O poder dos quietos
Inspirada pelo livro "O Poder dos Quietos", de Susan Cain, a colunista faz um paralelo com a importância de personas low profile no meio corporativo
Inspirada pelo livro "O Poder dos Quietos", de Susan Cain, a colunista faz um paralelo com a importância de personas low profile no meio corporativo
18 de abril de 2023 - 9h08
Nesta coluna, eu gostaria de testar um formato diferente. Não sei você, mas eu sou dessas pessoas que sempre tira ótimos insights dos filmes e séries que vejo, das palestras a que assisto, dos livros que leio e dos podcasts que escuto.
Então, pensei em compartilhar algumas reflexões que tive a partir de um livro bem interessante, que parece autoajuda, mas não é: “O Poder dos Quietos”, de Susan Cain.
A autora parte da ideia de que toda a nossa sociedade contemporânea é projetada para os extrovertidos – aquelas pessoas que gostam de se expressar, de estarem rodeadas de gente e preferem ambientes mais agitados – e não para introvertidos, aqueles que se saem melhores em espaços mais calmos e silenciosos, sem tanta movimentação social.
De acordo com Susan, são as pessoas mais extrovertidas que costumam se destacar nas interações sociais e no mercado de trabalho, enquanto a introversão é considerada uma espécie de defeito que deve ser consertado. Para ela, porém, a introversão não é uma inadequação social, mas sim um traço de personalidade subestimado, e que pode, inclusive, ser muito valioso! De acordo com a autora, essa característica é uma força poderosa. E, para embasar seu ponto de vista, nos apresenta vários estudos e pesquisas apontando que pessoas introvertidas tendem a ser reflexivas, criativas e cuidadosas, qualidades fundamentais para o meio corporativo. Isso faz com que tenham potencial para serem grandes líderes.
Fiquei pensando muito sobre essas informações e como as agências, e o mercado em geral, não estão preparados para explorar ao máximo o potencial dos introvertidos. Nas agências de comunicação, que são ambientes mais cool, é muito comum que somente a galera extrovertida, que adora estar rodeada de outras pessoas e fala o que pensa sem inibição, se destaque. É como se outras formas de ser e agir ou se comunicar não coubessem direito nesse tipo de ambiente.
E isso é muito louco porque, lendo o livro da Susan Cain, e observando muitos colegas com quem trabalhei ao longo da minha carreira, percebi que as pessoas introvertidas têm muito a acrescentar!
Introvertidos, extrovertidos e o trabalho
Muitas das pessoas mais imaginativas, ousadas e atentas aos detalhes que conheci eram, de certa forma, mais quietas. Não digo antissociais, nem mesmo tímidas: simplesmente pessoas que ficam mais na delas, não falam e nem agitam o tempo todo e são mais observadoras. E essas características, acredito, que podem ser muito úteis para o nosso mercado publicitário, já que exige criatividade, cuidado e empatia na hora de planejar campanhas de sucesso.
Embora a maior parte dos espaços de trabalho seja moldada em um estilo mais extrovertido, quem não se encaixa nesse padrão pode ser levado a crer que precisa se adaptar ou ficará de fora. Só que isso não é verdade. As pessoas mais quietas podem ter sucesso em várias áreas da vida, desde que saibam usar os pontos fortes de sua personalidade a seu favor. No que diz respeito à liderança, pessoas introvertidas também podem ser tão eficientes quanto as extrovertidas. A diferença é que elas costumam adotar um estilo de liderança diferente, optando por ouvir de forma mais atenta e delegar mais tarefas.
No livro, temos alguns dados interessantes sobre isso. Por exemplo, estudos de laboratório apontaram que os introvertidos tendem a ter maior atividade cerebral na parte responsável pelo processamento sensorial e da cognição interna do que os extrovertidos. Talvez por isso, costumam ser muito criativos. Não à toa, grandes obras artísticas e científicas foram criadas por pessoas consideradas introvertidas.
Diversidade e inclusão
Outro ponto que me fez refletir bastante diz respeito à relação entre esse assunto e a pauta da diversidade nas empresas. Hoje, felizmente, estamos muito mais conscientes da necessidade de tornar o ambiente de trabalho cada vez mais rico e plural. Iniciativas de incluir mulheres, pessoas pretas ou pardas, indígenas, pessoas com deficiência, membros da comunidade LGBTQ+ vêm se fortalecendo cada vez mais, e essas bandeiras nunca poderão deixar de ser levantadas. No entanto, quando o assunto são traços de personalidade, ainda há um longo caminho a trilhar. Nossa cultura supervaloriza certas características consideradas desejáveis, como a extroversão, e tende a menosprezar as pessoas introvertidas, ignorando seu potencial. O certo, na verdade, seria celebrar e apoiar as características, quaisquer que sejam elas, que fazem cada pessoa ser única. A pluralidade só enriquece.
Compreender e valorizar cada aspecto da personalidade humana, pode ajudar as empresas a construírem uma cultura corporativa mais inclusiva e diversa. Isso se reflete também nos resultados, já que equipes com diferentes formas de pensar tendem a ter ideias mais interessantes.
Fecho essa pauta com uma citação do livro de Susan que talvez te faça pensar:
“O poder dos quietos não está apenas em suas vozes baixas, mas também em sua capacidade de se concentrar, de pensar profundamente e de produzir trabalhos de alta qualidade. Eles podem ser os solucionadores de problemas criativos, os visionários e os inovadores que impulsionam o progresso em todos os campos.”
Não é isso, afinal, o que queremos alcançar com nossas ações e campanhas?
Compartilhe
Veja também
Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?
Agências, anunciantes e pesquisadores discutem como a indústria pode ser uma aliada na pauta antirracista, sobretudo frente ao recorte de gênero
Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções
A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica