O segredo por trás do conteúdo de Camila Fremder
Em entrevista ao Meio&Mensagem, a escritora, roteirista e podcaster revela o segredo por trás de seus conteúdos, sua relação com as marcas e com a audiência
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Amanda Schnaider
20 de setembro de 2024 - 6h02
Atualizada às 11h40*
Nos últimos anos, a escritora, roteirista e podcaster Camila Fremder conquistou o coração da audiência, que se autointitula “noiers”, com seu podcast É Nóia Minha?, lançado em 2019 e que já conta com mais de 400 episódios, 66,9 milhões de plays e cerca de 1 milhão de ouvintes mensais. Além disso, segundo dados do site Rephonic, nos últimos dois meses, o podcast da Camila foi o que mais cresceu mundialmente no Spotify.
Diante dos números, o Grupo Opus viu uma oportunidade em convidar Camila para levar seu podcast das plataformas digitais aos teatros. Foi assim que surgiu o projeto É Nóia Minha? – Ao vivo com Camila Fremder, que consiste em um gravação do podcast ao vivo, no Teatro Sabesp Frei Caneca, nos dias 30 de outubro, 4 e 11 de dezembro. Os ingressos esgotaram rapidamente e só há entradas para pessoas com deficiência ainda disponíveis para compra.
Além do lançamento com o Grupo Opus, nesta semana, Camila também estreou a segunda temporada de outro podcast — na verdade, um videocast da Amazon, o Amor na Influência. Nesta temporada da atração, com episódios todas às terça-feiras, Camila assume o lugar de Regina Volpato na apresentação, ao lado do ator Gabriel Santana.
Apesar de podcaster, Camila não deixa sua faceta de escritora de lado. Em outubro, ela lançará oficialmente nas livrarias o Quibe e o tesouro das abelhas, pela Companhia das Letrinhas, sequência do seu livro infantil Quibe, a formiga corajosa, que teve contribuição de seu filho pequeno, Arthur.
“Lançamos junto também o audiobook, que o Arthur grava a parte dele e fazemos um projeto bem focado para crianças com deficiência visual. Então, ele não é um livro só lido, ele tem descrição das páginas, é um livro bem completo, bem lúdico, com efeitos sonoros”, explica Camila.
Além de sucesso entre a audiência de podcasts, no último ano, Camila também ficou conhecida como “mãe do TikTok”, por sua atuação espontânea e engraçada na rede social de vídeos curtos. Ela acabou, inclusive, virando meme por um de seus vídeos (veja abaixo).
@cafremder Queria mto poder contar
Ao longo de sua carreira na internet, Camila também acabou chamando a atenção das marcas, tendo trabalhado em grandes projetos com algumas, como Hering, Nivea, Natura e QuintoAndar. Em entrevista ao Meio & Mensagem, a escritora e podcaster revela o segredo por trás de seus conteúdos, sua relação com as marcas e com a sua audiência.
Meio&Mensagem — Você é publicitária, mas também escritora, roteirista e podcaster, ou seja, sabe criar conteúdo para diferentes plataformas. Qual é o segredo para isso?
Camila Fremder — Gosto de pôr uma lupa de aumento nas coisas cotidianas, que as pessoas não dão tanta bola. Também gosto de trazer pautas que, às vezes, ficamos meio envergonhados em tocar no assunto. Adoro falar sobre medo, imaturidades, inseguranças. Às vezes, precisamos performar outra persona nas redes sociais, alguém muito seguro, muito maduro, muito bem resolvido e eu gosto de discutir justamente o oposto, porque ninguém é seguro, maduro o tempo inteiro. Então, acredito que as pessoas se reconhecem ou em alguma história mais cotidiana, ou na numa insegurança.
M&M — O seu podcast É Nóia Minha? foi o que mais cresceu mundialmente no Spotify nos últimos dois meses. Na sua visão, a que se deve isso? Qual é o maior diferencial do seu podcast?
Camila — Acredito que isso aconteceu porque comecei a crescer no TikTok. E fazendo aquela pesquisa, que eles entregam de idade, gênero, vimos que não é o mesmo público. Enquanto no Instagram, tenho a maior audiência de 24 a 34, no TikTok a maior audiência é de 18 a 24. Então, foi a chegada de um público totalmente novo que não consumia o podcast. Não sei se é um diferencial, mas é uma característica minha, sou muito constante nas coisas que faço e acredito que na internet as pessoas são muito inconstantes em tudo. Está acontecendo um boom de “mesa posta”, aí a pessoa que fazia “look do dia” começa a fazer “mesa posta”. Assim você não consegue fidelizar as pessoas, porque quem estava acostumado a ver as suas esquetes não necessariamente vai gostar de ver você fazendo “mesa posta”. Sou muito constante das coisas que faço. Se você pegar o primeiro episódio do Nóia, ele ainda faz parte do meu discurso mesmo cinco anos depois.
M&M — Apesar de fazer sucesso no podcast, você viralizou recentemente no TikTok. Quando você decidiu apostar na rede social?
Camila — Não entendia o TikTok, não era eu que o alimentava. Tenho o Cláudio, que trabalha nas redes sociais, então ele que posta tudo que é do Nóia. Então, era apenas o Cláudio entrando no meu TikTok e subindo vídeo do Nóia. Teve um dia que me irritei e falei “preciso entender essa plataforma, porque estou vendo que ela entrega muito melhor” e fiquei consumindo o TikTok por muitas semanas, sem parar, para entender o algoritmo, para entender porque que um vídeo performava lá e no Instagram não e vice-versa. E percebi que estava sendo muito burra e atrasada, porque o TikTok é muito mais minha cara do que o Instagram, porque no Instagram é tudo muito montado, encenado e achava que era o contrário, enquanto o TikTok é mais bate pronto, você pensou, você falou. Tanto que as pessoas falam se maquiando, se trocando. Isso foi uma coisa. A outra coisa foi que, como tinha muito mais seguidor no Instagram, me travava para falar pensamentos aleatórios, porque vinham comentários chatos de gente que não me entendia. Mas sentia que no TikTok estava num grupinho tão pequeno e se tirasse sarro da blogueira escolhendo a data para lançar uma coisa que não quero saber, ninguém ia me encher o saco. Então, me sentia mais protegida e mais à vontade para falar as coisas que estava afim, porque no Instagram sinto que tinha um policiamento maior das coisas que eram ditas, às vezes, coisas bestas. Fui cansando de fazer conteúdo lá mais espontâneo e comecei a usar como se fosse um making of da minha vida, uma foto de um gato, uma passada de criança, um dia no clube, enquanto que o que penso de verdade ficou para o TikTok e, para a minha surpresa, em meses estou quase nos mesmos números de seguidores que fiquei a minha vida inteira para fazer no Instagram.
M&M — Como você mesma falou, sua audiência é formada por pessoas de 24 a 34 anos, porém, no TikTok você acabou furando a bolha, atingindo uma geração mais nova. Como você se comunica com essas diferentes gerações?
Camila — No TikTok, os rankings, faço por prazer e viraliza muito fácil lá. Acredito que com a questão do gap geracional, tenho muita referência, muita história e fofoca para falar no meio dos rankings, porque tenho 42 anos, então para as pessoas de 18, 20 anos é muito assim: “nossa, mas para tudo ela tem uma história?”. Lógico, estou o dobro aqui, aconteceu muito mais coisa comigo do que aconteceu com eles. E sinto que é uma geração muito interessada nessa faixa etária, nessa fase da vida em que eu fui jovem. Eles são muito curiosos com os anos 1990, com os anos 2000, então tudo que trago de informação dessa época é muito legal para eles. Veio a piada da “minha figura materna”, “eu vejo você como mãe” e amei isso, não tenho nenhuma questão etarista nesse ponto. Gosto de ser a mãe do TikTok e vou amar ser a vó do TikTok. Estou adorando que nós temos essa diferença geracional, porque coisas que não entendo ou que trago como dúvida, eles rapidamente me esclarecem. Acontece uma coisa muito legal que não acontecia na minha geração que é: eu aos 18, 20 anos não queria escutar o que uma mulher de 40+ tinha para dizer, enquanto uma mulher de 40+ também não queria escutar o que quem tinha 18, 20 anos tinha para dizer, porque “eles não sabem nada da vida”, “eles são muito imaturos”, “é uma geração que não serve para nada”. Era muito esse discurso. E vejo que não, vejo que eles são muito mais legais do que a minha geração.
M&M — Qual é a sua relação com as redes sociais atualmente? Como lida com tanta exposição e com o “hate”?
Camila — É pouco hate. Tenho muita sorte. Quando começaram esses virais de TikTok, em três dias aumentei 100 mil seguidores no Instagram, muita gente em pouco tempo e não tive muito hate. Foi muito pouco, era uma coisa ou outra, alguém que fala da aparência e acho tão bobinho falar da aparência, que fico quase “que dó, que amor”. Escolho muito o que vou expor. Não me sinto uma pessoa que expõe tudo da vida. Tem muitas coisas que não compartilho. O meu trabalho maior é se vou contar alguma história de maternidade, de relacionamento em que vou envolver alguma outra pessoa da minha família. Quando falo de divórcio, por exemplo, que acabo expondo o outro lado, que é o pai do Arthur [filho de Camila], ou quando vou falar de relacionamento, que vai estar implícito que estou falando do André [marido de Camila]. É mais o meu cuidado em comunicar essas outras pessoas. E sou cercada de pessoas muito generosas. Mas não mostro a minha vida inteira, tem muita coisa que não mostro. Até quando perguntam “conta alguma história da Rita Lee como avó”, até já respondi isso várias vezes, escolhi quatro histórias dela para contar, o resto não é para as pessoas saberem, porque ela não estava como pessoa pública nesses momentos.
M&M — Atualmente, você trabalha com diversos formatos de anúncios e parcerias no podcast, desde spots até projetos mais densos. Como trabalha esses projetos em parceria com as marcas? E o que uma marca precisa ter para trabalhar com você?
Camila — Geralmente acontece assim, a marca entre em contato quando é mais branded content, que fazemos em vídeo, que tem o produto na mesa. O caminho é mais ou menos assim: a marca entre em contato com o Bruno Porto [seu editor na Companhia das Letras] e fala o que quer. Recebo esse primeiro pedido, a partir disso, mando uma ideia que acho que caberia de uma forma orgânica. Fica uma coisa que quem está ouvindo não vai estranhar e falar “meu Deus, ela está totalmente vendida falando que ela é vegana agora”. Não acontece isso. Acontece de ter um episódio legal, com pessoas que são a cara do Nóia, com a entrega de produto que precisa ter. As marcas que são muito difíceis de trabalhar, sugerimos ficar no spot, porque, às vezes, tem marca que é multinacional, o briefing vem de fora, é muito difícil para eles aprovarem uma coisa que não vão entender, e conseguimos, mesmo assim, inserir num spot de um jeito legal. Agora, o que a marca precisa ter para trabalhar comigo é me deixar criar junto, o que faz a maior diferença. As marcas já entenderam isso, eu não acredito que seja mais uma dificuldade do mercado. Natura, Nivea, QuintoAndar foram casos que conseguimos fazer isso com toda a liberdade. A marca não edita o episódio, o que entrego antes é o roteiro das perguntas que vou fazer e como vou abrir e fechar o episódio. Às vezes, a marca assiste à gravação e só deixo cortar se for alguma coisa muito, sei lá, a pessoa vai ser cancelada, falaram um palavrão muito absurdo no meio de um episódio que não cabe falar um palavrão, coisas assim. Mas senão, elas não têm nenhum controle editorial do podcast. É muito comum chegar pacote “olha, queremos um episódio do Nóia temático, tantas entregas no perfil dela, tantos cortes em collab com Nóia e a newsletter”. Oferecemos assim, geralmente. E, agora, oferecemos o teatro também. Então, o teatro também tem a possibilidade de entrar marca. Estamos conversando com algumas marcas. Apresentamos o menu e a pessoa escolhe o que quer. É muito raro marca entrar e fazer uma ação pontual, geralmente são três meses.
M&M — Ainda na contra-mão da indústria de comunicação, você transformou sua newsletter Associação dos Sem Carisma em um jornal impresso, o Jornews. Por que decidiu investir em um projeto como este?
Camila — O Jornews foi um projeto muito maluco meu, de estar super angustiada com o excesso do uso de telas, de achar que está fazendo mal para mim, imagina para essa audiência que, agora, tenho de 18 a 24 anos. Era um jeito de alertar. E foi um projeto que não ganhei dinheiro com isso, perdi dinheiro. Investi dinheiro e não tive retorno. É muito difícil de conseguir levantar ele de novo, porque as marcas ainda são muito inseguras em patrocinar um jornal físico e que não vai ter a versão online. Acho uma pena. Se tivesse mais apoio das marcas, com certeza faria mais edições. Mas não é o que vemos acontecer. Tivemos apoio de Inner Circle, e Dafiti para o evento. Mas no jornal entrou só Inner Circle. Era uma cota pequena do que podíamos cobrar e não cobriu nem metade do que foi o gasto para disparar 6 mil jornais para as pessoas. Fui muito maluca, mas gosto de fazer esses projetos, porque eles não agregam financeiramente, mas agregam como marca. Então, vai dar mais um tempo e faço outro.
M&M — Em entrevista ao Meio & Mensagem, você afirmou que sua política de relação comercial com as marcas é clara: o conteúdo é gratuito para os ouvintes, mas cobra das grandes marcas que se associam ao projeto. Por que optou por essa estratégia, enquanto tem criadores monetizando com ajuda direta da audiência?
Camila — Meu discurso faz muito tempo é “engajem no meu conteúdo e não vou cobrar de vocês”. Sempre falei isso e é um acordo que fizemos, que funciona e que está muito claro com a audiência. Um outro ponto, quando você está pagando por um serviço, você tem o direito de cobrar e de reclamar. Já tenho muito chefe na vida. Toda marca é um chefe meu e ter a audiência, às vezes, me cobrando mais, porque está gastando, ia me fazer muito mal. Não vejo nenhum problema nos criadores que cobram, é um mercado difícil, para um podcast emplacar, são muitos anos. Tenho muitas amigas que começaram um projeto do zero e estão aí há muitos anos e tenho muitas amigas que começaram um projeto do zero e ele não vingou mesmo pegando esses Apoia.se, esse tipo de coisa. Não vejo problema nisso, mas quis fazer esse acordo com a minha audiência.
M&M — Neste ano, você resolveu levar outro projeto da internet para o mundo físico, o podcast para o teatro. Como surgiu essa ideia? E, com o grande interesse do público, após esgotar os ingressos, pretende fazer mais apresentações no ano que vem?
Camila — Não foi ideia minha, foi o Grupo Opus que nos procurou. Eles são donos de umas 20 casas de shows espalhadas pelo Brasil e eles procuraram o Bruno Porto com esse convite, falando “entrgamos um teatro, com toda a produção, a Camila entra com o conteúdo e rachamos a bilheteria”. Achei maravilhoso, porque fiz um ao vivo com o Spotify, que foi muito legal, amei fazer. Tenho feito cada vez mais esse tipo de evento de talks, festival, estou indo praticamente em todos. Tudo que era de livro já fazia muito isso. Agora, na Bienal, tive três mesas, vou na CCXP, vou no YouPix. Estou fazendo muito esses eventos e estou adorando. É um formato que fui gostando de fazer. Além de São Paulo, confirmamos já Porto Alegre e Curitiba. Então, a ideia é, sim, o Nóia ao vivo ficar pingando em vários lugares. Fizemos uma pesquisa de onde temos um maior número de ouvintes e selecionamos algumas praças.
M&M — O videocast se tornou um viral nos últimos anos, devido a uma série de fatores, como a pandemia e o boom das lives, mas você ainda tem conteúdos somente em áudio. Por que adotou essa estratégia?
Camila — A minha opinião é meio polêmica. Faço vídeo quando estou no Rapidinhas, que é um formato rápido, em que não dependo de convidado e de uma estrutura de TV. As pessoas da internet têm uma fantasia muito grande com a televisão ainda, principalmente a minha geração. As pessoas têm esse saudosismo do que foi o programa do GNT, o Saia Justa, com Fernanda Young, Rita Lee, Marisa Orth e Mônica Waldvogel, e eles ficam reproduzindo isso em podcast. Podcast tem um truque muito grande que é você estar falando no ouvido da pessoa, então amo os episódios grandes do Nóia serem só em áudio, porque dou oportunidade da audiência estar comigo, se sentindo dentro da conversa. Quando tiro isso e me visto igual a uma apresentadora, segurando uma ficha, não sou mais parte da audiência, sou uma pessoa que está apresentando um projeto e crio um distanciamento enorme do público. Por que seguimos a Beyoncé? Porque ela é a Beyoncé. Às vezes, nem sabemos porque estamos seguindo a Beyoncé. Mas eu sei porque as pessoas me seguem, porque elas são parecidas comigo, se sentem próximas. Não sou a Beyoncé e nunca vou ser, então não tem para que performar Beyoncé já que jamais serei. Muito podcast grande fica penando para se manter, porque vira uma estrutura muito cara. Se for chamar, por exemplo, a Malu Borges para gravar um episódio em vídeo comigo no meu podcast, tenho que ter o catering, um maquiador, iluminação, toda a equipe, então é muito mais caro e é muito mais difícil. É um projeto muito mais caro e que não necessariamente vai te dar retorno em play.
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