Como tornar homens aliados da igualdade de gênero
Se quisermos promover uma mudança ampla nas nossas organizações e relações sociais, é importante envolvê-los nessa conversa
Como tornar homens aliados da igualdade de gênero
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11 de março de 2024 - 18h01
O título deste artigo é bastante ousado, por isso gostaria de já adiantar um ponto importante: eu não tenho todas as respostas. Digo isso porque a frase que encabeça esse texto parece ser a pergunta de um milhão de dólares para muitos movimentos organizados de mulheres, sobretudo nas empresas.
Mesmo não trazendo tantas respostas, eu espero apresentar uma perspectiva interessante. Enquanto uma mulher trans, posso dizer que já vi e vivi os dois lados da moeda. Considerando que nos primeiros 25 anos da minha vida eu fui uma pessoa que era lida enquanto homem e que estava bem inserida nesse meio, pude compreender, em minúcias, como eles pensam.
De outro lado, trabalhando hoje como consultora de inclusão corporativa, acompanho a frustração nas mulheres que se esforçam em promover a igualdade de gênero em suas empresas. É assustador olhar para o público de uma palestra sobre respeito às mulheres e não encontrar sequer um homem participando ativamente.
Entendo que a existência de fóruns exclusivos para mulheres é algo importante. Precisamos de espaços de troca, onde tenhamos liberdade e segurança para compartilhar nossos desafios e buscar inspirações. Porém, se quisermos promover uma mudança ampla nas nossas organizações e relações sociais, é importante envolver os homens nessa conversa.
O primeiro passo é desmentir a falsa simetria de objetivos. Muitos homens ainda acreditam que feminismo é o contrário de machismo, por exemplo. O que deve ser sustentado aqui é que os movimentos organizados de mulheres buscam a igualdade, e não a superioridade. Queremos direitos, liberdades e oportunidades que nos coloquem em um mesmo patamar que nossos colegas de outro gênero.
O segundo passo é ressaltar que igualdade não é tratar todo mundo igual. Para que homens e mulheres estejam no mesmo patamar, é importante que nossos desafios específicos sejam reconhecidos e endereçados. Por exemplo, o assédio sexual é um problema que vitimiza mais mulheres do que homens e, por isso, pode demandar legislações próprias.
O terceiro passo é demonstrar o quão profunda é a desigualdade atual. Segundo a ONU, vai demorar cerca de 300 anos para alcançarmos a igualdade entre os gêneros. Há números chocantes sobre disparidade de salários, presença ínfima em posições de liderança e outras desigualdades. Os homens precisam ter um contato aprofundado com essas informações.
O quarto é explicar como a desigualdade de gênero afeta eles. E aqui está o pulo do gato. Devemos ajudá-los a entender que essa busca por igualdade e respeito às mulheres não é um favor e que todo mundo tem a ganhar com isso. Por exemplo, o estereótipo de que eles devem ser sempre os provedores é algo que faz muito mal aos homens.
O quinto é falar sobre a pluralidade das mulheres. Digo isso porque uma das formas de desumanizar um grupo é homogeneizá-lo. Nesse sentido, precisamos ressaltar que existem diferentes mulheres, que podem ser negras, trans ou com deficiência, e que todas elas merecem respeito.
O quinto é mostrar o quão fácil é se tornar um aliado da igualdade de gênero. Coisas simples como dividir tarefas domésticas, consumir livros e outros conteúdos de autoras mulheres e promover oportunidades justas no trabalho são só alguns dos exemplos possíveis.
Enfim, como eu disse no início do texto, não tenho todas as respostas, apenas algumas impressões. Modificar uma cultura e uma estrutura social consolidada ao longo de séculos não é algo que se faz da noite para o dia. Contudo, acredito que uma das estratégias possíveis, principalmente no meio corporativo, é adotar um tom não agressivo e até mesmo didático. Fazendo isso, podemos nos somar a outras vertentes de mulheres que buscam por um mundo mais justo e com mais equidade.
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