.

“Quando a Spin foi lançada em março de 1985, havia dezenas de revistas. Hoje há muito mais se você levar em conta creators, canais no YouTube”, afirmou, em entrevista ao podcast The Smartest People in the Room.

Neste novo cenário de concorrência, Hutson enxerga dois caminhos para manter a Spin relevante junto ao público. Um deles é usar as forças das plataformas para destacar os diferenciais de sua marca. “No Tik Tok, nos vemos como creators. Não existia uma conta da Spin no Tik Tok quando compramos o título. Hoje, temos quase tantos seguidores quando a Rolling Stone. Temos essa credibilidade por estarmos há 40 anos na estrada”.

O outro ponto diz respeito à curadoria independente e natureza crítica do jornalismo, um diferencial robusto para um público interessado em saber mais sobre os artistas por outras fontes que não os mesmos.

“O que acontece é que, hoje, no Tik Tok, no Instagram, as bandas, os artistas e seus empresários estão contando as próprias versões de suas histórias, antes mesmo que alguém tenha a chance de fazer isso (de forma independente). É sempre tudo muito controlado, com uma mensagem a ser transmitida”, ponderou Hutson. “O papel de um título como a Spin sempre foi e será o tom crítico independente. Sou leitor da revista desde os anos 1990. Sempre relacionei a Spin ao que há de mais novo e quente, foram a primeira revista a colocar o Nirvana na capa. Desta nova geração, foi a primeira publicação a escrever sobre Olivia Rodrigo”.

Cantora Olivia Rodrigo

Quarenta anos depois de sua primeira edição, a Spin continua apontando novos talentos, como a cantora Olivia Rodrigo, que será uma das atrações do Lollapalooza 2025, em São Paulo (Crédito: Nick Walker/Divulgação)

Music tech, gravadora e TV network: os novos negócios com a marca Spin

O relançamento da revista impressa é parte de uma estratégia de diversificação de negócios em torno da marca. Os donos da Next Management Partners acreditam em uma vasta gama de oportunidades a partir dos valores core que a Spin representa para a audiência e o universo de players que ela conecta em suas plataformas.

“Pode se fazer muitas coisas com uma marca como a Spin. Temos uma grande rede de relacionamento”, afirma Hutson, antes de listar três novas áreas geradoras de receitas, lançadas com a marca:

– o selo musical “Greater than Distribuition”, para descobrir novos artistas e em parceria com a Virgin Records;

o canal de TV “Spin Newtwork”, voltado para canais de streaming e CTV, com documentários e programas sobre bastidores e sessões de fotos, a partir de cenas do arquivo da revista. Neste campo de produção de shows e programas a partir da grande biblioteca proprietária da Spin, também assinaram um acordo de parceria com a 1 on 1 studio, que produz para a Paramount Plus;

– a incubadora de empresas e startups de music tech, batizada de Spin Labs. Formada em sua maioria por engenheiros, tem fundos de investimento como sócios e busca criar soluções, ferramentas e softwares para artistas e para o gerenciamento de negócios – cuja maior ambição, segundo Hutson, é “pensar o que será o próximo Spotify”.

A importância dos eventos e do SXSW

Por fim, uma marca que se orgulha de influenciar a cultura musical precisa estar conectada a eventos e shows. Apesar dos grandes festivais terem se tornado muito mais do que as apresentações dos artistas, a música ao vivo continua como a principal fonte de lastro e inspiração para a audiência.

Show da revista Spin no SXSW 2023

Show da revista Spin no Stubb’s BBQ, em Austin, durante o SXSW 2022 (Crédito: Jonas Furtado)

“Temos a meta de estar presentes em um evento por mês. Em 2025 completaremos 40 anos, e estamos planejando uma celebração ao longo do ano todo”, contou Hutson, lembrando da conexão especial com o South by Soutwest, no qual a Spin marca presença como apoiadora e realizadora de eventos, shows e festas – o fundador e atual editor-chefe Bob Guccione Jr foi o keynote speaker (palestrante principal) da segunda edição do SXSW, em 1998. “Também fomos um dos primeiros a realizar festas durante o dia, no Stubbs BBQ”, complementa, revelando que o evento em Austin estará mais uma vez no calendário de ativações do título, em março de 2025.

 

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