Como superar a ansiedade e a autossabotagem na carreira
Dominar um assunto não é suficiente: para uma comunicação profissional eficiente, é essencial sentir-se segura em todos os aspectos
Como superar a ansiedade e a autossabotagem na carreira
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18 de março de 2025 - 9h59
(Crédito: Shutterstock)
Desde muito antes de me tornar líder, eu já sabia que estaria no palco um dia, palestrando e participando de eventos. Trabalhei para isso. Entendi que falar em público faz parte da jornada de qualquer profissional que busca crescer na carreira corporativa. Mas não foi fácil.
Além da formação e do conhecimento sobre os temas que abordo, percebi que apenas dominar o assunto não bastava. A ansiedade muitas vezes nasce da insegurança, e eu precisava me sentir segura em todos os aspectos, não apenas intelectualmente. A autossabotagem era uma ameaça real e, assustadoramente, familiar.
Sei que não estou sozinha. Em 1973, Richard H. Bruskin, um britânico que lutou na Segunda Guerra e fez carreira no marketing, liderou uma pesquisa que revelou que o medo de falar em público supera até o medo da morte. Décadas depois, em 2015, um novo estudo com três mil participantes confirmou essa realidade: para 41% dos entrevistados, a glossofobia — o pavor de se apresentar para grandes grupos — era mais assustadora do que o próprio fim da vida.
Essa realidade não é exclusiva dos britânicos. Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicada em 2018, mostrou que seis em cada dez estudantes brasileiros enfrentam esse mesmo desafio. Como seguir carreira acadêmica sem conseguir dar aulas ou apresentar resultados de pesquisa? Essa dificuldade pode ser um obstáculo significativo para o avanço profissional.
O estudo ainda identificou sintomas físicos como tremores, suor excessivo, mãos frias, rubor no rosto, taquicardia e respiração acelerada entre aqueles que sofrem ao falar em público. São sinais clássicos de transtornos de ansiedade. “O medo é uma resposta emocional a uma ameaça real ou imaginária. A ansiedade é uma antecipação de um perigo futuro”, resume o estudo — traduzindo, de forma científica, uma sensação que muitas de nós já vivenciamos. Eu, certamente, já estive nesse lugar.
Se você trabalha com comunicação, marketing ou vendas, provavelmente se identificou com esses desafios. Mas mesmo profissionais de outras áreas podem se surpreender ao perceber que, apesar de serem formados, treinados e experientes, muitos ainda enfrentam dificuldades para se expressar diante de determinadas situações. Isso acontece porque a ansiedade está no cerne da comunicação profissional.
Mostrar resultados, transmitir confiança e ter respostas na ponta da língua são exigências constantes. Para mulheres em cargos de liderança, o desafio é ainda maior. Pesquisas indicam que somos vistas como altamente capacitadas para liderar áreas de comunicação, mas, na prática, ainda precisamos provar nosso valor diariamente. E expressar nossa ansiedade pode ser interpretado como falta de competência, minando nossa credibilidade.
Esse ciclo alimenta a autossabotagem, também conhecida como a famosa síndrome do impostor: será que eu realmente deveria estar aqui? Como posso liderar se conheço tão bem minhas próprias limitações?
O medo de errar e de expor inseguranças nos paralisa. Mesmo com alto nível acadêmico, experiência profissional e conhecimento aprofundado do setor, podemos ficar travadas. Mas é possível, e necessário, romper esse ciclo. Não acontece do dia para a noite, mas, com autoconhecimento e valorização de nossas capacidades, conseguimos reverter esse processo.
Trabalhar o lado emocional e psicológico não só melhora a vida profissional, como também traz benefícios para todas as áreas da vida. No caso específico da comunicação pública, algumas técnicas podem apoiar esse processo de superação. Compartilho aqui as estratégias que fizeram diferença na minha jornada, na esperança de que possam inspirar outras mulheres.
– Aprimoramento da comunicação: Investi em cursos de oratória para aprender técnicas que tornam a comunicação mais clara e segura. Percebi que não basta conhecer um tema; é fundamental saber como transmiti-lo de maneira eficaz;
– Autoconfiança na prática: Meu sotaque já me gerou insegurança. Aprendi que não precisava mudá-lo, mas sim usá-lo a meu favor, desenvolvendo melhor dicção, postura e contato visual com o público. A confiança se constrói passo a passo: iniciar uma fala de maneira firme ajuda a fortalecer nossa musculatura emocional e reduz a ansiedade com o tempo;
– Técnicas para lidar com imprevistos: Saber que, se eu esquecer algo em uma palestra, posso recorrer a estratégias para retomar o raciocínio sem desespero trouxe uma tranquilidade enorme;
– Cuidado com a ilusão da segurança absoluta: Nem sempre as pessoas mais seguras são as mais preparadas. Muitas vezes, elas apenas dominam técnicas de oratória;
– Conforto acima de padrões estéticos: Sentir-se confortável com a roupa que veste faz uma grande diferença. Muitas vezes, achamos que precisamos seguir um certo padrão — como usar salto alto ou roupas mais ajustadas — para parecer mais elegantes. Mas a autoconfiança não vem do salto. Se ele te faz sentir bem, ótimo! Mas, se for um incômodo, melhor optar por algo que permita mais liberdade e segurança.
Esse último ponto foi transformador para mim. Durante anos, usei roupas desconfortáveis para atender aos “padrões” mais aceitos pela sociedade, prendendo a respiração para disfarçar inseguranças. Mas isso apenas me deixava tensa e distraída, desviando o foco do que realmente importava: minha mensagem e minha conexão com o público.
Infelizmente, essa é uma realidade que pesa mais sobre as mulheres. Enquanto os homens podem usar roupas mais soltas e sapatos confortáveis sem preocupações, nós ainda enfrentamos uma série de exigências estéticas. E, muitas vezes, nos preocupamos tanto com esses detalhes que acabamos nos sabotando, desviando a atenção do que realmente importa: nossa voz, nosso conhecimento e nossa autenticidade.
Superar a ansiedade e a autossabotagem é um processo contínuo. Mas, ao trabalharmos nossa segurança interna, ganhamos mais do que uma comunicação eficaz: conquistamos espaço, respeito e a liberdade de sermos quem realmente somos.
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