A perigosa decisão de deixar de ser relevante
Ainda dá tempo para a recuperação. Basta assumir que a realidade mudou. E trabalhar para que a velha relevância reapareça e seja percebida pela audiência
A perigosa decisão de deixar de ser relevante
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A maior ameaça ao futuro dos meios de comunicação é a perda da relevância. Sem ser desejado, esperado, admirado, o veículo deixa escapar a audiência, o público. E com ele se vai qualquer esperança de rentabilizar o negócio. É simples, matemático. Mas os gestores insistem em enxergar qualidades onde não há mais qualquer inteligência, ignoram as mudanças de comportamento da audiência, a estratégia das plataformas. E morrem abraçados às marcas tradicionais.
O quadro é cristalino: durante anos e anos os meios analógicos (jornais, revistas, canais de TV, estações de rádio) viviam da propriedade da notícia. Se alguém quisesse conversar com os amigos sobre qualquer assunto atual necessitava, sim ou sim, seguir pelo menos um veículo de comunicação – muitas vezes vários. E os meios se diferenciavam pela rapidez, pela estética, pelo complemento e, às vezes, por um valor agregado – seja comentaristas ou exclusivas.
Se os veículos eram donos da notícia, eles também angariavam leitores/ouvintes/espectadores – a chamada audiência. O meio era, então, a conexão entre fatos e pessoas. E a inteligência jornalística fazia alguns serem melhores do que outros. Isso se transformava em dinheiro, porque os anunciantes queriam estar perto daquela mesma audiência. E enchiam os espaços com anúncios. Um jogo perfeito.
Só que esse jogo virou, desde que o meio digital tomou conta da sociedade. De repente todo o mundo era um produtor de notícias em potencial. Os veículos tradicionais tentaram capitalizar esse movimento, criando o “jornalista-cidadão”, até o dia em que esse mesmo cidadão entendeu que poderia, ele mesmo, ganhar dinheiro com as contribuições. Mais, as redes sociais agilizaram o processo de aproximação entre as pessoas, sem intermediação dos veículos.
E então os meios tradicionais cometeram o maior pecado possível e comprometeram o futuro: desafiaram a nova lógica.
– Somos os melhores e vamos continuar necessários – dizia um Diretor de Redação.
– Nossa marca é o que garante a informação de qualidade – fazia eco um Gerente.
O problema é que quem decide pela importância e pela necessidade de um veículo é a audiência – não os executivos daquele meio. E a velocidade com que se perde admiradores é assustadoramente maior do que o tempo que se necessita para conquistar novas audiências. A soberba de gestores de jornais, revistas, canais de TV e estações de rádio colaborou para a debacle. Quando os veículos acordaram, já era tarde.
Pior ainda: alguns desinvestiram, reduziram custos em soluções emergenciais. Sem se darem conta, jogavam os últimos resquícios de relevância no lixo. E aceleravam o quadro negativo e, às vezes, irreversível. Puro erro de leitura, trapalhada de quem não entendeu onde estava pisando.
A solução, agora, passa por livrar-se de dogmas. Se as regras do jogo são outras, a capacidade dos líderes também muda. É preciso entender o novo negócio, saber de onde virão as receitas, compreender as necessidades informativas da audiência, oferecer conteúdos importantes, qualificados e necessários, propor aos anunciantes novas formas de parceria, admitir que classificados acabou, que a circulação paga por exemplares impressos será cada vez menor, que a circulação digital, por sua vez, sempre maior – ainda que não se possa cobrar, no início, os mesmos preços que se praticavam pelas assinaturas de veículos impressos.
Não é uma missão para amadores, muito pelo contrário. Sem estratégia, sem um planejamento adequado, não se chega a lugar algum. O primeiro passo é admitir que se continuarmos pensando o negócio jornalismo da mesma forma do ano 2000, por exemplo, os veículos vão quebrar antes de 2025.
Ainda dá tempo para a recuperação. Basta assumir que a realidade mudou. E trabalhar para que a velha relevância reapareça e seja percebida pela audiência.
*Crédito da foto no topo: Ajwad Creative/iStock
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