Computação quântica: o que é e quando chega?
IBM e Google dividem potencial e desafios do desenvolvimento da computação quântica no SXSW
IBM e Google dividem potencial e desafios do desenvolvimento da computação quântica no SXSW
Thaís Monteiro
12 de março de 2025 - 21h50
Simultânea a corrida pela liderança no desenvolvimento da inteligência artificial, as big techs mergulham em outro tema que mobiliza grandes investimentos e promete descobertas: a computação quântica.
CEO e presidente da IBM, Arvind Krishna, defende uso de IA como ferramenta e não substituto do trabalho humano (Crédito: Thaís Monteiro)
A tecnologia deve chegar ao mercado até o fim desta década, anunciou o CEO e presidente da IBM, Arvind Krishna, em seu painel como keynote speaker do festival. Ao descrever o que é a computação quântica, Krishna disse que é como álgebra usando esteróides. Ao invés de determinística, ela vira probabilística. Consegue resolver contas que o computador simples não consegue.
Em cinco anos, o Google espera mostrar algumas das aplicações da tecnologia ao mercado. Em dezembro do ano passado, a empresa lançou o Willow, um processador quântico supercondutor de 105 qubits que visa ajudar no desenvolvimento da tecnologia, otimizar sistemas e trazer avanços para a inteligência artificial. A IBM também desenvolve processadores, plataformas em nuvem que dão acesso a computadores e algoritmos quânticos e conta com ferramentas em código aberto para programar computadores quânticos, permitindo simulação e execução de algoritmos.
O poder da computação quântica no marketing
A computação quântica permitirá a descoberta de uma série de informações e processos que ainda são um mistério para a ciência, algo que a inteligência artificial ainda não faz. “A IA aprende de conhecimentos já postos. Vou dar um exemplo simples. A maioria das pessoas bebe refrigerante, café ou chá. Essas bebidas contam com uma molécula de cafeína, que nos dá um pico de energia. Sabemos que a molécula nos dá energia. Não temos ideia do porquê. Não acho que a IA vai nos dizer. Ela pode mostrar o formato da molécula de cafeína, como seus 160 elétrons se comportam, mas compreender como isso acontece é algo que a mecânica quântica vai nos permitir fazer, chegar a esse nível de conhecimento subatômico. Ela nos mostra como a natureza se comporta. E, uma vez que entendermos isso, poderemos aprender muito mais, porque nada disso faz parte do conhecimento já existente”. descreveu Krishna, da IBM.
Ambos os tipos de computação – a que conhecemos hoje e a quântica – serão complementares, afirma a COO do Google Quantum AI, Charina Chou. A computação quântica será mais uma ferramenta utilizada pelo público no futuro para compreender questões ligadas à química, biologia e demais disciplinas. Potencialmente, a computação quântica vai ajudar na resolução de problemas climáticos envolvendo energia e, quem sabe, ajudar no desenvolvimento de uma cura para o câncer, indicou Charina.
COO do Google Quantum AI, Charina Chou, acredita que computação quântica pode resolver questões climáticas e acelerar a descoberta da cura para o câncer (Crédito: Thaís Monteiro)
“Falamos sobre a capacidade de entender a natureza de forma fundamental. Isso resolve questões como a pesquisa sobre o câncer e as oportunidades para novos produtos farmacêuticos. Tem implicações em muitas outras áreas. Para baterias melhores, células solares mais eficientes, energia de fusão, reações químicas aprimoradas e um uso mais eficiente da energia, de maneira geral. Algumas pessoas dirão que a crise climática que enfrentamos é, na verdade, a principal razão para buscar a computação quântica”, colocou. Charina supõe que a computação quântica também possa provar a existência de um multiverso.
Todo esse trabalho exige uma grande infraestrutura. Segundo Charina, do Google, a aplicação depende de uma média de 100 milhões de qubits (unidade de informação quântica). Para chegar nesse número, as empresas deverão investir na produção em escala de qubits confiáveis e minimizar os erros cometidos por essas unidades de informação. Os qubits precisam ser armazenados em ambientes gelados, que não podem sofrer influência de energia, barulho e micro-ondas do meio ambiente.
A IBM vai inaugurar um centro de algoritmo quântico no campus de Illinois que estuda computação quântica. Em 2019, o estado investiu US$ 200 milhões na criação deste campus com o objetivo de ser líder nacional no estudo dessa tecnologia. Para o executivo da IBM é oferecer infraestrutura para que os talentos se especializem na tecnologia.
Para Charina Chou, do Google, o investimento em pesquisa e o financiamento público do governo é essencial para que os Estados Unidos saia à frente nas soluções ligadas à computação quântica. “Temos visto muitos progressos em computação quântica vindo da China. O Projeto Genoma Humano ou a corrida para a Lua não teriam sido possíveis apenas pelos cientistas. Também não teriam sido possíveis apenas por uma única empresa. Eles exigiram, de fato, investimento governamental e, em muitos casos, diplomacia internacional para avançar as tecnologias”, afirmou.
Presente em uma parte do keynote da IBM, o governador de Illinois, JB Pritzker, afirmou que espera que a segunda administração de Trump continue a ver a computação quântica como um investimento importante. “Temos que ser líderes globais no desenvolvimento tanto em IA quanto em computação quântica, porque isso vai determinar se nossa economia continuará sendo líder ou não no próximo século”, colocou.
Conforme a executiva do Google, o investimento em computação quântica no governo dos EUA teve início no primeiro governo de Donald Trump, em 2018. O investimento continuou no governo de Joe Biden e a expectativa dos profissionais da área é que essa seja uma prioridade para o novo governo Trump, já que a tecnologia é fundamental para a segurança nacional uma vez que a tecnologia tem o potencial de quebrar criptografias de plataformas de comunicação. Adicionalmente, é necessário investimentos em softwares, logística e em uma força de trabalho eficiente.
Questionado sobre as divisões geopolíticas por conta da tecnologia, Krishna, da IBM, afirmou que, embora a geopolítica tenha mudado um pouco, o globalismo se mantém. “A geopolítica ficou fora do nosso caminho por cerca de 80 anos. Agora está de volta. Não significa que o globalismo morreu. Vai haver mudanças de rotas em relação à cadeia de suprimentos. Novas economias estão entrando no mercado. Um estudo feito em 1800 dizia que cada aumento de 10% no comércio global leva a um aumento de 1% no imposto local. Para otimizar o local, tem que ir pro comércio global”, descreveu.
Também na sua entrevista, o CEO da IBM negou que a IA vai substituir 90% do trabalho de codificação. Para ele, esse número fica na casa dos 20 a 30%. Isso não significa eliminar o trabalho de 30% dos programadores. O ideal, para ele, é que a IA auxilie o mesmo número de programadores de uma empresa a produzir 30% a mais de códigos, o que geraria um ciclo vicioso e virtuoso de produtividade. “As pesquisas mostram que as empresas mais produtivas ganham market share e aí você consegue produzir mais produtos, o que gera, de novo, mais market share”, disse.
Para o executivo, a inteligência artificial já se mostra eficiente para descoberta de remédios, para a primeira fase de testes clínicos e novas descobertas terapêuticas. “Ao mesmo tempo, lidar com o corpo humano é complicado. Precisamos ter protocolos rígidos quanto a isso”, ponderou.
Para criativos, a IA é uma ferramenta. Segundo Krishna, o mesmo questionamento da substituição foi feito a respeito das calculadoras e sobre o Photoshop. O executivo alerta que deve haver um olhar mais cuidadoso para a propriedade intelectual, que é um problema ainda não resolvido. Porém, a tecnologia pode ajudar artistas em alguns processos criativos.
O presidente da empresa opina que os modelos de linguagem atuais falham em entregar conteúdo especializado. Ele também acredita que no futuro, a IA deve se tornar mais barata e gastar menos energia, como o DeepSeek.
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