Curtidas nos Stories e a jornada do Instagram com o like
Criação de likes para o formato Stories levanta questões sobre intenção da plataforma em relação a saúde mental dos usuários e como a nova métrica afeta marcas e creators
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Thaís Monteiro
18 de fevereiro de 2022 - 6h02
Em maio de 2019, o anúncio do fim da exibição dos likes no Instagram foi epicentro para uma série de discussões sobre engajamento, saúde mental e métricas atribuídas a anunciantes e creators. Nesse último ano, não só a plataforma voltou com exibir as curtidas como opcional, como esta semana o head da rede, Adam Mosseri, anunciou que os likes estão chegando nos Stories.
Na justificativa do executivo, o objetivo do botão em formato de coração que aparecerá ao lado da barra de respostas dos Stories é fomentar mais apoio entre a comunidade e tornar essa uma forma de reagir ao conteúdo mais ágil e prática do que enviar mensagens diretas. É importante lembrar que os Stories já incluem reações em emojis, que aparecem quando o usuário clica na barra de responder ao Storie.
Segundo Catia Andressa, supervisora de comunicação na Brunch, agência de gestão de carreira e negócios de influenciadores, as empresas sob o guarda-chuva de Mark Zuckerberg são versadas na arte de implementar e descontinuar funcionalidades, o que significa que a curtida nos Stories seja um teste de engajamento. No entanto, é digno de nota que as plataformas disputam a atenção do usuário e criar novidades para entreter o usuário com tais recursos é uma estratégia para mantê-lo por perto. “Segundo a própria plataforma, a funcionalidade visa ‘limpar’ um pouco as mensagens diretas já que hoje, quando reagimos ou respondemos um story, essa reação aparece entre as DMs. Como o objetivo é que as pessoas passem cada vez mais tempo dentro da rede, é preciso encontrar mecanismos que incentivem interações menos superficiais e estimulem conversações”, explica.
O investimento no formato Stories não é por acaso. Conforme lembra Israel Bastos, supervisor de mídia da Suno United Creators, uma pesquisa da Opinion Box feita em 2021 ressaltou que 58% dos usuários do Instagram no Brasil preferem ver publicações no Stories do que no feed de notícias. Assim, o Instagram está apostando em melhorar os espaços nos quais o público passa mais tempo e tem preferência de uso. “A funcionalidade abre uma nova camada de interação entre os usuários ampliando as possibilidades de envolvimento com os conteúdos, reforçando o uso dos Stories. Para o algoritmo, a novidade pode ajudar a plataforma a compreender ainda mais o comportamento das pessoas e indicar conteúdos que tenham mais a ver com a preferência de cada usuário”, contribui.Histórico das curtidas
Ao ocultar as curtidas em 2019, a intenção da plataforma era de atrair mais publicação de conteúdo em vez de estimular métricas de popularidade. Isso demonstrava uma atitude responsável em relação a saúde mental dos seus consumidores. Em maio de 2021, quando as curtidas voltaram como opcionais, a rede disse que o feedback dos usuários sobre a restrição de 2019 foi dividido: alguns acharam positivo e outros preferiam ver os números para identificar tendências de conteúdos populares. Assim, a empresa optou por oferecer maior controle aos usuários.
Citando o filósofo Byung-Chul Han, autor de “Sociedade do Cansaço”, Catia afirma que o o like é o band-aid dos nossos tempos e que o Instagram, assim como outras redes, contribuiu para a “economia da curtição”, a necessidade de se sentir valorizado, inclusive publicamente. E também por conta dessa demanda eles ainda existem e se multiplicam nas redes. “Não se trata apenas de se sentir bem, mas de parecer estar bem e essa responsabilidade foi toda jogada nas costas dos indivíduos. A eles foi atribuída a função de buscar a própria felicidade, a própria motivação. Se ela não existe, é porque ele não buscou o suficiente. Ao observarmos sob essa ótica, a saúde mental sai da equação, pois a plataforma se isenta dessa conta sem se comprometer”, opina a executiva.
Impacto no mercado
O like no formato Stories acrescenta mais uma métrica no jogo social das marcas e criadores que mensura envolvimento, interesse e aprovação do conteúdo publicado, além dos indicadores que já existiam antes como visualizações, reações e mensagens diretas. Para Bastos, a curtida nos Stories se torna um termômetro em tempo real, que pode ajudar os anunciantes ter insights sobre assuntos que podem ser explorados em outros formatos da própria plataforma, como publicações no feed e no Reels, com abordagens mais profundas. “Esses insights ainda podem ajudar nos planejamentos de conteúdo das campanhas”, coloca.
Para os criadores de conteúdo, o recurso chega em boa hora, pois alguns influenciadores não conseguem mais dar conta de olhar suas mensagens diretas em busca da reação do público sobre determinado conteúdo, diz Catia. Em breve, ela acredita que logo começam a circular prints de curtidas nos Stories para justificar entregas. “Diante dessa realidade, que muda com muita velocidade, é essencial aos criadores sustentarem suas estratégias com foco na responsabilidade como comunicadores, na verdade de seus conteúdos e no fortalecimento de suas comunidades”, propõe.
*Crédito da imagem do topo: Shutterstock
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