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Opinião

A pasta do amor e a espuma do mar

Um mergulho para avaliarmos as pequenas ações que ficam 


21 de novembro de 2024 - 6h15

(Crédito: Shutterstock)

“Vivemos exclusivamente no presente, pois sempre e eternamente é o dia de hoje e o dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado das coisas neste momento.” As palavras de Clarice Lispector, com sua profunda sensibilidade, ecoam e me convidam a uma imersão na natureza efêmera do tempo e na beleza singular de cada instante.   

Clarice, com sua lucidez, nos lembra que o passado é apenas um rastro de lembranças, o futuro uma miragem distante. O presente, que se desenrola diante de nós, é a única realidade tangível. A eternidade, então, reside na intensidade do momento, na singularidade de cada ação. 

Em uma sociedade que nos impele a correr em direção ao futuro, a planejar, a conquistar, é fácil nos perdermos na ansiedade do amanhã e nos lamentos do ontem. Esquecemos, muitas vezes, de contemplar a beleza que nos cerca, que por muitas vezes, nos parece pequena demais… pequenos tesouros que se perdem na correria do dia a dia. 

Recordo-me de um dia ensolarado na Bahia, caminhando pela areia ao lado da Sofia, uma menina de dez anos. Em meio à conversa, perguntei-lhe qual era seu prato predileto. “Pasta do amor”, respondeu ela com um brilho nos olhos. Intrigada, pedi que me explicasse, afinal, eu não esperava um apelido para o prato. E então, Sofia descreveu como ela e sua mãe preparavam juntas um simples macarrão, escolhendo cada ingrediente com cuidado e carinho. O que tornava aquele prato especial, descobri, não era a receita em si, mas o amor compartilhado, a conexão profunda entre mãe e filha. 

Mais tarde, enquanto o sol se despedia, a espuma das ondas quebrando na praia me transportou de volta para a minha infância. Lembro-me de como minha mãe e eu ficávamos no mar, enquanto esperávamos ansiosas pela próxima onda. Diferente de outras crianças, que se alegravam em pular e mergulhar nas ondas, nós encontrávamos magia em um ritual singular: “lavar roupa”. Cada onda que quebrava trazia consigo uma nova leva de espuma branca, e as esfregávamos em nossas “roupas imaginárias”, rindo e inventando nossas próprias histórias.  

A “pasta do amor” e a “espuma do mar” – duas lembranças aparentemente banais que carregam em si a essência da eternidade de Clarice –, me ensinam que a verdadeira riqueza reside nos pequenos momentos, nas experiências compartilhadas, nas conexões que tecemos ao longo do caminho. 

Essa é exatamente a mesma relação que tecemos no nosso dia a dia. Em qualquer situação. A atenção plena nos torna mais conscientes de nossa experiência sensorial, de cada cheiro, sabor, textura. Nos conecta com pensamentos e emoções, permitindo que os observemos sem julgamento. 

Em nossos múltiplos papéis – mulheres, mães, filhas, amigas, executivas, líderes – a presença e a intencionalidade se tornam um farol. Nos relacionamentos, nas tarefas do dia a dia, nos momentos de desafio e de conquista, essa atenção nos guia melhor. 

Uma reunião de trabalho, por exemplo, pode ser apenas mais um compromisso na agenda, ou pode se transformar em uma oportunidade de conexão genuína, de troca de ideias, de colaboração. A forma como nos apresentamos, como ouvimos, como nos expressamos, tudo isso contribui para criar uma experiência significativa para nós e para aqueles que nos cercam. 

Maya Angelou nos lembra: “As pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou o que você disse, mas elas sempre lembrarão como você as fez sentir”.  

Que possamos, então, cultivar a presença não apenas em grandes eventos, mas também nos pequenos gestos do cotidiano – pequenas atitudes que podem gerar grandes impactos. Afinal, são as emoções, as conexões, as experiências que marcam a nossa história e a história daqueles que cruzam o nosso caminho. 

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