Quando os “carros voadores” decolarão no Brasil?
Os eVTOLs prometem revolucionar a mobilidade urbana nos próximos anos, mas a falta de regulamentação e o alto investimento ainda são entraves ao setor
Quando os “carros voadores” decolarão no Brasil?
BuscarOs eVTOLs prometem revolucionar a mobilidade urbana nos próximos anos, mas a falta de regulamentação e o alto investimento ainda são entraves ao setor
Renan Honorato
10 de junho de 2024 - 6h03
De Blade Runner aos Jetsons, o entretenimento já explorou os conceitos de “carros voadores” em diferentes cores, formas e potências. Porém, no mundo real, essa nova tecnologia exige outros cuidados, como regulamentação eficiente e o barateamento do acesso. Apesar desses desafios, os “carros voadores” estão mais próximos da realidade do que o senso comum supõe.
Popularmente conhecidos como “carros elétricos”, na prática, os automotores elétricos de propulsão vertical são aeronaves semelhantes a pequenos helicópteros. Contudo, ao invés de terem apenas uma hélice principal, os eVTOLs (electric vertical take-off and landing) têm, em média, quatro sistemas de autogiro. Emerson Granemann, fundador e CEO do MundoGEO, afirma que esse sistema elétrico multilateral de propulsão permite que esses veículos sejam mais silenciosos, sustentáveis e ocupem menos espaço nas cidades.
Em regiões da Ásia, onde estão concentradas as startups desse setor, a China é o local com maiores avanços regulatórios nesse quesito. Este ano, o país emitiu as primeiras licenças para a produção desse tipo de modal para empresas que concentram as atividades em altitudes de até mil metros ao nível do mar. Até o momento, duas empresas chinesas receberam sinal positivo da Civil Aviation Administration of China (Caac) para operarem em determinadas rotas. Em março, foi a vez da AutoFlight. A EHang já havia recebido a autorização em outubro do ano passado.
Além disso, na Europa, a Volocopter anunciou que, para os Jogos Olímpicos de Paris, o táxi aéreo estaria disponível em cinco conexões. “Se a Volocopter vai voar em Paris, o que eu não tenho certeza, talvez devamos pensar o seguinte: uma coisa é ele ser usado para transportar jornalistas e atletas em escala. A outra coisa é que, talvez, seja apenas um voo de marketing”, diz.
No Brasil, a Embraer criou, em 2020, unidade para explorar as tecnologias associadas às aeronaves de pouso vertical. No ano passado, a Eve Air Mobility anunciou a criação de planta industrial em Taubaté (SP). Apesar disso, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda não formalizou o quadro regulatório para os eVTOLs, mesmo que já tenha pedidos de aprovação para três modelos. “O eVTOL é um avião, então, a segurança tem que ser total”, diz Granemann. A Anac tem avaliado outros dois modelos, além daquele em desenvolvimento pela Eve, que são da Lilium Air Mobility e da Vertical Aerospace.
O executivo explica que existem algumas fases para a aplicação dessa tecnologia. Primeiro, as empresas recebem a permissão para operarem em voos de teste e, em seguida, em pequenos trajetos. Esses trajetos serão específicos e delimitados, como entre aeroportos ou cidades próximas, tal qual São Paulo e São José dos Campos. “No futuro, as empresas de aviação podem criar táxis aéreos que busquem os passageiros em vertiportos próximos das suas casas”, comenta. Nesse sentido, em razão dos investimentos em infraestruturas de aterrissagem e decolagem – os vertiportos – e pela própria aquisição de eVTOLs, ele destaca que as aquisições sejam concentradas no segemnto business-to-business (B2B).
Ao mesmo tempo, o Oriente Médio tem se mostrado como região com alto potencial de mercado, como destaca o executivo. Em Dubai, por exemplo, existem planos para que táxis aéreos sejam adotados nos próximos anos. Na Arábia Saudita, como desdobramento dos planos de cidades inteligentes, os órgãos regulamentadores têm acompanhado o debate ativamente. Outros países, como Israel, Catar e Bahrein, também estão a par do tema, apesar de ainda não terem demonstrado avanços na regulamentação do modal.
Segundo levantamento da Avantto, São Paulo e Rio de Janeiro representam um mercado de eVTOL de, aproximadamente, 10 mil unidades, com receita de US$ 7,3 bilhões até 2040. Mesmo assim, o Brasil deve ter os primeiros testes apenas em 2026. Até lá, o MundoGEO tem organizado anualmente a feira de exposições sobre o tema, a Expo eVTOL, que reúne empresas como Azul Linhas Aéreas e Gol.
Durante a edição deste ano, por exemplo, o executivo da Gol mencionou que a infraestrutura disponível de helipontos não é suficiente para esse incremento no trânsito aéreo. Apesar disso, como destaca Granemann, os pontos de decolagem serão menores do que os tradicionais heliportos em razão do formato mais esguio dos “carros voadores”. Atualmente, o modelo da EHang, por exemplo, voa com dois lugares para passageiros. Porém, existem empresas que estão desenvolvendo aeronaves autônomas com capacidade para seis pessoas.
Por serem veículos elétricos, os eVTOLs são bem-vistos quando o assunto é sustentabilidade e redução de gases do efeito estufa (GEE), assim como os carros elétricos. “Se for para compararmos carro elétrico com eVTOL, em sustentabilidade, são similares. Porém, do ponto de vista da mobilidade, quanto mais carros elétricos, o trânsito continua igual. Vamos ter menos carros a combustão engarrafados e mais carros elétricos parados”, diz. Em entrevista ao Nikkei Asia, o vice-presidente da XPeng AeroHT diz estar desenvolvendo protótipos híbridos que possam tanto voar quanto rodar nas estradas.
A estimativa é que esse veículo híbrido custe US$ 140 mil, aproximadamente, o que movimenta outro debate: a democratização do acesso. Na Índia, a japonesa SkyDrive, em parceria com a Suzuki Motor, planeja começar a operar em 2027 no país. Os executivos alegam que o valor do táxi aéreo por eVTOL será semelhante ao modelo convencional, algo entre US$ 1 e US$ 2 por quilômetro.
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