ESG: como definir e atingir as metas?
Debates tentam apontar soluções para que iniciativas ambientais, sociais e de governança se ampliem para todo o ecossistema de conexão, com foco nas teles
Debates tentam apontar soluções para que iniciativas ambientais, sociais e de governança se ampliem para todo o ecossistema de conexão, com foco nas teles
Sergio Damasceno Silva
29 de fevereiro de 2024 - 8h29
Macro tema que está entre os principais do MWC, as iniciativas social, ambiental e de governança (ESG) para o ecossistema de comunicações têm como foco as teles, que controlam a infraestrutura de redes e são responsáveis por alto consumo de energia.
A questão, diz o managing director da A.T. Kearney, Axel Freyberg, é como passar do aspiracional ao impacto. O executivo mediou grupo de debate sobre as métricas ESG no MWC que reuniu a CEO e fundadora da AK Energy, Simay Akar, a senior director da Intel, Sindhu Xirasagar, o managing director da ZTE, Jingyun Han, e Andrew Yague, sócio da Carbon Trust, consultoria global de sustentabilidade orientada para o impacto das alterações climáticas com a missão de acelerar a mudança para um futuro descarbonizado.
“Quando digo sustentabilidade, prefiro usar essa palavra como algo que diz respeito ao equilíbrio entre economia, meio ambiente e impacto social. Para a indústria de TI, que é responsável por cerca de 3% a 5% das emissões globais de gases com efeito de estufa e cerca de 7% do uso de energia, acho que é um tema para debater e abranger também a circularidade”, afirma Freyberg, da A.T. Kearney.
Contudo, apenas 20% das emissões em TI passam por reciclagem. De forma que há muitas ambições e metas, definidas pela indústria, que têm que ser cumpridas. “As pessoas têm lidado com todo tipo de tópicos no MWC, inclusive com a monetização das redes e de como tornar essas redes mais sustentáveis”, diz Freyberg.
E adiciona: Tivemos muitos debates sobre diversidade no palco nestes dias e, entre outros temas, abordamos a circularidade, ou a economia circular (focada na manutenção do valor de produtos e materiais durante o maior período possível no ciclo econômico, pela qual uma indústria pode aproveitar algo descartado por outro segmento).”
O executivo da A. T. Kearney lembra que os gases de efeito estufa são uma ótima métrica para se abordar, pois abrangem toda a cadeia de valor e realmente impulsionam mudanças. Mas, pergunta, como se definem as métricas a serem cumpridas e como o ESG se tornou viável e, sobretudo, um conceito de valor para o bem do público consumidor.
Simay Akar, CEO da AK Energy, explica que as emissões de âmbito um são as emissões associadas ao consumo de energia direta de veículos ou de equipamentos localizados nas instalações das empresas.
Portanto, as emissões se classificam de acordo com o Greenhouse Gas Control (GHG Protocol) nos escopos 1, 2 e 3. O escopo 1 abrange as emissões liberadas para a atmosfera como resultado direto das operações da própria empresa; as emissões de escopo 2 são indiretas, provenientes da energia elétrica adquirida para uso da própria companhia; e emissões de escopo 3 são todas as emissões indiretas não incluídas no escopo 2 que ocorrem na cadeia de valor da empresa. Segundo o GHG, as empresas são obrigadas a informar apenas os escopos 1 e 2. O relato do escopo 3 é voluntário.
“As emissões de escopo 3 são um conjunto muito mais amplo de emissões que ocorrem em sua cadeia de suprimentos por meio dos bens ou serviços que você comprou. “Mas, você define a métrica? Quando se trata de definir a métrica do ponto de vista das teles, penso que o setor tem estado entre os mais ambiciosos em nível mundial ao fazê-lo”, diz Simay.
“Quando se trata de definir essa métrica”, completa, “há muita coisa que a indústria pode aprender. Portanto, quando se trata de definir metas, não precisa inventar sua estratégia do zero. A GSMA, por exemplo, é um excelente fórum para promover debates nessa área.”
Assim, como as operadoras lidam com isso? questiona a CEO da AK Energy. “Existem várias maneiras de fazer isso, mas uma das coisas mais importantes é, claro, integrá-las. Os sistemas de energia renovável são os principais, mas o que vemos é que a transição para energia limpa na integração de energia renovável não é suficiente. O mais importante é ter sua energia tão estável quanto possível e sustentável. Mas a sustentabilidade é sustentabilidade, e não uma direção futura a ser seguida. Temos falado sobre os veículos elétricos, assim como eletrificar o transporte. Mas, se não tivermos recursos de energia renovável, não teremos a própria energia”, diz.
“Temos ouvido muito sobre inteligência artificial, mas parece que, no lado da rede, a IA tem realmente ajudado a reduzir o consumo de energia. Não acho que tenhamos todas as respostas, para ser sincero. Às vezes, quando avaliamos as alavancas de descarbonização que as organizações precisam implementar para reduzir as suas emissões, as comparamos com uma espécie de eixo custo versus complexidade”, afirma o sócio da Carbon Trust, Andrew Yague.
“Com a Telefónica na Alemanha, projetamos um site com zero emissão de carbono. Como podemos fazer isso com a energia do gerador do painel solar e depois com o armazenamento de energia? Usamos uma espécie de método líquido. E esse metanol só gera a água e a energia. Antes se usava a gasolina, que gerava carbono. Na China, cooperamos com a China Mobile. E isso tem conexão 5G totalmente voltada para a indústria. E a indústria também precisa economizar no consumo de energia, inclusive para a agricultura. Com a China Mobile, trabalhamos o sistema de irrigação inteligente em que reduzimos o abastecimento de água em torno de 40%”, exemplifica a senior director da Intel, Sindhu Xirasagar.
Mas as métricas ambientais das iniciativas ESG são muitas, e não apenas a renovação de energia ou redução das emissões de gases. A Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), da União Europeia, se integralmente implementada, cobre toda a gama de ESG. “Quero dizer que, especialmente quando se trata de meio ambiente, todos estão interligados e não se consegue a implementação dessas iniciativas sem as práticas de governança e a transição justa nos aspectos sociais”, avalia Yague, da Carbon Trust.
“É preciso levar a organização. Mas, como envolver a organização nisso? Temo que descobrir onde estão os riscos para que, juntos, possamos mitigá-los. Há muito trabalho a ser feito. Precisamos aumentar a conscientização, treinar e divulgar. A estratégia mais eficaz é criar um senso de propriedade dentro do negócio e compreender as complexidades e dificuldades que algumas unidades de negócios ou divisões podem ter em contribuir para seus objetivos ambientais, sociais ou de governança. E desenvolver metas e aspirações com esse tipo de perspectiva em mente”, afirma Freyberg, da A.T. Kearney.
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