Os Jetsons finalmente chegaram
E junto com o avanço das tecnologias, a ansiedade é o divertidamente não tão divertido assim..
E junto com o avanço das tecnologias, a ansiedade é o divertidamente não tão divertido assim..
Apesar dos carros inteligentes e a assistente Rosie ainda não estarem entre nós, os Jetsons, uma animação futurista produzida em 1962 que relatava o cotidiano de uma família hiper tecnológica e conectada, previam algumas tecnologias futuristas que hoje são partes ‘’normais’’ e importantes no nosso dia a dia. Tv de tela plana, relógio assistentes, ‘’robôs’’ e tecnologias como a Alexa. Até mesmo nossas cotidianas e comuns videochamadas, assim como Os Jetsons viviam lá em 2062.
No entanto, junto com a tecnologia e a revolução digital, veio a hiperconectividade. Assim como no filme Divertidamente 2, onde uma nova emoção aparece na vida de Riley, a ansiedade tornou-se uma presença constante em nosso cotidiano, tão presente quanto a própria tecnologia, No Brasil, 62,6% das pessoas sentem alto nível de ansiedade, de acordo com teste aplicado pela Guia da Alma, startup de soluções de saúde mental, em 2023. Trabalhamos, ouvimos música, enviamos mensagens, rolamos o feed do Instagram — tudo isso ao mesmo tempo. Esse excesso de conexão pode não só criar, como agravar problemas psíquicos.
O Brasil, por exemplo, é o segundo país onde as pessoas passam mais tempo conectadas, com uma média de 9h13 por dia, segundo o Relatório Digital 2024: Billion Social Media Users, publicado em parceria pela We Are Social e Meltwater. Esse dado reflete como a vida digital intensiva está intrinsecamente ligada ao aumento dos níveis de ansiedade, mostrando que, apesar dos muitos benefícios que a tecnologia nos oferece, ela também traz desafios significativos para nossa saúde mental.
Tecnologia: vilã ou aliada?
É necessário compreender que a tecnologia é um meio, então ela pode ser utilizada tanto para coisas boas, como para coisas ruins. Por exemplo as redes sociais: o objetivo é conectar pessoas, facilitar o compartilhamento de conteúdo e criar um senso de comunidade, promovendo engajamento e descoberta de novas oportunidades. Contudo, no cenário capitalista, a experiência busca manter a pessoa usuária cada vez mais conectada, porque quanto mais online, mais disposta a receber propagandas e a comprar a pessoa usuária está.
Nesse cenário, a tecnologia pode até ser vista como vilã, mas não tem como negar e entender o quanto os avanços tecnológicos e futuristas previstos pelos Jetsons trouxeram avanços para a nossa sociedade. Na medicina, na educação, na eficiência e produtividade, a tecnologia tem o poder de conectar e transformar muitos cenários positivamente, hoje vivemos em um ‘’mundo menor’’, no qual qualquer pessoa com internet tem acesso à informação e vivemos uma democratização do conhecimento.
Em um mundo onde ainda existem muitas barreiras físicas e sociais, a tecnologia rompe fronteiras, possibilitando que diferentes pessoas se conectem e formem comunidades, independentemente de onde estejam. Disseminando conteúdos, aumentando a visibilidade e ecoando a voz de grupos que são subjugados e vítimas de preconceito na sociedade.
Mesmo nesse cenário, a tecnologia tem sido uma importante aliada na promoção da diversidade e inclusão, facilitando o acesso à informação e à educação, permitindo a criação de comunidades seguras e fortalecendo movimentos de luta por direitos. Com o uso das redes sociais, grupos historicamente marginalizados encontram espaços de apoio, visibilidade e pertencimento, especialmente em locais onde a diversidade é menos aceita. Além disso, a tecnologia oferece acesso a recursos de saúde mental, como telemedicina e fóruns, proporcionando suporte crucial para quem enfrenta discriminação ou isolamento.
Muitos desses recursos, em sua maioria positivos, foram previstos pelos Jetsons, As videoconferências realizadas por George Jetson, por exemplo, são uma prática comum, facilitando nossa comunicação diária, especialmente em um mundo cada vez mais remoto e conectado. A empregada-robô Rosie, que cuidava das tarefas domésticas, é um precursor claro das assistentes virtuais e inteligentes que usamos atualmente, como Alexa, Google Assistant e Siri. Além disso, a automação doméstica, com robôs que aspiram, limpam e até organizam nossas casas, reflete um futuro que os Jetsons imaginaram e que hoje é parte da nossa realidade.
Com as novas tecnologias, também temos novos humanos e novos comportamentos se fazem necessários para lidar, de forma saudável, com o novo contexto, adotar hábitos saudáveis é o melhor caminho para enfrentar com qualidade os benefícios e desafios que a tecnologia traz, para que ela continue sendo uma aliada, e não uma mina de ansiedade. Limitar o tempo de uso das redes sociais, por exemplo, é uma possibilidade de buscar equilíbrio no offline para uma vida mais saudável no mundo real. Para as organizações, também é possível buscar um caminho para uma cultura digital saudável e inclusiva dentro das empresas, que incentive o uso responsável da tecnologia (menos whats e mais slack/teams..).
É essencial que aprendamos a usar a tecnologia de forma equilibrada, aproveitando seus benefícios sem comprometer nossa saúde mental e qualidade de vida. Como destaca Camila Vidal no livro Ansioso e Agora?, “vivemos em uma época em que a velocidade da informação e a necessidade de estar constantemente conectado nos mantêm em estado de alerta, o que contribui para o aumento da ansiedade.” Não podemos permitir que a Ansiedade, assim como em Divertidamente 2, anule e ofusque outras emoções.
Assim como o Brasil, passou por um movimento importante de conscientização do uso do cigarro, diminuindo drasticamente o número de fumantes através de campanhas educativas e regulamentações, o uso consciente da tecnologia segue um caminho parecido. Naquela época, foi necessário reconhecer o impacto nocivo do cigarro na saúde pública e agir de forma preventiva. Da mesma maneira, hoje é preciso reconhecer os efeitos do uso excessivo da tecnologia e promover uma cultura de equilíbrio, onde a tecnologia seja utilizada de forma saudável e responsável, evitando que os seus malefícios superam seus benefícios.
Acredito que em breve, veremos uma integração ainda maior entre diferentes tecnologias. No ambiente digital, nossas assistentes virtuais, como Siri, Alexa e até o ChatGPT, estarão conectadas de forma mais profunda aos nossos dispositivos, como o Apple Vision Pro, tornando-se nossos ‘’avatares’’ online. No mundo físico, esses avatares poderão se manifestar como robôs pessoais, ajudando em tarefas cotidianas, como carregar compras ou oferecer suporte em questões de segurança.
Estamos em um período de descoberta de novas tecnologias e amadurecimento das já existentes. No meio desse cenário, estamos nós, servindo como cobaias em um sistema capitalista que nos pressiona a encontrar alternativas para manter um mínimo de saúde e impacto social no mundo, enquanto ainda somos forçados a pensar em como lucrar com tudo isso.
Como diz Grazi Mendes, “os Futuros Desejáveis acontecem primeiro nos sonhos”. Etao, que sonhemos futuros menos ansiosos e mais saudáveis. Precisamos pensar em novos humanos para utilizarem essas novas tecnologias.
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