19 de junho de 2023 - 19h57
No primeiro dia de Festival de Cannes Lions 2023, o professor Felipe Thomaz, renomado especialista em marketing da Universidade de Oxford, trouxe reflexões profundas sobre a cadeia produtiva da publicidade. Suas palavras despertaram um senso de consciência ao ressaltar que, por si só, o setor não é sustentável, uma vez que, devido à sua própria natureza, estimula o consumo, muitas vezes desnecessário. Incentivar a sociedade a repensar o consumo também deve ser um propósito do setor na busca pela preservação do meio ambiente.
É a primeira vez que ouço essa temática sendo debatida no mercado publicitário, o que me chamou muita atenção. Visto que a diversidade e equidade já são sementes plantadas há alguns anos, e que hoje, estão florescendo. Há cada vez mais peças publicitárias que retratam a negritude, o empoderamento feminino, e a igualdade de gênero, de raça e/ou de religião. A publicidade já caminhou bastante nesse sentido, mas precisa avançar muito mais.
A pegada sustentável é uma tendência e se baseia em ideias sociais e ambientais, que buscam suprir as necessidades da atual geração sem comprometer o futuro. Com isso, a importância do “E” (Environmental) no conjunto de práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) ganha mais força no setor. O seu poder de influenciar mudanças de comportamento, agora, também deve impulsionar um modelo ainda mais consciente e responsável na perspectiva de carbono zero.
Quando se trata da indústria publicitária, o foco ainda recai majoritariamente nas campanhas físicas e nos resíduos gerados por elas. Por essa razão, é de extrema importância desconstruir essa ideia limitada e compreender que as ações digitais também impactam o meio ambiente, pois demandam uma transmissão elétrica que requer energia para manter os servidores na nuvem funcionando – isso significa que também são responsáveis pela geração de resíduos e emissão de carbono.
Além da criatividade, a publicidade tem a tecnologia a seu favor, que pode ser utilizada para viabilizar práticas em prol da saúde do planeta. A aplicação de inteligência artificial, por exemplo, permite uma segmentação mais precisa do público-alvo, resultando em campanhas mais direcionadas e reduzindo o desperdício de recursos. Além disso, a adoção de plataformas digitais e streaming também pode diminuir a necessidade de impressões físicas, poupando recursos naturais e reduzindo a pegada de carbono.
E os benefícios para as empresas adeptas a essa questão vão muito além da contribuição para o meio ambiente, já que, ao adotar práticas sustentáveis, ganham reputação, conquistando a confiança de seus clientes. Ao mesmo tempo, uma instituição reconhecida por sua sustentabilidade é atraente para novos mercados, que compartilham dos mesmos valores.
Paralelamente, é importante ressaltar a redução de riscos que as companhias conscientes enfrentam, uma vez que algumas matérias-primas se tornarão escassas no futuro e aquelas com recursos sustentáveis serão mais eficientes ao buscar fontes alternativas.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é o fato de que a população está cada vez mais consciente da importância de desejar produtos e serviços que demonstrem preocupação com o meio ambiente. Essa demanda cria uma pressão sobre os anunciantes. Assim como as pessoas estão atentas a essa questão, é papel das próprias empresas estarem um passo à frente, desenvolvendo produtos e serviços com foco na sustentabilidade.
É chegada a hora de ampliar a discussão sobre a consciência ambiental na publicidade e incluir o “E” do ESG como prioridade. É responsabilidade de todos os envolvidos na indústria repensarem suas práticas e buscar soluções que minimizem o impacto ambiental. Somente assim construiremos um futuro em que a publicidade e o desenvolvimento sustentável caminhem lado a lado, impulsionando uma mudança positiva em nossa sociedade e no nosso planeta.
A transição para uma publicidade consciente não pode ser alcançada apenas por meio de esforços isolados. É fundamental enfatizar a responsabilidade coletiva nesse processo. Agências, anunciantes, consumidores e demais atores envolvidos no setor devem reconhecer sua parcela de responsabilidade e se engajar ativamente na adoção de tais práticas
As agências e anunciantes têm o poder de influenciar a forma como as ações são concebidas e executadas, incorporando critérios de sustentabilidade desde o planejamento até a produção. Se a marca investir no carbono zero em todos os seus processos, ela ganhará ainda mais relevância em um mercado cada vez mais voraz por produtos e serviços verdes.
Por fim, somente por meio do esforço conjunto para a redução do carbono em todos os processos, conseguiremos alcançar uma transformação significativa na indústria da publicidade em direção a um modelo mais sustentável e responsável.
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