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Do sucesso à desistência: o que aconteceu com Luva de Pedreiro?

Especialistas em marketing de influência veem falta de preparo emocional na trajetória do jovem, que anunciou que não publicará mais vídeos


14 de setembro de 2022 - 6h00

Atualizada em 14/9, às 9h52

“Todo mundo está pensando que eu fui hackeado, mas não fui hackeado não. Apaguei meus vídeos mesmo, parei mesmo, galera. Vou viver minha vida normal, sossegado”. Com essas palavras, em um vídeo postado no Instagram nessa terça-feira, 13, Iran Ferreira, conhecido como Luva de Pedreiro, anunciou aos seguidores que estava encerrando a carreira de influenciador.

Luva de Pedreiro firmou parcerias com marcas, mas anunciou que não dará continuidade à produção de conteúdo (Crédito: Divulgação)

Posteriormente, Luva apagou o vídeo em que anunciava a interrupção de seu conteúdo. No perfil que mantinha no Instagram, sua foto não aparece mais.

No vídeo, Luva dizia que a decisão foi própria, elogiava a equipe com quem trabalha e prometeu concluir os trabalhos já acertados com as marcas com quem já fechou. “Mas depois disso aí não vou mais fazer vídeo não”, prometeu Iran.

Na noite de terça-feira, 13, ele postou outro vídeo, mais curto, em seu Instagram, para responder, segundo ele, a quem comentou que ele havia decidido parar a carreira por conta da falta de conteúdo para postar. “Eu fiz dois comerciais, que nunca ninguém fez, que vão passar nos meses da Copa do Mundo. Vão passar em todos os televisores, de todo o mundo”, declarou Luva.

Quem é Luva de Pedreiro e como ficou famoso?

Iran Ferreira é um jovem de 20 anos da cidade de Quijingue, localizada a mais de 300 km de Salvador, na Bahia. Sua fama surgiu quando ele começou a postar, primeiramente no TikTok, vídeos em que aparecia fazendo jogadas e imitando grandes craques do futebol internacional, com jeito peculiar e sempre usando as luvas, peças que acabaram gerando seu apelido.

As luvas, na verdade, foram um acessório que Iran incorporou em seus vídeos para poder imitar melhor os craques. Por não ter condições de compras luvas esportivas, o jovem utilizou um par que geralmente é utilizado pelos trabalhadores de construções.

Com o passar do tempo, os vídeos do jovem ganharam o mundo, se popularizaram entre os jogadores de futebol e os usuários das redes sociais, que ajudaram a popularizar o bordão “Receba”, usado por ele nos vídeos.

A rapidez com que Luva criou uma base de seguidores foi impressionante. Em junho deste ano, já contava com mais de 18 milhões no Instagram e 19,5 milhões no TikTok. O sucesso, obviamente, gerou interesse das marcas.

Marcas que trabalharam com Luva de Pedreiro

Ao longo de seu período de fama, Luva de Pedreiro participou de eventos e fez ações publicitárias para diversas marcas. Em abril, foi contratado pela Amazon pra ser garoto-propaganda do Prime Video. A ideia era aproveitar o carisma do influenciador para divulgar as transmissões esportivas.

No início de agosto, no maior contrato que fechou, Luva de Pedreiro tornou-se embaixador da Adidas, com a missão de criar conteúdo para a Copa do Mundo. É sobre esse trabalho que o jovem falou, no vídeo publicado, quando comentou sobre um trabalho que seria exibido internacionalmente.

Outras marcas também procuraram o influenciador para ações e presença em eventos. Recentemente, o Luva batizou até um prato do Paris 6, restaurante de São Paulo conhecido pela presença de famosos, que dão seus nomes a itens do cardápio.

O que deu errado com Luva de Pedreiro?

Com tantos seguidores e marcas interessadas, por que razão um influenciador como Luva jogaria tudo para o alto e voltaria à vida de anônimo? Especialistas em marketing de influência não hesitam em apontar a fama súbita e a falta de preparo como as razões principais para a decisão do influenciador.

“O Luva de Pedreiro teve uma fama muito súbita, cresceu de forma exponencial. E por ele não ele não ser um influenciador – e sim ter se tornado um do dia para a noite – naturalmente ele não estava preparado”, comenta Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence, agência de marketing de influência.

O especialista, no entanto, faz questão de destacar que o jovem não tem culpa alguma da situação. “Essa situação mostra um pouco como o mercado funciona: a demanda agressiva de agentes e empresários, a abordagem das marcas, a cobrança por conteúdo, etc. Ele foi vítima do sistema da publicidade e do mercado de influência por não estar preparado e, também, por não ter encontrado, provavelmente, empresas e parcerias que lhe ajudassem a se sentir mais seguro”, opina Silvestre.

Problemas com empresário

Um sinal de que a carreira de Luva de Pedreiro não estava tão bem consolidada já havia aparecido. Em julho deste ano, Luva revelou problemas com seu então empresário, Allan Jesus, dizendo que o agente não pagava sua parte em contratos publicitários e que havia, inclusive, tirado seu acesso ao TikTok. A troca de acusações entre as partes fez com que a parceria terminasse.

Após esse período, o ex-jogador de futebol Falcão, que também é empresário, passou a ser responsável pela carreira de Luva. Falcão deixou um comentário no vídeo em que o influenciador anuncia o encerramento da carreira. “Amigo, descanse, viva sua vida como você decidir! Estamos aqui sempre pra te apoiar! Não esqueça que você faz muita gente feliz!”, escreveu Falcão, no Instagram.

Thiago Cavalcante, CEO da Inflr, não acredita que tenham acontecido problemas com essa nova gestão, pela qualificação profissional de Falcão. O que o especialista em marketing de influência aposta é que o influenciador não havia conseguido o preparo emocional necessário para lidar com a carreira. “Geralmente quando o sucesso e fama vêm antes do que a preparação, não é todo mundo que tem inteligência emocional para lidar com a pressão. Casos como o do Luva de Pedreiro, que viralizam de uma hora para outra, podem desenvolver transtornos como burnout. Considero que o que mais tenha pesado nessa situação seja a falta de apoio psicológico”, alerta.

Como os influenciadores podem evitar problemas?

Ricardo Silvestre alerta que o caso de Luva de Pedreiro não é um exemplo totalmente isolado e que, no mercado, há casos em que empresas e marcas se aproveitam de influenciadores inexperientes, querendo pagar menos pelos seus trabalhos e explorando sua mão de obra.

Para evitar esse tipo de problema, o CEO da Black Influence aconselha que os criadores de conteúdo procurem saber mais sobre o mercado em que pretendem atuar e contar com parceiros em quem eles confiam. “Eles precisam também ter autonomia para gerir seu conteúdo e sua carreira. Não é a agência ou o empresário que tem que tomar 100% das decisões pelo influenciador. A empresa tem que atuar, mas o influenciador precisa se sentir confortável”, diz.

Já Thiago, da Inflr, alerta que o gestor de carreira ou agente tem que amparar o criador de conteúdo em relação à saúde mental. “Além disso, é importante que os gestores instruam os influenciadores a pensar não apenas na evolução da receita, mas também na saúde mental e física. A gestão não deve ser apenas na carreira, mas também num objetivo de crescimento pessoal, como ser humano”, define.

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