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De 3 a 6 de março de 2025 I Barcelona – ESP
Opinião

Um balanço do MWC 2024: tendências que devem ficar no radar aqui no Brasil

Podemos afirmar que o avanço tecnológico nunca foi e nunca será uma ameaça. Ao contrário, o desenvolvimento tecnológico e das novas formas de produzir e trabalhar é fundamental para o progresso das sociedades e dos indivíduos


29 de fevereiro de 2024 - 14h51

A transformação digital é um termo criado pelo ecossistema de comunicações para enfatizar o impacto das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) em todos os setores econômicos. É uma definição que expressa de forma precisa a força disruptiva do avanço tecnológico que estamos presenciando. As novidades são a rapidez e o caráter exponencial dessas mudanças, jamais vistos na História. Só esses fatos são notáveis, mas levemos em consideração também como chegam até nós, ao nosso trabalho, às nossas casas e às nossas famílias. Algumas pessoas estão com medo: “vou perder o emprego por causa da inteligência artificial?”, se perguntam. Outras estão impacientes: “quando vou ter os serviços prometidos com o 5G no meu celular?”, demandam.

Podemos afirmar que o avanço tecnológico nunca foi e nunca será uma ameaça. Ao contrário, o desenvolvimento tecnológico e das novas formas de produzir e trabalhar é fundamental para o progresso das sociedades e dos indivíduos. É força de criatividade e de vanguarda para todos nós. No MWC Barcelona 2024, pudemos constatar essa situação nas novidades apresentadas. Uma coisa é certa: melhores e mais qualificados profissionais já são uma necessidade para que a indústria crie o futuro que queremos na palma da mão. As condições estão dadas e a hora é de colocar a mão na massa.

No entanto, o MWC Barcelona 2024 alertou também que, para que nações como o Brasil não fiquem para trás e de fato aproveitem as oportunidades de geração de novos empregos, de renda e de prosperidade, é necessário muita atenção às infraestruturas básicas necessárias para que a transformação digital aconteça. A transformação da indústria tradicional e a criação de novos negócios, muitos ainda não imaginados, dependem da capacidade do país de prover os requisitos que o futuro exige. Nesse contexto, elenco a seguir quatro condições fundamentais para que a transformação digital da economia brasileira se concretize:

5G e 5.5G: sem a conectividade de banda larga ultrarrápida não é possível criar novos negócios baseados em inteligência artificial e computação em nuvem. Com quase dois anos da chegada do 5G ao Brasil, e com o 5.5G chegando em 2027, percebe-se avanço na infraestrutura para além das obrigações estipuladas no leilão da Anatel. Segundo dados da Conecte 5G, iniciativa setorial das operadoras e da Conexis, o Brasil hoje tem 459 municípios (a maioria grandes e médios), de um total de 5.568, conectados ao 5G, beneficiando mais de 101 milhões de pessoas. Entretanto, nota-se que ainda são necessárias políticas públicas que estimulem a cobertura em outras regiões, especialmente as rurais. A mineração, a geração de energia renovável e a agricultura inteligentes precisam de conexão avançada. Lembrando que o 6G chega em 2030.

IPv6: O IPv6 (Internet Protocol Version 6) é um avanço definido por instituições multilaterais lideradas pelo Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE). Ele define todos os endereços de IP para cada um dos dispositivos conectados à internet. Com o 5G, isso representa centenas de milhões de aparelhos. E não estamos falando somente de celulares e computadores, mas da Internet das Coisas (IoT) e de milhões de carros. O Brasil avança na adoção do IPv6. Atualmente, ocupa o 3o lugar em adoção na América Latina, atrás do Uruguai e do México, e o 22o no mundo. A taxa de adesão brasileira atual está perto de 50%. Para encorajar o mercado, a Anatel está sugerindo metas para 2025, 2027 e 2030. É mais segurança e mais agilidade para a economia digital. Imagine carros autônomos trocando dados em tempo real com a Avenida Paulista?

Inclusão digital e 6 Ghz: o espectro da radiodifusão, um bem público, é administrado no Brasil pela Anatel. No final do ano passado, durante a Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC-23), houve uma decisão, proposta pelo Brasil e outros países, para permitir a divisão da banda de 6 GHz em duas partes. A primeira, de 500 MHz, para o Wi-Fi e a segunda, de 700 MHz, destinada às redes móveis celulares. A posição brasileira foi muito apropriada, pois manteve o país no ecossistema global. Com bandas harmonizadas globalmente, os equipamentos podem ser mais simples e mais baratos, beneficiando a população em geral. Agora no MWC Barcelona 2024, foi confirmada a necessidade de mais espectro para os sistemas móveis. As decisões da WRC-23 deverão ser internalizadas no país para garantir o futuro da banda larga móvel e incrementar a inclusão digital.

Aceleração da inteligência industrial: inteligência artificial aplicada aos setores industriais pode ser definida como o motor da transformação digital da economia. Em 2020, a economia digital do Brasil era de cerca de R$ 1,4 trilhão, correspondendo a 19,4% do PIB, com mais de 10 milhões de empregos. Até 2025, deve chegar a R$ 2,6 trilhões, respondendo por 25,5% do PIB e mais de 14 milhões de empregos. Isso porque a nova fase da industrialização está intimamente ligada à capacidade de incorporar as tecnologias digitais aos ambientes fabris e de criar novos empreendimentos baseados no aprendizado da máquina. Dados, algoritmos e poder computacional são os três pilares da indústria de IA. A força por trás desse progresso está na infraestrutura computacional que deve abarcar a administração de um número infinito de dados por segundo. Isso requer que os países invistam em um parque de datacenters robusto e integrado, além da geração de energia inteligente e renovável.

Para finalizar, uma reflexão: de acordo com a consultoria IDC, as remessas globais de telefones celulares com IA chegarão a 170 milhões em 2024. Isso corresponderá a 15% de todos os envios de encomendas de smartphones. A próxima geração de telefones com IA terá maior capacidade de armazenamento, de visualização e de imagem. Aplicações de conteúdo gerado por IA (Artificial Intelligence Generated Content – AIGC) utilizadas por esses telefones irão gerar centenas de bilhões de dados. Nesse cenário, precisamos nos antecipar e nos preparar para esse novo mundo que é, na verdade, uma criação de todos nós.

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