Mídia: borboletas pensando como lagartas
Rádios, Jornais, Revistas e emissoras de Televisão encontram dificuldades para perceber que são diferenciadas apenas pela sua história, pela árvore onde nasceram e viveram como lagartas
Rádios, Jornais, Revistas e emissoras de Televisão encontram dificuldades para perceber que são diferenciadas apenas pela sua história, pela árvore onde nasceram e viveram como lagartas
19 de setembro de 2018 - 18h50
Imagine-se como uma lagarta que, após toda uma vida morando numa única árvore e se alimentando de suas folhas, passa por um dramático processo de metamorfose e ganha asas.
Podendo voar, seu mundo não se restringe mais à velha árvore. Você já não precisa se alimentar de folhas. Seu alimento, agora, é o néctar das plantas, principalmente das flores. E enquanto se alimenta, você ajuda a polinizar o mundo, contribuindo para a reprodução das espécies. Uma realidade totalmente nova, com um potencial infinitamente mais interessante do que a anterior, para você e para o mundo ao seu redor, e com uma beleza capaz de capturar a atenção de todos.
Essa é uma boa metáfora analógica para a transformação digital do Universo da Mídia.
A evolução tecnológica das últimas décadas provocou uma significativa metamorfose em todos os veículos de comunicação. Deixaram de ser definidos pelos seus verticais de produção e distribuição de conteúdos. Transformaram-se em marcas de mídia, curadoras e amplificadoras da informação, capazes de interagir com o consumidor e capturar sua atenção em qualquer lugar do tempo ou do espaço. Seu modelo de negócio ganhou fluidez e maiores possibilidades colaborativas.
Mas, curiosamente, a vida como borboleta parece não ser tão próspera, apesar do seu imenso potencial.
Observando o que ocorre no mundo da mídia, e abusando da metáfora, poderíamos dizer que as novas borboletas ainda pensam como lagartas. Têm dificuldade para deixar sua árvore, mudar sua alimentação e voar para esse mundo de novas possibilidades.
Rádios, Jornais, Revistas e emissoras de Televisão encontram dificuldades para perceber que são diferenciadas apenas pela sua história, pela árvore onde nasceram e viveram como lagartas.
Na semana passada fui entrevistado pelo programa ‘Observatório E’, da Radio Trianon AM, no horário do almoço. Embora sua concessão seja de Santo André, ela transmite para São Paulo, onde moro. Mas é muito difícil sintonizar rádios AM na cidade. A frequência mais baixa demanda receptores potentes e com antenas maiores, e a transmissão é mais sujeita a interferências locais do que o FM. Entretanto, tecnologicamente, a Trianon AM já deixou sua árvore. A entrevista foi transmitida via ‘streaming’ de áudio e vídeo (sim, vídeo) em tempo real, disponibilizada para acesso posterior no ‘canal’ do programa no Youtube e divulgada através de redes sociais como o Facebook e o Instagram. Poderia ter sido transformada em texto para leitura (creio que não foi). Em resumo, ‘Trianon AM’ e ‘Observatório E’ são marcas de mídia multiplataforma, desenvolvendo seu expertise transmidiático. Estão abrindo suas asas e aprendendo a voar. Ao transmitir o áudio em tempo real, através da Internet, se equipara às rádios FM. O live streaming de vídeo a coloca, na forma, em pé de igualdade com canais de Televisão. Se optasse por transformar o conteúdo em texto, publicando-o em seu site com a diagramação adequada, o formato seria semelhante ao de Revistas e Jornais digitais. Possivelmente, o acesso via Rádio AM talvez já seja a opção de menos relevante de contato com seu conteúdo.
Esse mesmo raciocínio vale para todas as outras marcas de mídia. De um modo geral, estão experimentando suas novas asas, mas ainda voando nas proximidades de sua árvore, de onde sempre retiraram o alimento necessário à sobrevivência e ao desenvolvimento.
O grande desafio para o novo mundo de possibilidades é a monetização.
Marketing e Comunicação são atividades vitais para todas as organizações. O sucesso de seu negócio depende dessas atividades e há pouca disposição para correr riscos, principalmente num cenário recessivo como o que vivemos.
Novas formas de comunicação carecem de métricas universalmente aceitas para sua avaliação, e as normas de ‘compliance’ das grandes empresas exigem a comprovação dos resultados dos investimentos e a transparência dos processos de decisão.
Num cenário que permite maior protagonismo do consumidor na construção do discurso das marcas, e que já conheceu algumas histórias ‘trágicas’, todo cuidado é pouco.
O que é novo, e ainda não tem parâmetros para valorização, é considerado arriscado para o anunciante, que também está aprendendo.
Como o ‘anúncio’ é o alimento da fase de lagarta, nossas borboletas precisam voar para mais longe de suas árvores para encontrar o néctar da transformação digital.
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