Creators e influencers redefinem cobertura olímpica

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Creators e influencers redefinem cobertura olímpica

Avanço da audiência das redes sociais e da fragmentação do consumo de conteúdo transforma a abordagem da mídia e abre espaço para novos olhares


23 de julho de 2024 - 6h39

Luana Maluf e Alê Xavier (Passa a Bola) estão no time olímpico do COB (Crédito: Divulgação)

Luana Maluf e Alê Xavier (Passa a Bola) estão no time olímpico do COB (Crédito: Divulgação)

Os canais oficiais do Comitê Olímpico Internacional (COI) nas mídias sociais alcançam 500 milhões de engajamento mensalmente — número que era de 60 milhões em junho de 2020. Somando as diferentes redes, o @Olympics tem 110 milhões de seguidores (sua base era de 70 milhões há quatro anos). Durante os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, realizados em 2021, em função da pandemia, as postagens do COI em plataformas como Facebook, Instagram, TikTok, Twitter e Weibo geraram mais de 3,7 bilhões de engajamento e a expectativa para Paris 2024 é de quebra de recorde.

O universo digital também tem espaço de destaque nos planos do Comitê Olímpico do Brasil (COB) para a Olimpíada. Ao lado da Play9 e do YouTube Brasil, realiza-rá o projeto Paris é Brasa. Por meio dessa iniciativa, os parceiros levarão para a ca-pital francesa um squad de influenciado-res que farão cobertura totalmente foca-da nas plataformas sociais. O projeto tem Banco do Brasil, Medley, Omo e Samsung como patrocinadores máster, e Azul e Wizard como patrocinadores customizados.

O squad terá acesso a espaços exclusivos como a Casa Brasil, instalada no Parc de la Villette, na zona norte da capital francesa, que receberá torcedores, exposições, festas e os medalhistas olímpicos brasileiros, e ao Chateau, uma das bases do Time Brasil em Paris. O local tem acesso exclusivo e restrito, e é onde o COB fornece aos atletas alimentação brasileira, encontro com familiares e amigos, além de área médica, fisiológica e de saúde mental. O Pod-pah, um dos principais canais que participarão da cobertura, terá estúdio na Casa Brasil para a produção de conteúdo diário.

A iniciativa tem como objetivo pulverizar o acesso à rotina olímpica, ultrapassando a bolha de quem está diretamente inserido no contexto esportivo. Por isso, COB, Play9 e YouTube priorizaram mon-tar um time com diversidade. O squad in-clui Fátima Bernardes, Igão e Mítico (Pod-pah), Matheus Costa e Seu Zé, Ellen Valias (Atleta de Peso), Alê Xavier e Luana Maluf (Passa a Bola), Valentina Bandeira, Daniel Braune, Fábio Cruz (Fabão), Lactea, João Ferdnan, Rafa Tuma, Paul Cabannes, Tino Marcos e Clayton Conservani.

Enquanto os influenciadores estiverem em Paris, o público poderá acompanhar aspectos como a proximidade com os torcedores e o ambiente local. “Fazemos questão de preservar e privilegiar a linguagem dos influenciadores. Cada um com a sua característica”, explica Gustavo Herbetta, diretor de marketing do COB.

Para isso, o YouTube será a plataforma oficial, apesar de haver uma construção multiplataforma. Cada criador produzirá conteúdo para o seu canal, com seu viés exclusivo. Enquanto isso, o Podpah terá uma programação diária voltada para comentar os acontecimentos do dia, trazendo Fátima Bernardes para apresentar as notícias.

“Poderemos oferecer um behind the scenes do Time Brasil, com visitas às bases, mostrando como é feita a comida, como é entregue o uniforme, os processos de cuidado com a saúde mental, entre outros aspectos. Eles terão acesso exclusivo a isso”, afirma Herbetta.

João Pedro Paes Leme, CEO e sócio-fundador da Play9, ressalta que a ideia é dar ao espectador a sensação de estar lá e vivenciar o ambiente de Paris. “Resolvemos fazer uma composição que misturasse jornalismo e entretenimento. Trouxemos influenciadores, nativos digitais e jornalistas. Teremos gente para informar, sempre respeitando os espaços. Será uma combinação de informação e emoção”, conta.

Corrida de influenciadores

Fátima Bernardes, Valentina Bandeira e Lactea aproveitaram a sua presença no esquenta olímpico, no canal Podpah, para anunciar a criação de uma corrida de influenciadores promovida pela Playnest, braço da Play9. O projeto realizará uma disputa baseada na análise de performance dos criadores de conteúdo, cadastrados na promoção, em suas contas no TikTok.

A iniciativa levará influenciadores para a capital francesa para acompanhar e criar conteúdo durante a cerimônia de encerramento dos jogos olímpicos. Os competidores serão avaliados em etapas que levam em consideração a produção de conteúdo voltada a três categorias: “Medalhito Impressionante”, que premia o participante com mais impressões somadas em todos os conteúdos postados; “Medalhito Engajado”, que premia o com a maior taxa de engajamento médio, somando todos os conteúdos postados; e “Medalhito Revelação”, que premia o influenciador com menos de cem mil seguidores que tiver mais impressões somadas em todos os conteúdos postados. Os três primeiros colocados irão à Paris.

Jornalismo e influência

Embora a cobertura esportiva realizada por influenciadores não seja uma novidade, tendo em vista projetos como o Nossa Seleça, parceria entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Arara feita para as edições da Copa do Mundo Fifa masculina (2022) e Copa do Mundo Fifa feminina (2023), o projeto olímpico ganha outra amplitude ao se aproximar diretamente dos atletas e bases do Time Brasil.

Um passo importante que pode ser dado durante essa cobertura é a definição dos papéis dos criadores de conteúdo em relação à cobertura jornalística tradicional realizada pelos veículos de imprensa, com ou sem direitos de transmissão — neste ano, Globo (TV aberta), SporTV (TV paga) e CazéTV (digital) exibirão os jogos.

Nesse caso, existe um mapeamento de onde cada um desses profissionais deve atuar na cobertura, levando em conta que o consumo de conteúdo fragmentado e, nem sempre, vem de um único meio. Isso faz com que o público se conecte com as informações e com os acontecimentos em diferentes camadas, sejam elas mais profundas, aqueles da bolha esportiva, ou mais soft, quem apenas quer interagir com a competição, mas não necessariamente está ligado ao assunto 100% do tempo.

“Quando pensamos no tipo de conteúdo, percebemos que precisam de gatilhos diferentes, já que recebemos muito mais informações o tempo todo. O papel do influenciador será criar comunidade, para acompanhar a maneira como engajamos com um assunto que hoje não está somente ligado à televisão”, avalia Ana Paula Passarelli, cofundadora e COO da Brunch.

Tais práticas fazem com que o criador de conteúdo trabalhe como parte do contexto de entretenimento, apresentando uma perspectiva social e esportiva diferente da que os jornalistas terão em sua grade, que é um espaço limitado por questões de tempo e espaço. Por isso, o projeto do COB foi voltado a ter a criação independente no centro dessa construção.

Do lado do jornalismo, o compromisso com a notícia e a credibilidade são os principais atributos que tangem a cobertura de um grande evento esportivo, como é o caso dos Jogos Olímpicos. Por isso, o Grupo Globo contará com 400 profissionais e 100 comentaristas contratados destinados para a cobertura olímpica.

Em sua grade, foram adicionados programas como Central Olímpica nas noites de segunda à sábado. Já no Sportv, o foco é o Ça Va Paris, que ganha uma edição diária. A emissora preparou, ainda, um estúdio especial nos Estúdios Globo, feito de LED, que exibirá uma cidade desenvolvida utilizando a mesma tecnologia dos games, com elementos em realidade aumentada, sistemas interativos e iluminação sincronizados.

“A cobertura jornalística já inovou bastante e começamos e ver entretenimento em algumas coberturas. Mas existe um acordo simbólico quando assistimos a um jornalista cobrindo as olimpíadas, esperamos algo dele, uma postura. Quando vamos para a influência, também existe esse contrato, já que não queremos que ele mude ou haja como jornalista”, comenta a cofundadora da Brunch.

No entanto, para Rafaela Lotto, sócia e head da Youpix, esse movimento já começa a gerar impacto na forma como os veículos tradicionais orientam a cobertura de qualquer grande evento, já que, no fim das contas, todos estão disputando a mesma atenção. “O influencer foi criando uma narrativa diferente. Eles estão vivendo a vida de uma pessoa que está indo presenciar um evento. Já vemos esses movimentos fazendo parte da mídia tradicional de repensar como eles transmitem os eventos, já há um relaxamento nessa cobertura”, analisa.

Por isso, do outro lado da cobertura, a CazéTV mantém a sua proposta híbrida trazendo informadores, como foi a Fernanda Gentil durante as transmissões das Copas, e comentaristas, com um squad preparado para falar sobre as modalidades, em paralelo com um time de criadores de diversas redes, como o TikTok, para viver o clima olímpico. Dentre outros profissionais, o canal tem Luccas Abreu, Tictoxica, Cheff Otto, Gabi Gagliassi, Lara Santana e Paloma Souza acompanhando as fases da competição.

Essa é uma representação de como o consumo pulverizado impacta na construção de conteúdo e de porque esses meios estão tão fragmentados. Uma pesquisa apresentada pelo head de esportes do YouTube no Brasil, Vitor Machado, sobre o consumo esportivo no ambiente digital, em maio deste ano, apontou que, principalmente após a última Copa do Mundo, os hábitos do brasileiro se expandiram.

Os dados coletados pela própria empresa revelaram que 80% dos brasileiros acreditam que o YouTube possibilita novas formas de consumir esporte e que, com isso, há uma facilidade de consumir conteúdo. Além disso, muitas pessoas as-sociam o consumo esportivo na internet ao sentimento de pertencimento, de-monstrando que 89% entendem que qual-quer um pode produzir conteúdo sobre seus esportes favoritos na plataforma.

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