Renato Camargo, da Pague Menos: tecnologia e o acesso à saúde
No SXSW, companhia busca startups e soluções que possam melhorar a qualidade do autosserviço no universo farmacêutico e tornar a saúde menos elitista
No SXSW, companhia busca startups e soluções que possam melhorar a qualidade do autosserviço no universo farmacêutico e tornar a saúde menos elitista
Taís Farias
7 de março de 2025 - 14h22
Há treze anos, o universo da saúde e do bem-estar foi incorporado pela primeira vez como uma trilha principal entre as conferências do South by Southwest. Lá, no início dos anos 2010, o investimento das startups em rastreamento de dados biométricos para o desenvolvimento de wearables e o avanço da telemedicina levaram o SXSW a incluir discussões sobre saúde digital e inovação médica na pauta.
Renato Camargo, VP de clientes da Pague Menos: “A saúde ainda é vista, no Brasil, como cara, elitista e inacessível” (Crédito: Divulgação)
Empresas, como Fitbit e a gigante Apple, se estabeleceram com aplicativos e gadgets de monitoramento de saúde. De 2020 para cá, a pandemia da Covid-19 acelerou as discussões sobre inovação na saúde, com o papel das realidades virtual e aumentada na realização de procedimentos e treinamento médico, o desenvolvimento de medicações, a bioimpressão de órgãos e novas terapias genéticas.
Em 2025, no total, a trilha Health & MedTech conta com 83 painéis que debatem desde a crise de credibilidade na ciência moderna até como reconstruir um cérebro humano em laboratório. Esse histórico atrai para o evento companhias como a rede de farmácias brasileira, Pague Menos que busca no festival entender como a tecnologia pode facilitar um primeiro atendimento ao paciente. No primeiro dia de evento do SXSW 2025, Renato Camargo, vice-presidente de clientes da Pague Menos, divide suas expectativas e analisa o cenário. Confira:
Meio & Mensagem – Qual sua expectativa para o SXSW 2025? Qual o papel e a importância do evento?
Renato Camargo – A expectativa para o evento está muito alta. Acho que esse é o ano que teve mais gente do Brasil vindo ao evento. Inúmeros grupos e delegações. Eu fico bastante feliz com isso, porque mostra a importância para os brasileiros da inovação, da tecnologia, da disrupção, que é sobre o que o evento trata. A importância é justamente essa. É um evento que não é clássico, por si. Ele não joga dentro de temas muito quadradinhos, ele pega a disrupção, a inovação. Pega temas que são completamente transversais, mas de maneira muito lúdica e pensando em como melhorar o agora lá na frente. Tem muita gente que fala que esse evento é o FOMO, o Fear of Missing Out. Eu falo que é o HOMO, o Happy of Missing Out, porque esse sentimento de não conseguir ver tudo é bacana, porque te faz voltar para o ano que vem. Te faz querer buscar mais sobre aquilo que você não conseguiu ver. Ou, então, buscar mais sobre aquilo que você conseguiu ver. É importante isso porque, quando o evento se esgota nele mesmo, é um evento normal, tradicional, como todos os outros. Eu prefiro um evento mais HOMO do que um evento FOMO, porque te traz aquela provocação constante.
M&M – O SXSW é conhecido por ser um centro de inovação tecnológica. Há alguma tecnologia ou tendência que você espera ver no festival que poderia impactar o setor farmacêutico ou a forma como a Pague Menos se conecta com seus clientes?
Renato – Apesar de ser meio batido, para mim, o mais importante é como a inteligência artificial vai impactar forte o setor farmacêutico. Já está impactando, especialmente a generativa, mas como ela vai impactar o processo de atendimento do cliente de saúde? Especialmente, a atenção primária. Como vamos fazer essa disrupção, como vai acelerar, trazendo mais acesso à saúde. Um dos pontos mais importantes do varejo farmacêutico é como você encurta a jornada do cliente naquele primeiro mal-estar, naquela primeira doença, quando ainda está na atenção primária. Uma dor de cabeça, uma dor de estômago. Coisas simples que acabam sobrecarregando os prontos-socorros e os postos de saúde e poderiam ser resolvidas na farmácia do lado de casa. Então, como a inteligência artificial ou, qualquer outro meio e ferramenta que possa trazer a disrupção vai fazer com que essa jornada para a resolução daquele primeiro atendimento possa ser mais fluida, mais simples, mais rápida e possa avançar, especialmente, em um país com tanta carência quanto o Brasil.
M&M – Como a Pague Menos está integrando suas operações físicas e digitais para criar uma experiência omnicanal, e o que você espera do SXSW em termos de soluções para essa integração?
Renato – Em relação à junção, o cliente não pode perceber a diferença entre canais e tampouco nós, como companhia, temos que dizer se o cliente vai pegar este ou aquele canal. Não tem prioridade no canal. Nós temos todos os canais e o cliente escolhe como ele quer comprar, como ele vai retirar. Isso é o mais importante. Mas importante também é fazer com que o cliente não veja diferença entre eles. Tem gente que vai comprar em uma empresa que tem um canal físico e digital. No digital, é uma experiência. No físico, é outra. Inclusive, quando integram, eles [os canais] nem conseguem conversar. Temos esse grande desafio. É um desafio que já estamos superando e ele não pode perceber esta diferença entre um e outro. Tem que estar 100% integrado. Então, o que eu quero ver são tecnologias que mostrem ao cliente que, independente do canal de compra, ele sempre vai estar no centro, em uma jornada fluida. Mas, sobretudo, como que ele navega com facilidade e autosserviço, porque o cliente quer cada vez mais – por mais que estejamos falando de saúde – ele quer ter o autosserviço. Mas um autosserviço com qualidade. O Dr. Google é muito complicado e muito existente no Brasil ainda. As pessoas, quando sentem alguma coisa, perguntam para o Google ou para a vizinha. Então, ao invés de fazer isso, como você trata com responsabilidade sua saúde e perguntando para a tecnologia, seja ela qual for, que é o que eu quero ver aqui no evento. E você tem apoio para resolver logo ali. Esse suporte à distância ajuda o paciente, quando estiver sentindo alguma coisa, a fazer sua compra, a fazer seu autosserviço, seja uma telemedicina ou qual for a tecnologia que será apresentado aqui para resolver o seu problema, sem precisar novamente ir a um posto de saúde e sobrecarregar todo o sistema de saúde público e privado.
M&M – O evento é reconhecido como um local para formar novas parcerias. A Pague Menos está explorando colaborações com outras marcas ou startups que participaram do SXSW?
Renato –Parceria sempre foi a cara da Pague Menos. Então, sim, vamos conversar com a maioria das startups. Ou pelo menos tentar conversar com a maioria das startups focadas em saúde aqui ou outras até que ajudem, obviamente, dentro desse ecossistema de saúde. Tem muita coisa nova surgindo. É claro que, dentro da saúde, as coisas demoram um pouco mais do que outras, porque é um ambiente super regulamentado e, com toda razão, porque estamos tratando da saúde das pessoas. Mas, Pague Menos sempre fechou muitas parcerias. É nisso que acabamos crescendo. Para poder navegar o Brasil inteiro, sendo uma empresa que nasceu no Nordeste, ela sempre buscou parcerias para poder ter maior capilaridade e crescimento. O SXSW veio com uma boa solução para nós. Então, estamos explorando colaboração, sim.
M&M – Quais são os maiores desafios e oportunidades que você vê para o setor farmacêutico no Brasil, especialmente no marketing, e como a Pague Menos está lidando com esses aspectos?
Renato – Olha, os grandes desafios e oportunidades que temos no setor farmacêutico é fazer com que o consumidor tenha acesso à saúde. A saúde ainda é vista, no Brasil, como cara, elitista e inacessível. Especialmente no público da Pague Menos que, em sua grande maioria, é do nordeste, classes B e C. Fazer com que ele entenda que é possível. Então, temos trabalhado muito em conteúdos que abordam a saúde de maneira leve, com prevenção. Dá resultado. Não é simplesmente chegar e falar: “vamos falar sobre diabetes”. Não, vamos falar sobre algo que pode ser complicado para você, que você tem que olhar os sintomas, porque lá na frente pode ser muito pior, se você não cuidar. Quando você trata de uma maneira mais leve, mais tranquila, faz conteúdos, trabalha a comunicação, trabalha o marketing, todas as etapas do funil, acaba fazendo com que o cliente se sinta à vontade. Ele vê que não é cara, que é acessível, que está ali do lado dele, em cada uma das 1.700 farmácias da Pague Menos, ou de outras marcas concorrentes. Isso acaba reduzindo a sobrecarga no sistema de saúde público e privado, porque as pessoas não necessariamente precisam ir para um posto de saúde, para um hospital, logo no primeiro sintoma. Ele pode resolver na farmácia e, depois, tem o encaminhamento. Ou, então, a própria farmácia, no papel de adesão ao tratamento. O brasileiro tem que tomar medicamento por 12 meses. Toma por quatro e acha que está bom. Depois, no quinto, sexto mês, fica doente de novo. O farmacêutico e a farmácia vêm para isso. A essas tecnologias e o marketing mostram para o cliente que ele está continuamente tendo o suporte. A farmácia é esse braço para atendê-lo. Inclusive, porque tem o farmacêutico amigo que está ali do lado. Nós usamos muito esse papel do protagonismo do farmacêutico nas comunicações. Acabamos, dentro do marketing, reduzindo um pouco dos velhos paradigmas que limitam um pouco a inovação, com inúmeras regras, bloqueios, resoluções. Algumas resoluções, dentro do sistema de saúde brasileiro, são de 1940. Especialmente depois da pandemia, que veio a telemedicina, os testes, exames rápidos e isso mudou completamente a questão de manter coisas muito antigas ainda em alta. O marketing vem para quebrar isso e fazer com que as pessoas se sintam cada vez melhores e cada vez mais saudáveis.
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