O sumido Metaverso, as tendências de Retail Media e IA: lições e aprendizados da NRF Big Show
A edição 2024 do maior evento de varejo do mundo deixa certezas, perguntas e um imenso desafio
A edição 2024 do maior evento de varejo do mundo deixa certezas, perguntas e um imenso desafio
18 de janeiro de 2024 - 13h56
A NRF Big Show foi, veio e passou – mas seus efeitos ainda se desdobrarão por meses. Para a plateia brasileira que sempre vai em peso à Nova York, conhecer as novidades do varejo é um belo início de temporada e uma oportunidade importante de fazer um checkpoint anual na evolução do setor.
Era certo que a Inteligência Artificial (IA) seria o grande destaque do evento. O que vimos é que a certeza se concretizou e era muito difícil encontrar um estande na feira que não destacasse “aqui temos IA”. Da mesma forma, muitas palestras procuraram inseri-la como um tema importante ou pelo menos como parte da argumentação.
Por trás de todo esse buzz, porém, vale um grande alerta: nem tudo o que reluz é ouro. É preciso, em primeiro lugar, estar atento para identificar se uma solução efetivamente é capaz de se aprimorar ao longo do tempo ou se ela se limita a executar um algoritmo bem montado. Além disso – e esse é um ponto essencial – a IA só funciona se uma série de condições anteriores for atendida: é preciso ter a capacidade de coletar, organizar, analisar e tomar decisões a partir dos dados, para só então adotar IA.
Assim, se você ainda está nas etapas anteriores, essa não é a hora de investir em Inteligência Artificial – é hora de organizar a arquitetura de dados e a governança de TI para permitir que, no futuro, a IA faça parte do seu negócio.
Retail Media poderá ser a próxima palavras da moda
A principal candidata à buzzword da NRF 2025 é, desde já, a Retail Media. O potencial de crescimento é enorme: segundo a Insider Intelligence, esse mercado saltou de US$ 1 bilhão para US$ 30 bilhões nos EUA nos últimos anos e deve bater os US$ 100 bilhões ainda nesta década.
Por outro lado, com varejistas e indústrias promovendo suas redes de retail media, (mídia de varejo) parece haver muita gente para pouco espaço. Somente nos EUA, existem cerca de 180 redes de com essa solução, uma quantidade inviável para que indústrias e agências trabalhem bem. A própria pressão do mercado forçará uma consolidação – e nesse caso tamanho importa muito: empresas como Walmart, Amazon e Kroger saem com uma enorme vantagem na sua força gravitacional e deverão liderar os movimentos de concentração do setor.
Com isso, dependendo do que acontecer nos próximos meses, o mercado de Retail Media estará efervescente em janeiro de 2025. Ou já será uma questão estrategicamente definida e se limitará às discussões de marketing e publicidade. Veremos!
Esse também era uma certeza absoluta de “tema quente”. O Metaverso, pelo menos como apresentado há dois anos, já caiu em desuso e levou com ele conceitos que apareceram na mesma época, como NFTs. Os conteúdos digitais comercializáveis e não replicáveis estiverem presentes em uma apresentação da Bulgari, como parte do conceito de “digital twins”.
Vale a ressalva de que estamos falando de uma marca de luxo, que, por definição, tem regras muito diferentes do varejo em geral. Como conceito, a ideia de expandir produtos para a esfera digital continua sendo interessante. Afinal de contas, por que um item precisa ser exclusivamente físico ou 100% digital? Se temos um varejo omnichannel, por que não produtos omnichannel?
Essa é uma ideia que ainda vai ganhar novos desdobramentos nos próximos anos, enquanto luta para deixar de ser um nicho. Já o Metaverso precisará encontrar um problema que resolva – caso contrário, continuará limitado ao mundo dos games.
O mercado americano vive um momento de volta da racionalidade. Isso ficou nítido na postura de palestrantes e expositores, que estavam muito pouco interessados em inovações fantásticas e bastante focados em resolver problemas de empresas reais.
Esses momentos são muito mais interessantes, pois oferecem oportunidades claras de ganho de eficiência, saltos de produtividade e aplicações de curto prazo. Neste momento em que as empresas americanas sofrem os efeitos de juros altos e inflação acima do desejado, encontrar soluções que possam impactar a performance do negócio já nos próximos trimestres tem um apelo imenso.
Para os brasileiros que encararam o frio de Nova York para acompanhar o que acontece na NRF Big Show, existe uma pergunta extra – na verdade, a pergunta mais importante: como traduzir, adaptar ou adotar o que está sendo apresentado como tendência (ou já como realidade) no mercado americano?
É neste momento que, muitas vezes, o que é mostrado como uma certeza nos Estados Unidos ganha ares de incerteza por aqui. São culturas e contextos completamente diferentes – e, por isso mesmo, o grande valor da nossa imersão anual em Nova York está na possibilidade de repensar certezas, reimaginar possibilidades e identificar novos caminhos. Voltando com novas perguntas, somos capazes de gerar nossa própria inovação.
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