O maior impacto da IA é a solidão e não o trabalho, aponta Galloway
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O maior impacto da IA é a solidão e não o trabalho, aponta Galloway

Entre as suas previsões, o professor da NYU destacou o avanço de Nvidia e OpenAI, o foco em mercados emergentes e um possível IPO da Shein


9 de março de 2025 - 10h46

Um dos responsáveis por pautar a discussão sobre uma epidemia de solidão no South by o Southwest, no ano passado, Scott Galloway voltou ao festival reforçando o seu alerta. Para ele, o maior impacto da inteligência artificial não será a substituição de empregos. Mas, sim, a solidão. “Eu não vejo nenhuma razão que faria a inteligência artificial diferente de qualquer outra tecnologia”, defendeu.

Maior impacto da IA

Scott Galloway no SXSW 2025 (Crédito: Reprodução/ SXSW)

“Acho que a maior ameaça nos Estados Unidos agora é, na verdade, a solidão. E as empresas mais inteligentes e ricas do mundo, com a maior concentração de tecnologia da informação da história, basicamente têm uma única missão: tentar convencer os jovens, principalmente os homens jovens, de que eles podem ter uma imitação razoável da vida em uma tela, através de um algoritmo. Por que passar pelo esforço de fazer algo diferente isso? Para fazer amigos? Você tem o Reddit e o Discord”, refletiu Galloway.

Ele citou o exemplo das Girlfriends AI, modelos de IA conversacional, que interagem como parceiras dos usuários. Os homens jovens seriam os mais suscetíveis a esse isolamento que ele descreve como um sequestro da tecnologia. “Os homens jovens estão se isolando da sociedade. Eles não estão se conectando ao trabalho, à escola ou a relacionamentos. Isso os torna extremamente propensos a teorias da conspiração e a conteúdos misóginos”, descreveu o empreendedor e professor da New York University.

Mas, além de alertar para escalada de solidão do mundo, Galloway apresentou suas previsões para o ano de 2025. Confira os destaques:

Open AI e Nvidia

Definidas por Galloway como o casal de poder de 2025, as companhias representariam para onde o mundo está se direcionando. “A era atual será dominada por OpenAI e Nvidia, ou podemos chamar de Open Vidia. A Nvidia domina o mercado de GPUs [unidades de processamento gráfico] como poucas empresas dominaram seus setores no passado. O ChatGPT responde por 90% das consultas no momento. A disputa por talentos nessa área é extraordinária. Se você encontrar uma maneira de usar o termo IA seis vezes no seu perfil do LinkedIn, suas chances de receber um contato aumentam em 40%, porque os bots estão procurando pessoas com habilidades em inteligência artificial”, apontou Galloway.

Stakeholders x shareholders

O que o professor da NYU considerou como sua maior previsão para o ano é o fato de que os stakeholders, pessoas afetadas pelas decisões de uma companhia, serão mais beneficiadas pelas inovações que os shareholders, acionistas. Ele citou exemplos como as vacinas, o transporte a jato e os computadores que não tiveram seu valor e impacto revertido aos acionistas. Para ele, o mesmo deve acontecer com a IA.

“Haverá poucas empresas, especialmente na camada de modelos de linguagem. Acho que veremos algumas na camada de aplicação, provavelmente a Nvidia, mas não acredito que será uma era dourada para os acionistas. Acredito que será a era dourada dos stakeholders, em que os verdadeiros benefícios vão se acumular para a sociedade e os consumidores. Porém, haverá menos empresas dominantes do que imaginávamos inicialmente”. Ainda assim, ele crava que a companhia que deve fazer o maior avanço em IA nos próximos doze meses será a Meta.

Mercados emergentes

A concentração dos investimentos neste ano estará fora dos Estados Unidos. Para afirmar isso, Galloway se apoia em uma análise do múltiplo preço/lucro pelo qual um mercado está sendo negociado. A supervalorização dos EUA o tornaria um mercado caro com retornos menores na próxima década.  “Este gráfico mostra os períodos em que os mercados internacionais superaram o mercado dos EUA e vice-versa. Como você pode ver, é um ciclo bastante definido, com períodos prolongados de desempenho superior ou inferior que variam entre 5 e 15 anos. Atualmente, o mercado dos EUA está superando os mercados internacionais há 16 anos”, descreveu o empreendedor. Os EUA também estariam afastando o capital ao abandonar alianças e acordos comerciais.

Youtube e podcasts

Enquanto o Youtube deve ser a plataforma de 2025, os podcasts serão a mídia do ano. Do lado do Youtube, para Galloway, pesa a quantidade de horas assistidas. “Ainda não está monetizando no mesmo ritmo que algumas das outras grandes plataformas sustentadas por anúncios, apesar de haver uma enorme quantidade de capital humano criando conteúdo gratuito”, descreve. Já entre os podcasts, além do crescimento acelerado, haveria a possibilidade de acessar um público propenso ao consumo. Mas o professor cita problemas de monetização.

“Existem cerca de 3,2 milhões de podcasts. Desses, 600 mil produzem conteúdo toda semana e 10 são responsáveis por mais de um terço de toda a audiência”, e ele continua: “Mas, dos 600 mil podcasts que publicam conteúdo toda semana, talvez 600 sejam economicamente autossustentáveis”.

IPO da Shein

Apesar de reconhecer o movimento como controverso, Galloway acredita que o maior IPO de 2025 será o da plataforma moda chinesa Shein. Para ele, o valor de mercado da Shein estaria subvalorizado dada a atenção e a quantidade de tempo que os consumidores dedicam à plataforma. Enquanto varejistas tradicionais lançariam cem peças por semana, a Shein disponibiliza sete mil por dia. Além disso, o modelo de negócio da companhia seria capaz de oferecer uma margem alta de lucro para os acionistas.

“A Shein não tem fábricas, caminhões, centros de distribuição, armazéns ou lojas. É literalmente um software que usa IA para analisar padrões de tráfego e de compras no site e, com base nisso, consegue prever a demanda, envia ordens de requisição para diferentes fábricas em sua cadeia de suprimentos e começa a organizar uma rede de transporte”, explica.

Banimento dos celulares

No Brasil, em fevereiro, entrou em vigor a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas. Para o professor da NYU, globalmente, o banimento de celulares será o grande movimento tecnológico de 2025. “8,5% de nossos filhos e adolescentes são clinicamente viciados em drogas ou álcool. 25% são clinicamente viciados em mídias sociais, em um momento em que seus cérebros estão sendo moldados. Quase metade dos adolescentes diz que usa a internet quase o tempo todo. E, em um dia típico, eles recebem cerca de 230 notificações. A maneira mais rápida de melhorar as notas nas escolas é simplesmente proibir os celulares”, aponta o empreendedor.

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