O soft power do Brasil

9 de outubro de 2024 - 12h24

O Brasil sempre se destacou internacionalmente pelo seu “soft power” – uma forma de poder não coercitivo, baseada na capacidade de influenciar através da cultura, das ideias e das artes. Esse conceito, cunhado pelo cientista político Joseph Nye, aplica-se perfeitamente ao Brasil, que há décadas exporta música, cinema, arte e uma diversidade cultural incomparável.

A música brasileira é um dos pilares mais poderosos do seu soft power. Desde a Bossa Nova, com João Gilberto e Tom Jobim, até o Tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, a música brasileira transcendeu fronteiras e moldou tendências ao redor do mundo. Em 2024, Caetano Veloso e Maria Bethânia, dois ícones do Tropicalismo e da MPB, voltaram a se reunir em uma turnê histórica. Os irmãos baianos não apenas celebram décadas de carreira, mas também representam o Brasil como um farol de cultura musical sofisticada, emocional e universal.

A turnê de Caetano e Bethânia é mais do que uma série de espetáculos: é um símbolo da influência da música brasileira na formação da identidade nacional e sua capacidade de emocionar gerações. Com sua rica mistura de influências africanas, indígenas e europeias, nossa música ecoa um sentimento de diversidade e resistência cultural que ressoa no mundo todo.

O cinema é outro veículo poderoso do soft power do Brasil. Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem se destacado por uma narrativa social forte, refletindo questões locais com um olhar universal. Walter Salles, um dos cineastas brasileiros mais reconhecidos internacionalmente, voltou a nos colocar em evidência no cenário internacional com o filme “Ainda Estou Aqui”, aclamado no Festival de Veneza.

Salles, conhecido por filmes como “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta”, é um mestre em criar histórias que capturam a alma do Brasil, enquanto são acessíveis ao público global. Sua nova obra, que teve destaque no Festival de Veneza, reafirma a capacidade do Brasil de produzir cinema de alta qualidade, com profundidade emocional e relevância social. O sucesso no cinema não é apenas uma conquista individual, mas também uma prova de que o Brasil continua a ser uma voz importante no diálogo cinematográfico global.

Nas artes, o Brasil é um grande ponto de encontro entre a natureza e a arte contemporânea. Talvez não haja melhor exemplo desse soft poder do que o Instituto Inhotim, localizado em Brumadinho, Minas Gerais. Com 140 hectares de jardins botânicos e instalações de arte contemporânea, Inhotim é o maior museu a céu aberto do mundo. Ele combina arte e paisagem de forma única, atraindo turistas e amantes da arte de todas as partes do globo.

Inhotim não é apenas um espaço de exposição de arte, mas um lugar de contemplação e educação ambiental. Ele personifica a conexão íntima entre o Brasil e sua biodiversidade, ao mesmo tempo que mostra a importância da arte como forma de expressão cultural e política. Com obras de artistas brasileiros, como Adriana Varejão e Cildo Meireles, além de nomes internacionais, o instituto representa a sofisticação e a contemporaneidade da arte brasileira no cenário mundial.

De Caetano e Bethânia, passando por Walter Salles e Inhotim, essas são representações concretas do soft power brasileiro em ação. A música, o cinema e as artes são instrumentos que constroem pontes culturais, promovem diálogos globais e influenciam percepções de maneira sutil, mas profunda.

O soft power do Brasil continua a ser uma ferramenta fundamental na projeção de sua identidade no mundo, especialmente em tempos de globalização, em que o intercâmbio cultural é mais intenso do que nunca. Ao promover sua cultura de maneira autêntica, nosso país não apenas celebra suas raízes, mas também molda o futuro, reafirmando-se como um player cultural indispensável no cenário internacional.

“E viva a bossa, sa, sa…”