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Quantas potenciais líderes deixaram empresas ou mesmo suas carreiras desestimuladas pela falta de representatividade feminina e de oportunidades em cargos executivos?
Quantas potenciais líderes deixaram empresas ou mesmo suas carreiras desestimuladas pela falta de representatividade feminina e de oportunidades em cargos executivos?
Das enquadradas que aqui e ali tomamos ao longo da vida, as mais constrangedoras, pelo grau de assertividade e sinceridade, costumam partir das crianças. Helena, minha filha de oito anos, me deixa sem palavras e um quê envergonhado ao corrigir meu uso estereotipado dos artigos, o que fazia mesmo antes da alfabetização. Acontece quando falo sobre “os filhos” de um casal, por exemplo — “é um filho e uma filha, né, pai”, afirma, com tom generoso e professoral, mas incisivo. Ou quando me refiro a uma profissão específica no plural, mas já determinando o gênero masculino como dominante, como em “médicos”.
Na semana passada, artigo publicado pelo Advertising Age abordou a questão sob a ótica dos redatores.
“Isso é básico: espanhol, português, italiano, francês e outras línguas romanas não são inclusivas nem neutras quanto a gênero. Adjetivos, pronomes e substantivos são masculinos (terminando geralmente em “o”) ou femininos (terminando em “a”). Você fala sobre um menino ou uma menina. Ao se referir a ambos, no plural, então a forma masculina prevalece. Simples assim”, escreveu o diretor executivo de criação da agência Orci, Juan José Quintana.
No texto, o autor elencou os desafios de se escrever textos publicitários para a população hispânica nos Estados Unidos dentro do espírito do tempo atual, em que o avanço da pauta pela igualdade de gêneros e pela diversidade leva a sociedade a rever comportamentos, hábitos, processos e pensamentos enraizados na nossa cultura e história, influenciando nossas ideias e tomadas de decisões.
Para Quintana, é óbvio que a língua deve se modificar e se adaptar aos tempos, ao opinar que o bom e velho espanhol parece um tanto quanto sexista, discriminatório e, às vezes, estereotipado. “Às vezes, a língua espanhola reforça estereótipos, como assumir que a secretária ou a animadora de torcidas serão sempre uma mulher”, citou.
Está aí um prato cheio para um acalorado embate nas redes sociais.
Isolados os extremismos próprios dos discursos binários postados sem compromisso com a busca de um caminho comum em meio a tantas nuances, uma observação acurada e diálogos com diferentes grupos da sociedade podem indicar o quanto antigos estereótipos e preconceitos seguem sendo reforçados e institucionalizados simplesmente por continuarmos a repetir expressões e a replicar modelos instituídos quando a informação e o conhecimento disponíveis no mundo ainda estavam em sua era proterozoica, quando comparadas ao que temos hoje em dia.
Helena, acredito que como muitas meninas de sua geração, não foi educada para reconhecer a ascendência masculina em nossa cultura. Sua indignação ao uso genérico do artigo masculino como regra para definir pessoas de ambos os sexos no plural acontece também quando se depara com situações cotidianas e histórias nas quais os protagonistas são exclusivamente homens. A ausência de diversidade faz com que ela questione a legitimidade. Foi assim tanto quando percebeu que dentre os 12 apóstolos não havia uma só mulher, quanto ao descobrir que as competições de futebol são divididas entre masculinas e femininas. Em ambos os casos, seu interesse pelo assunto arrefeceu, quando não se viu representada. Esse é um insight transformador para as corporações, tanto em suas relações com o público quanto com seus colaboradores.
Quantas potenciais líderes deixaram empresas ou mesmo suas carreiras desestimuladas pela falta de representatividade feminina e de oportunidades em cargos executivos?
“Quando educamos a sociedade de uma forma diferente, essa transformação acontece”, afirma Marcia Esteves, presidente da Grey, uma das raras mulheres a ocupar o cargo máximo de liderança de uma agência de grande porte no País.
Marcia é uma das sete homenageadas da edição brasileira do Women To Watch, organizado no País por Meio & Mensagem desde 2013 e criado pelo Advertising Age em 1997, nos Estados Unidos, para destacar os talentos femininos que vêm fazendo a diferença na indústria da comunicação.
O perfil dela e os de Danielle Bibas, Debora Nitta, Ellen Kiss, Laura Chiavone, Maria Laura Nicotero e Mônica de Carvalho estão publicados a partir da página 12 da edição impressa do Meio & Mensagem e são assinados pelas repórteres Bárbara Sacchitiello, Isabella Lessa e Karina Balan Julio.
*Crédito da foto no topo: Dom J/Pexels
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