Filantech: a tecnologia aplicada ao terceiro setor
Infineat promove, por meio de plataforma, a conexão de indústrias e supermercados com instituições que precisam de alimentos
Filantech: a tecnologia aplicada ao terceiro setor
BuscarInfineat promove, por meio de plataforma, a conexão de indústrias e supermercados com instituições que precisam de alimentos
Caio Fulgêncio
23 de março de 2023 - 12h38
Filantech, como o próprio nome especifica, é a junção das palavras de filantropia e tecnologia, um formato de negócio ainda pouco conhecido no Brasil. Precursora do termo, a Infineat tem como core a gestão de desperdício de alimentos por meio de soluções tecnológicas. A iniciativa voltada para o terceiro setor surgiu em forma de ONG em 2017, mas ganhou complexidade e o formato de startup no final de 2020.
Alexandre Vasserman, CEO da empresa, explica que a Infineat criou o termo para definir o posicionamento de um novo tipo de negócio e, dessa forma, potencializar o impacto no mercado. Atualmente, a empresa é composta por dez pessoas e atende cinco estados, com o projeto inicial de expandir para outros lugares do País.
Segundo o executivo, a filantech se baseia na filosofia “altruísmo eficaz”, conhecida no terceiro setor, que diz respeito à aplicação de evidências e razão para beneficiar os outros. Sendo assim, a Infineat se propõe a conectar estabelecimentos doadores a instituições que precisam de alimentos.
Apesar de existirem grupos filantrópicos que usam a tecnologia no dia a dia, a nomenclatura “filantech” ainda não foi apropriada. Por isso, de acordo com o CEO, existe grande espaço para o desenvolvimento do setor. Para explorar o tema e comentar como soluções tecnológicas podem modernizar a filantropia, Vasserman conversou com Meio & Mensagem.
Meio & Mensagem – Como a tecnologia pode ser inserida no contexto do terceiro setor?
Alexandre Vasserman – Ao conectar supermercados, indústrias e produtores a uma rede de instituições parceiras, via plataforma proprietária, conseguimos capilarizar o impacto de forma sem precedentes para os quatro cantos do País. Instituições que, até então, não tinham acesso ao alimento ou tinham que pagar caro por ele, hoje, conseguem esse alimento a custo praticamente zero, só se responsabilizando pela logística. A tecnologia, nesse contexto, é o meio para fazer isso tudo acontecer. Nossa plataforma funciona como um web-app que permite o controle de todas as operações que ocorrem diariamente entre cada empresa parceira e as instituições que coletam os produtos. Todos os dias, a partir de cada rota logística, a ferramenta colhe dados detalhados referentes aos produtos que foram redirecionados (como categoria e tipo de produto). Ao desenvolver um produto tecnológico, torna-se possível escalar a solução e, portanto, potencializar o impacto social de maneira sem precedentes.
M&M – Quais as possibilidades para uma filantech? O que é possível alcançar por meio de soluções tecnológicas para modernizar a filantropia?
Vasserman – A ideia por traz da criação do termo filantech, para além da explicação do conceito, diz respeito a uma reinvenção desse setor, ainda cheio de amarras, malvisto, mal investido e subvalorizado. O serviço filantrópico tem o poder de dialogar diretamente com quem mais precisa, entendendo suas necessidades reais e podendo agir diretamente na vida dessas pessoas. Costuma-se acionar ONGs/entidades/instituições em momentos extremos. Então, o fluxo de dinheiro e de atenção de pessoas e empresas é enorme, pois são quem consegue atuar na ponta para não deixar a sociedade colapsar ou uma calamidade completa ocorrer. Foi assim na pandemia, foi assim agora no desastre do Litoral Norte, e é assim diariamente com relação a fome, por exemplo. Imagine o que será possível realizar se investimentos massivos estiverem focadas em encontrar soluções criativas e tecnológicas na criação de inúmeras filantechs, em diversas áreas? Seria uma revolução socioeconômica completa.
M&M – Como você entende que filantechs se inserem nas conversas sobre ESG? Qual é a importância delas nesse contexto?
Vasserman – Costumo dizer que a filantech é o ESG raiz, pois lidamos de forma estrutural em todas as áreas que fazem parte dessa agenda. Hoje, na Infineat, praticamente tudo está ligado – da sustentabilidade ao jurídico; dos colaboradores de loja às metas da diretoria. No social, o impacto é direto na vida de milhares de pessoas que, diariamente, recebem os alimentos. Em relação ao meio ambiente, nós evitamos que toneladas de alimentos em boas condições sejam enviados para lixões, aterros ou incineração. Já na governança, possibilitamos a unificação de absolutamente todos os dados e visibilidade do impacto que está sendo gerado nos detalhes.
M&M – Acredita que esse modelo de negócio pode ser aplicado para qualquer trabalho filantrópico?
Vasserman – Não. Assim como qualquer outro setor existente no mercado, há certos modelos de trabalho e soluções que não são escaláveis, seja porque demandam mão de obra intensiva, são muito custosos ou até mesmo resolvem o problema de poucos. Isso acontece também no trabalho filantrópico. Há muito sendo feito, mas que não é eficaz e, portanto, esse modelo não funcionaria. É preciso focar estrategicamente no que resolve, de forma escalonável, grandes problemas.
Compartilhe
Veja também
Canva: sete tendências de design para 2025
Relatório identifica sete tendências que mostram como será o trabalho e a criatividade no ano que vem.
O que falta para que a TV 3.0 seja implantada no Brasil?
Ecossistema encara desafios como custo e aquisição de novos receptores e sincronia entre redes das geradoras e retransmissoras