A consciência é sua
Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?
Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?
21 de novembro de 2024 - 11h16
Quando decidi empreender em 2019, não foi por um desejo cultivado ao longo da minha vida profissional. A decisão veio por falta de opção. Eu havia adoecido em ambientes que definitivamente não eram feitos para mim e naturalmente não me acolhiam bem enquanto pessoa e profissional. Minha consciência percebeu que aquela realidade me machucava e me protegeu. Desde então, penso constantemente em maneiras de me blindar em um mercado que ainda tem questões mal resolvidas com pessoas como eu. O que eu sei é que essa luta precisa de aliados – de pessoas conscientes.
É sobre essa consciência que quero falar, pois estamos no Mês da Consciência Negra. Um momento para refletir sobre a luta antirracista, que precisa ser diária. E quero convidar você, pessoa aliada que está lendo estas palavras, a se perguntar o que a sua consciência diz.
A abolição da escravatura no Brasil ocorreu em 1888. Foram cerca de 300 anos em que pessoas como eu foram tratadas como objetos, produtos. Em anúncios da época, éramos listados como mercadorias, com “features” como “bom para a lida” ou “alto e forte”. Em termos históricos, isso foi praticamente “ontem”. Enquanto imigrantes de outras nacionalidades que vieram ao Brasil em busca de oportunidades tiveram apoio, o povo negro, trazido à força do continente africano, não recebeu nenhuma ajuda após a abolição. Pelo contrário: ganhou uma “liberdade” que mais parecia uma sentença. Jogados nos mocambos e marginalizados, os ex-escravizados ficaram sem acesso à educação, à saúde, à formação profissional e à cidadania.
Desde então, os esforços para marginalizar essas pessoas, foram muitos. No início do século XX, projetos eugenistas pregavam a segregação racial, e alguns dos nomes que os defendiam seguem celebrados até hoje. Nossa humanidade era inaceitável para muitos. E, ainda hoje, continuamos cercados por diversas manifestações do racismo estrutural, nas barreiras invisíveis do mercado e no tratamento desigual em cada canto da sociedade.
Movimentos como a Frente Negra Brasileira começaram a organizar a nossa resistência, lutando para que nossa cultura e identidade fossem preservadas. O Movimento Negro no Brasil passou a batalhar para que, entre outras coisas, a África fosse parte do currículo escolar, como prevê a lei. Estamos em 2024, e ainda que a nossa história seja cristalina na mente de negros e negras deste País, a consciência coletiva segue manchada pelo esquecimento seletivo.
Neste Mês da Consciência Negra, a pergunta que fica é: onde estão as telas pretas de apoio ao movimento Black Lives Matter que vimos em 2020? E o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos – como anda? E o apoio das agências ao Observatório da Diversidade na Propaganda, que prometia monitorar a inclusão racial no mercado?
Fica evidente que algum tipo de reparação histórica é mais do que necessário no Brasil. Sei que a diversidade é boa para os negócios. Isso é irrefutável, comprovado em inúmeras pesquisas que mostram o impacto positivo da inclusão nas equipes e campanhas.
“Mas o Trump foi eleito”. Ora, e isso significa que você, vivendo num país latino-americano com mais da metade da população formada por pretos e pardos, precisa concordar com a agenda estadunidense? Ou vamos valorizar a nossa rica e poderosa cultura local?
A nossa busca por dignidade e inclusão é permanente. Continuaremos, como sempre, defendendo nosso espaço. E a você, que lê estas palavras, deixo um pedido: quando pensar sobre diversidade e inclusão, lembre-se de que a consciência é sua.
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