Empresas não dão oportunidades de crescimento para PCDs, mostram estudos 

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Empresas não dão oportunidades de crescimento para PCDs, mostram estudos 

Pesquisas apontam que a maioria das pessoas com deficiência ocupam cargos de base e não têm plano de desenvolvimento de carreira. Mulheres são mais afetadas 


16 de outubro de 2023 - 13h56

(Crédito: mentalmind/Shutterstock)

Resultados da pesquisa “Cenário das Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho”, realizada pela consultoria Mais Diversidade, revelam que apenas 9% das pessoas com deficiência ocupam cargos de liderança, enquanto 53% dos trabalhadores desconhecem planos definidos para o desenvolvimento profissional desse grupo nas empresas em que atuam.  

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE de 2019, 8,4% da população brasileira tem alguma forma de deficiência, totalizando 17,2 milhões de pessoas. No entanto, apenas 34% das pessoas com deficiência não estão empregadas atualmente, em comparação com 16% das pessoas sem deficiência, de acordo com a pesquisa da Mais Diversidade. Já segundo o PNS 2019, a taxa de participação das pessoas com deficiências era de 28%, em comparação a 66% de pessoas sem deficiência. 

Além disso, o estudo revela que mais de 80% das pessoas com deficiência ocupam cargos de execução, suporte e base, indicando uma falta de representatividade em posições estratégicas nas organizações. 

Barreiras e prioridades

A pesquisa identificou as principais barreiras para a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, que incluem poucas oportunidades, foco exclusivo no cumprimento da cota, barreiras físicas ou arquitetônicas, desafios de comunicação, de acesso a transportes ou tecnologias e barreiras atitudinais (atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas). 

Quando questionadas sobre o que consideram importante em uma oportunidade de emprego, os entrevistados com deficiências destacaram a acessibilidade, a presença de um programa de inclusão estruturado e um plano de carreira específico como prioridades fundamentais. 

Desafios e oportunidades

A consultoria ressalta a importância de reconhecer as pessoas com deficiência como indivíduos, e não apenas como números para cumprir cotas. Ela ainda destaca medidas fundamentais para o mercado brasileiro avançar na inclusão de PCDs, como a oferta de oportunidades justas, salários adequados, incentivo à formação educacional e ao crescimento profissional.  

Em relação à cultura, o estudo pontua que a criação de ambientes de trabalho inclusivos e a superação das barreiras atitudinais são medidas essenciais para o avanço da agenda. 

A presença de programas de inclusão estruturados, que incluem planos de carreira, desenvolvimento de liderança, benefícios específicos e grupos de afinidade, mostrou-se crucial para a retenção de talentos com deficiência nas organizações.  

Segundo dados da pesquisa, quase dois terços das pessoas com deficiência que têm plano de desenvolvimento de carreira em suas empresas planejam permanecer na mesma organização nos próximos três anos, indicando a importância dessas iniciativas para a retenção de talentos e a redução do turnover deste público. 

Chamado à ação

O relatório encoraja que as empresas repensem seus processos de recrutamento e seleção, e que busquem talentos com deficiência para posições compatíveis com suas qualificações e experiências. Além disso, as organizações também devem fazer um maior esforço para criar ambientes de trabalho inclusivos e acessíveis em todos os níveis destacados. 

Outro ponto que precisa ser superado é a crença negativa sobre a capacidade das pessoas com deficiência. Ao enfrentar esses desafios, as empresas podem se adaptar às crescentes demandas do mercado, promovendo um futuro mais igualitário para todos os profissionais, principalmente PCDs. 

Recorte de gênero

Os dados também apontam para a necessidade de um olhar cuidadoso para os diferentes perfis de PCDs no mercado de trabalho. Especialistas como Liliane Rocha, CEO da Gestão Kairós e LinkedIn Top Voice, mencionam que, quanto mais interseccionalidade uma pessoa apresenta, maior é a opressão social que ela vive em sua rotina, sendo o trabalho um desses aspectos. 

As mulheres PCDs, por exemplo, recebem 34% a menos do que aquelas sem deficiência, de acordo com a “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2022”, voltada para pessoas com deficiência, conduzida pelo IBGE. 

O mesmo levantamento aponta ainda que, entre as quase 19 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, 10,7 milhões são mulheres, e isto representa 10% da população feminina do país. A maior fatia dos respondentes brasileiros que declaram ter alguma deficiência no Brasil é a feminina, pessoas autodeclaradas pretas e da região Nordeste do país. 

O estudo “Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial 2022”, desenvolvido pela consultoria de diversidade Gestão Kairós, traz outros dados relevantes sobre a exclusão das mulheres com deficiência no Brasil. Pelo levantamento feito com 26 mil profissionais, os PCDs representam apenas 2,7% dos funcionários das empresas onde trabalham. Ainda de acordo com a pesquisa, entre as pessoas com deficiência na liderança das companhias, apenas 0,6% são mulheres e, no quadro geral, somente 0,3%, porcentagem quase 4 vezes menor que a dos homens. 

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